2.1 O Murmúrio da Ruína

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Houve um tempo em que a Ordem de Asfaron era definida por flores vermelhas.

Quando Asgalamuth andava sobre a terra e quando com ele os pássaros voavam, há 252 anos. Uma época que não havia nesgrath, quando não haviam caninos dourados, quando não havia nem mesmo uma capital ou uma Ordem dos mortais, uma Ordem dos homens.

E as histórias eram claras quando descreviam sobre o Guardião. O elemento colossal de corpo de madeira, sangue de seiva, olhos de pedra e asas de um milhão de folhas douradas. E eram ainda mais claras quando nos narravam que Asgalamuth, o senhor de uma antiga Asfaron; o guardião da maior das árvores da terra, Asrin; o detentor de mistérios surreais e portador da aura da vida natural de tudo e todos, teve um amargo fim pelas mãos do primeiro dos reis de Osrin, Farignion Lionir, há 252 anos.

Há 252 anos, Farignion instauraria a Ordem dos homens e, durante todos aqueles anos, a Antiga Ordem de Asgalamuth havia sido ignorada por nós. E, na verdade, desde que os caninos assumiram controle de nossas terras, de nossas caças e de nossas vidas, as suas lógicas sempre nos pareceram obscuras e distantes demais. Durante todo aquele tempo, sempre tinha sido mais simples aceitar a submissão do que a magia do destino. E realmente era mais simples aceitá-la do que crer que havia um único ser que era capaz de ditar quem nascia e quem morria.

Os pássaros de verdes olhos eram os mensageiros do Guardião e as flores vermelhas um sinal de seu poderio. E se os pássaros haviam tornado a voar com as flores, talvez fosse um frágil sinal que aquela Velha Ordem não havia de fato morrido.

E por mais sombria e cruel que nesgrath poderia ser, ela era a prova mais concreta e mais evidente que nos mostrava que Asgalamuth, o antigo Guardião, continuava vivo.

Que ele continuava com seu governo.

E que toda a história contada pela capital, que todo heroísmo do primeiro dos reis e que toda a justiça dos caninos eram, na verdade, uma imensa mentira.

Afinal, em Nebrin, os pássaros não voavam, mas quando o primeiro apareceu e com ele uma flor, nós soubemos que não só a atenção de um velho Guardião olhava para nós, mas, também, que todo o nosso destino era apenas um:

Resistir.

Resistir

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Os pés cobertos por resistentes botinas de couro afundaram numa poça de lama e neve, quando a elfa chegou no topo do morro central de Neftim.

A forte luz da lua bombardeava as costas de Burin, projetando uma sombra avassaladora naquele outro lado da fortaleza.

Ainda mais sombrio que aquela sombra, era o interior de seu capuz. E, de lá, de repente, a voz surgiu imediatamente:

-Abram a porta, por favor.

Ela segurava uma tocha na mão esquerda, e mesmo a sua luz, naquela noite, sendo praticamente inútil, por conta do forte brilho da lua, ainda assim revelava a sua vestimenta pesada contra o frio e iluminava um curioso baú que carregava embaixo do braço direito.

Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora