1.3 O Último Afeto PARTE 2

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-Eles já voltaram? – Strogar Irandil perguntou à soldado que guardava a porta do salão do trono.

-Sim, senhor Irandil.

-Há pouco?

-Há pouco – ela respondeu por baixo do elmo. – Estern Irandil chegou primeiro, estava furiosa. Garuto Irandil, logo depois, estava com os olhos cheios de lágrimas.

-Entendo. Obrigado, Ogna.

Ele deixou a vigia com um aceno e adentrou o salão.

O lugar era esplêndido. Tratava-se de um grande e belíssimo espaço com os pisos de madeira tão lustrados que chegavam a refletir, como um espelho. A sala era extensa e quadrangular. Tanto no lado esquerdo, quanto no lado direito, algumas colunas seguiam até o limite oposto do lugar, estendiam-se para cima e, também, por conta do reflexo do piso, para baixo, dando uma impressão de infinitude.

Entre as pilastras, havia um tapete de um verde escuro, que tinha término em dois tronos no limite do lugar. Ambos do mesmo tamanho e mesma aparência, pertencendo ao senhor e à senhora de Drongauf.

Mas não era o trono que lhe chamava a atenção, mas sim o que estava entre eles. Na verdade, era o que estava na parede atrás deles. Havia quinze quadros pendurados lá. Quadros perfeitamente pintados de todos homens e mulheres que já haviam sido senhores ou senhoras de Drongauf. Havia quadros com só um homem, outros com só uma mulher, outros com apenas os precoces senhores ou senhoras que já se sentaram naqueles tronos. Percebeu, como as gerações mais próximas a si priorizavam a pintura em família. Observou o seu próprio retrato, ficava ao lado esquerdo do imenso mural, ao lado de um glorioso quadro de seu pai e sua mãe, abaixo do de seu avô e avó, em cima da imagem da bisavó, uma pequena menina, na época em que fora feito.

Em seu quadro, Strogar estava no centro, segurava um cajado de madeira, havia veias laranjas nele, ao lado esquerdo, sua mulher, Irina Anuro, com os cabelos encaracolados, a pele escura, e os olhos de um verde brilhante, ao lado dela, Estern e ao lado do pai, Garuto.

Era uma bela família.

Ainda podia sentir a alegria que fora conhecer Irina e, claro, podia se lembrar das dificuldades que fora se casar com uma pessoa de Reforth, o mais antigo reino de Docast.

Durante anos, os poderosos condes de Piuron, Iun e Frost foram contra o elo entre o leste e o oeste de Docast. Mas o amor era poderoso e nem a divisão da Pedreira E'trad foi capaz de separar os dois amantes. Para tal, um verdadeiro argumento político se desenhou na época. A união entre Reforth e Drongauf não era apenas benéfica ao antigo senhor de Suff, seu pai, por lhe conceder matéria prima, como animais e madeiras - já que homem algum era capaz de cortar as árvores de Suff, se não jovens galhos -, como era também uma singela expectativa de juntar os parentes distantes, os Irandil com os Anuro, novamente.

Outrora, antes de Osrin e da traição de Farignion, os Anuro, os Irandil e os Lionir faziam parte da mesma linhagem. Quando Irioniar Anuro e Farignion Anuro se casaram com suas esposas e tomaram posses de territórios próprios, ambos mudaram seus nomes para iniciarem um novo legado.

Dessa maneira, Irioniar Anuro se tornou em Irioniar Irandil e Farignion Anuro, em Farigniom Lionir. Naqueles tempos, os sobrenomes Irandil e Lionir eram também sinônimos de inimizade. Mas havia chances reais de o elo ser reestabelecido entre os Anuro, o primeiro sobrenome dos irmãos, e os Irandil.

De qualquer forma, fora simples convencer os condes de Suff, pelo simples fato de Anir Irandil, um imenso símbolo de heroísmo no leste de Docast, ter se abrigado em Reforth nos anos da traição dos Lionir.

O seguimento do casamento, por outro lado, fora um verdadeiro desafio. E tudo havia ficado ainda mais complexo com a descoberta da deficiência da primeira filha, Estern Irandil Anuro.

Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora