-Venha, Gadrid. Deixe-me convidá-la à minha morada.
Gadrid estava assustada demais para ficar naquele lugar. Então, levantou-se. Os dedos ardiam por conta do contato com as chamas da tocha, mas a sensação de tê-lo feito era de conquista.
Impediu a sua morte. Defendeu-se do humano. E agora o próprio Anthurth estava à sua frente.
Com ele, ela teve uma silenciosa caminhada mato adentro.
Ela mancava e ele avançava com um cajado, sempre com aquelas raízes arrastando no chão. O pássaro no ombro olhava para todos os lados e ela teve a estranha impressão que toda vez que o mensageiro olhava para uma direção, Anthurth virava a cabeça para lá também.
Então, uma luz se fez ver onde a mata dava espaço a uma clareira.
Mesmo a distância, Gadrid podia ver a silhueta de Sali'r, a árvore de folhas laranjas. Alguns fragmentos de luz da mesma cor se despendiam vez ou outra da copa e, lentamente, flutuavam ao chão.
-Nunca achei que a veria tão de perto...
E Anthurth deu risada.
-Filha... Você ainda não viu nada!
Virou-se e, naquele rosto estranho, havia um projeto de sorriso.
-Sali'r tem muitos e muitos significados, elfa. Para uns, uma árvore. Para mim, morada, vida e, também... Magia.
Os passos que seguiram foram silenciosos. Reflexiva, Gadrid voltou a si quando percebeu que estava nos limites entre a mata e a clareira.
E, a não ser o fato de que abaixo da copa parecia que a neblina não circulava e que não havia neve no chão, Sali'r, no final, era apenas uma grande árvore.
-Você morou aqui por todo esse tempo?
-Não exatamente aqui, Gadrid. Sali'r é muito mais que apenas uma árvore como você deve estar pensando. Sali'r é também uma passagem para toda a Ordem das Flores.
O pássaro olhou para ela e, em seguida, Anthurth também.
-Aqui os pássaros nascem. Aqui as flores nascem... Deixe-me mostrar. Ou melhor - ele fez uma breve pausa, convidando-a a tornar à caminhada - Deixe-me mostrar o porquê a Velha Ordem é justa...
Eles estavam agora próximos ao gigantesco tronco. E havia uma fenda ali. Sem hesitar, Anthurth adentrou e, o acompanhando, Gadrid.
Durante alguns instantes, tudo o que Gadrid ouvia eram os próprios passos e a respiração ainda eufórica de todos os perigos e novidades que passou. Mas de todas as experiências da noite, aquela era sem dúvidas a mais esclarecedora.
Quanto mais andava, mais as coisas faziam sentido a si.
De repente, o gelo e a mata de Nebrin foram substituidos por campinas, vales e montanhas. Gadrid já não mais andava no interior de uma árvore, mas sim no topo de um grande morro verdejante.
Não havia neblina e, estendendo-se abaixo, ela podia ver uma cidade muito maior que toda Ondre e uma imensa fortificação de muros brancos em um morro vizinho.
Acima dela, as estrelas e a lua com o brilho esplendoroso.
-Aqui, há 252 anos, Gadrid, iniciaria a Ordem dos homens e tudo o que viria a seguir...
Então, ela percebeu que as luzes da fortaleza estavam acesas. Vozes vinham de lá e, da principal rua da cidade, à galope, homens de negro.
No instante seguinte, Gadrid e Anthurth estavam dentro do salão principal da fortaleza. Certamente, tratava-se de uma ceia importante.
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Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdade
FantasíaEu encontrei uma flor vermelha naquela manhã nevoenta. Flores vermelhas só voam junto aos pássaros. Mas em Nebrin, o Leste de Asfaron, os pássaros não voam. Em Asfaron, poucos têm qualquer liberdade. Eu apenas comecei a notar a nossa triste realidad...