1.4 Uma Fagulha de Esperança PARTE 2

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-Venha, Gadrid. Deixe-me convidá-la à minha morada.

Gadrid estava assustada demais para ficar naquele lugar. Então, levantou-se. Os dedos ardiam por conta do contato com as chamas da tocha, mas a sensação de tê-lo feito era de conquista.

Impediu a sua morte. Defendeu-se do humano. E agora o próprio Anthurth estava à sua frente.

Com ele, ela teve uma silenciosa caminhada mato adentro.

Ela mancava e ele avançava com um cajado, sempre com aquelas raízes arrastando no chão. O pássaro no ombro olhava para todos os lados e ela teve a estranha impressão que toda vez que o mensageiro olhava para uma direção, Anthurth virava a cabeça para lá também.

Então, uma luz se fez ver onde a mata dava espaço a uma clareira.

Mesmo a distância, Gadrid podia ver a silhueta de Sali'r, a árvore de folhas laranjas. Alguns fragmentos de luz da mesma cor se despendiam vez ou outra da copa e, lentamente, flutuavam ao chão.

-Nunca achei que a veria tão de perto...

E Anthurth deu risada.

-Filha... Você ainda não viu nada!

Virou-se e, naquele rosto estranho, havia um projeto de sorriso.

-Sali'r tem muitos e muitos significados, elfa. Para uns, uma árvore. Para mim, morada, vida e, também... Magia.

Os passos que seguiram foram silenciosos. Reflexiva, Gadrid voltou a si quando percebeu que estava nos limites entre a mata e a clareira.

E, a não ser o fato de que abaixo da copa parecia que a neblina não circulava e que não havia neve no chão, Sali'r, no final, era apenas uma grande árvore.

-Você morou aqui por todo esse tempo?

-Não exatamente aqui, Gadrid. Sali'r é muito mais que apenas uma árvore como você deve estar pensando. Sali'r é também uma passagem para toda a Ordem das Flores.

O pássaro olhou para ela e, em seguida, Anthurth também.

-Aqui os pássaros nascem. Aqui as flores nascem... Deixe-me mostrar. Ou melhor - ele fez uma breve pausa, convidando-a a tornar à caminhada - Deixe-me mostrar o porquê a Velha Ordem é justa...

Eles estavam agora próximos ao gigantesco tronco. E havia uma fenda ali. Sem hesitar, Anthurth adentrou e, o acompanhando, Gadrid.

Durante alguns instantes, tudo o que Gadrid ouvia eram os próprios passos e a respiração ainda eufórica de todos os perigos e novidades que passou. Mas de todas as experiências da noite, aquela era sem dúvidas a mais esclarecedora.

Quanto mais andava, mais as coisas faziam sentido a si.

De repente, o gelo e a mata de Nebrin foram substituidos por campinas, vales e montanhas. Gadrid já não mais andava no interior de uma árvore, mas sim no topo de um grande morro verdejante.

Não havia neblina e, estendendo-se abaixo, ela podia ver uma cidade muito maior que toda Ondre e uma imensa fortificação de muros brancos em um morro vizinho.

Acima dela, as estrelas e a lua com o brilho esplendoroso.

-Aqui, há 252 anos, Gadrid, iniciaria a Ordem dos homens e tudo o que viria a seguir...

Então, ela percebeu que as luzes da fortaleza estavam acesas. Vozes vinham de lá e, da principal rua da cidade, à galope, homens de negro.

No instante seguinte, Gadrid e Anthurth estavam dentro do salão principal da fortaleza. Certamente, tratava-se de uma ceia importante.

Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora