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🌟▫️BRUNNA ▫️🌟

- Filha, abra essa porta! - Eu ignorei o pedido da minha mãe e continuei deitada sobre meus braços, fitando a janela fechada do meu quarto enquanto sentia minhas lágrimas molharem minha pele e parte do colchão.

Estava tudo acabado e Ludmilla era uma idiota.

Era uma idiota por ter feito eu me apaixonar por ela quando eu estava vivendo muito bem a minha vida odiando-a. Era uma idiota por ter me beijado naquela salinha de limpeza, por ter segurando a minha mão no cinema, por ter plantado uma cerejeira para mim. A imbecil teve a coragem de entrar no meu coração pouco a pouco para depois querer sair a força, quebrando tudo dentro de mim. A palhaça ainda tinha a ousadia de dizer que eu romantizava as coisas! Eu deveria ter acabado com ela quando pensei na possibilidade pela primeira vez aos treze anos. Eu já teria cumprido quase cinco anos de pena, mas não... eu só a xinguei, dei uns tapas e me apaixonei. Agora estava eu ali, destruída por causa daquela imbecil, que por mais que eu estivesse amaldiçoando com todas as minhas forças, sentia vontade de correr alguns metros até a casa vizinha e segurá-la junto a mim, por todo o tempo que ainda nos restava.

- Brunna, abra logo isso antes que eu arrombe a porta e a deixe de castigo para sempre! - Os baques fortes na madeira não eram suficientes para me fazer movimentar o corpo.

- Eu quero ficar sozinha, mãe! - Eu gritei, mas não tinha certeza se ela conseguiu ouvir porque o grito não passou de um grunhido embargado.

- Brunna Gonçalves Coelho, eu não estou de brincadeira, me obedeça!

Eu não podia nem sofrer em paz!

Limpando meu rosto da melhor maneira que podia, eu fui resmungando até a porta do quarto e a abri me deparando com minha mãe com a mão erguida prestes a bater na porta de novo. Sua expressão irritada se suavizou no mesmo instante que olhou para meu rosto. Ela não falou nada, apenas abriu os braços e eu me joguei.

Não sei por quando tempo eu passei aninhada em seu colo, sentindo a respiração de minha mãe contra minha cabeça que estava repousada em seus seios, com seus braços rodeando meu copo e seus dedos percorrendo meus cabelos. Pareceu uma eternidade em que ela permaneceu em silêncio, apenas ouvindo o meu choro e compartilhando do meu sofrimento sem nem saber do que se tratava.

- Ela vai morrer, mãe... - Eu murmurei sentindo um bolor se formar em minha garganta enquanto uma nova crise de choro se apossava de mim, seu abraço apertou mais ainda ao meu redor e eu me encolhi.

- Todos vamos morrer um dia, filha. - Ela beijou meus cabelos. - Não temos como saber quando irá acontecer. Sei que tudo isso parece o pior dos pesadelos, mas quer saber qual é a parte boa dos pesadelos? - Eu levantei a cabeça e me deparei com seus olhos, que pareciam abrigar toda a sabedoria do mundo.

- Qual? - Eu perguntei num fio de voz.

- A parte boa dos pesadelos, é que uma hora você acorda e tudo fica bem de novo. - Ela sussurrou para mim.

- Eu quero acordar agora. - Murmurei voltando a apoiar-me em seus seios.

- Todos queremos filha, mas ainda não é o momento certo para isso. Agora é o momento de nos apoiarmos e principalmente estar com Ludmilla. - Todo o episódio de horas atrás passou pela minha cabeça e eu voltei a chorar.

- Ela não quer estar comigo mãe, eu nem sei se ainda estamos namorando.

- Como assim? - Ela questionou e eu expliquei a ela quase tudo o que aconteceu, só não mencionei o fato da cirurgia porque não era mais cabível e minha mãe com certeza iria fazer um escândalo por causa daquilo. Ao final da explicação, o silêncio perdurou por alguns instantes no quarto antes de minha mãe suspirar e dizer:

- Ela só quer proteger você, filha. Ela está resignada com o suposto destino dela e quer te afastar de tudo isso.

- O que eu faço? - Na minha cabeça, todas as alternativas já haviam acabado.

- Mostre a ela que você está com ela. Faça-a perceber que você está lá para os momentos difíceis também, mesmo que ela não queira, ela precisa de você, de nós. Abrace-a mesmo quando ela te repelir. Diga que a ama mesmo quando ela disser que te odeia. Quando tudo isso acabar, vocês estarão juntas e o sentimento de vocês, mais forte. E eu estarei aqui para ajudar da melhor forma que eu puder.

Minha mãe tinha razão. Aquilo me fez ver que eu não podia ficar apenas chorando enquanto Ludmilla precisava de mim e eu iria ser forte por nós duas. O problema era dela se ela queria terminar comigo e dizer um monte de merda para mim. Eu não iria abandoná-la porque ela era uma estúpida. Ela não iria ser apenas a porra de uma lembrança.

Eu havia me apaixonado por uma idiota, palhaça, imbecil, babaca, otária, demônia, vândala, linda e eu não iria ficar amando sozinha enquanto a outra ficava sentada, ouvindo músicas depressivas enquanto aguardava a morte muito antes da hora.

- Obrigada, mamãe... - Eu me afastei de seu peito novamente e beijei seu rosto. - Eu vou lá conversar com aquela idiota, tudo bem? - Minha mãe sorriu sem mostrar os dentes e assentiu.

- Se você trancar a porta do seu quarto mais uma vez e ficar de birra, eu vou arrancá-la e você vai ficar sem, estamos entendidas? - Ela disse com tom grave e eu assenti antes de correr para fora do quarto. - Diga aos Oliveira que eu mandei um beijo! - Ela gritou quando eu já estava em frente ao espelho arrumando um pouco a minha cara horrorosa e inchada.

Assim que cheguei à casa dos Oliveira, soube que Ludmilla estava no quarto e não queria receber visitas, no caso, a minha visita, mas depois de explicar de modo resumido o que aconteceu, Silvana me deu a chave reserva do quarto de Ludmilla e eu subi, abrindo a porta sem ao menos bater.

Eu fiz muito bem, porque ela estava nua, recém saída do banho e pulou de susto quando fechei a porta atrás de mim.

- Brunna o que faz aq... – Eu marchei até ela e a interrompi colocando a mão sobre sua boca.

- Ouça bem o que eu vou te dizer, Oliveira! – Eu apontei o dedo no rosto dela. – Você me perturbou demais para me ter e agora que você tem, não vai jogar fora falando um monte de merda como você falou mais cedo, está me entendendo? – Seus olhos estavam arregalados e eu retirei a mão de sua boa para que ela pudesse responder.

- Brunna, eu estou nua e... – Eu a interrompi.

- E eu já vi tudo isso e até lambi, para de mudar de assunto e responda a minha pergunta! Você vai parar com as gracinhas?

- Você sabe que eu vou mor... – Eu interrompi a babaca de novo. Eu estava me sentindo forte naquele momento, forte a ponto de acertar um murro na cara dela se ela continuasse a falar aquelas merdas que eu queria esquecer.

- A única coisa que eu sei é que eu quero você mesmo que esteja toda fodida e quero estar com você enquanto eu puder. – Eu abrandei minha voz. – Eu aceito o presente ao seu lado, meu amor. Eu não quero mais tentar resolver tudo por conta própria, eu só quero estar com você. – Eu a abracei. – Por favor, só não me mande embora ou diga aquelas coisas horríveis porque eu não quero brigar com você por causa das suas idéias estúpidas, mas já que brigamos... – Eu sorri e sacudi as sobrancelhas. – Que tal aproveitarmos o fato de você estar nua para fazermos o nosso sexo de reconciliação? – Eu mordi o lábio inferior de forma sexy, sim, se eu estou falando que era sexy, é porque era e pronto. Ela riu e meneou a cabeça.

- Você não existe, sabia? – O alívio tomou conta de todo o meu corpo quando ela me abraçou de volta.

- Eu existo sim, quer ver? – Eu não lhe dei tempo de me responder.

Eu apenas a beijei.

Você me odeia enquanto eu te amo ✔👩‍❤️‍💋‍👨Onde histórias criam vida. Descubra agora