1.3 Uma Fagulha de Esperança PARTE 1

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-Acho que Cosmotri morrerá logo menos, Ahafh. - Disse Gadrid. - Talvez nessa mesma noite.

-Não vamos falar sobre isso aqui na praça, Gradid. Você nem ao menos deveria estar aqui...

-Não importa muita coisa hoje em dia. Me diga, orador. O que dizia a carta que você leu a Nasgri?

E ele balançou a cabeça. Sempre que havia uma reunião em Olun, era ele o último a ir embora. Naquela noite, para a sua surpresa, Gadrid havia aparecido.

-Muita coisa está mudando. Hoje, li que nesgrath está chegando. Li também que haverá guerra nos próximos dias e Eleo convocou os elfos para fazer reconhecimento daqui a três luas. - Ele fez uma pausa. - Não acho que Cosmotri morrerá hoje, Gadrid. Eu acho que ele será enviado ao Norte.

-Uma guerra que não é nossa...

-Mas uma oportunidade de mudarmos a história! - Ele completou. - Sabe, foi aqui, neste mesmo lugar, sineira, que pela primeira vez os pássaros de Ondre voaram. Foi aqui que as flores vermelhas caíram pela primeira vez.

-De novo essa história?

-Escute, a carta que li de Cosmotri dizia que em breve Ondre passaria a ser conquistada mais uma vez por nós, elfos. E, hoje, vi que a flor de Eleo murchava.

Gradid ficou tensa. Um misto de sentimentos florescia em si.

-A última vez que Anthurth apareceu foi nessa praça também, Gadrid. Embora fosse uma criança, você estava presente. Você se lembra de sua promessa?

-Ele prometeu que a Velha Ordem retornaria. Prometeu que um dia as coisas mudariam. Prometeu que Asgalamuth voltaria a viver. Mas nada disso jamais aconteceu, Ahafh...

-Não aconteceu ainda, Gadrid.

Ele piscou, colocou a mão no ombro de Gadrid e concluiu antes de começar a caminhar:

-Prometa que não vai demorar por aqui. Sabe-se lá o que podem fazer se te pegarem perambulando por aí.

Ela acenou e o viu indo embora.

"A flor de Eleo está morrendo", ela pensava.

Apanhou, então, a tocha da primeira das pilastras e abafou a chama no chão.

"Em breve, Ondre será nossa", continuou pensando.

Levantou-se em seguida e seus olhos encararam os dois tronos solitários nos limites da praça.

"Em breve, faremos... Justiça?", veio em sua mente.

Nem mesmo Ahafh poderia saber, mas, costumeiramente, Gadrid ia à praça apagar as tochas. Não era uma obrigação sua, claro. Mas apagar e recolher as tochas das pilastras de Olun significava também menos trabalho aos humanos e, por isso, ninguém jamais a repreendeu.

E pilastra após pilastra, a sineira apanhava os cabos e abafava as chamas no chão, para, então, se levantar e repetir todo o processo de novo e de novo.

Aquele era também um bom momento de organizar os pensamentos, que, utlimamente, eram caóticos e confusos.

Ela pensava em Cosmotri e no orador, pensava nos elfos do galpão e em si própria, mas, por algum motivo, ela não conseguia tirar a história de Ahafh sobre o profeta da cabeça.

E, naquele momento, por algum motivo, a elfa, assim como muitos humanos, realmente se questionava sobre Anthurth.

Gadrid Iernel estava agora com 200 anos. Uma idade avançada para uma raça que raramente chegava até os 250 anos. Uma idade ainda mais avançada para uma elfa que vivia em Ondre. Os olhos eram cinzentos, assim como os cabelos que mesmo na juventude sempre foram claros. Durante anos, ela o cortava na altura dos ombros, naqueles últimos tempos, no entanto, ele lhe escorria pelas costas. Era magra, cadavérica, de forma que as maçãs do rosto, ossudas, se destacavam, embora possuísse uma chamativa cicatriz no lado esquerdo do lábio. As orelhas pontiagudas não mais ficavam eretas, mas elas eram ocultadas pela cabeleira, assim como todo o corpo sempre trajado com o manto sujo e escuro, acompanhado pelo capuz em farrapos.

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