2.4 O Estopim da Nova Era

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Um assobio agudo cortou os silenciosos vales e morros de Ielebre, o Oeste de Asfaron, quando as negras asas deixaram de tremeluzir.

Um imenso morro observou atentamente o inesperado visitante, enquanto algumas penas obscuras dançavam ao prata luar.

Durante um bom momento, tudo o que persistiu fora o seu interminável assobio. Naquele lugar, não havia sequer uma única outra alma que pudesse responder ao seu som.

Não ali.

Por baixo do capuz, dois olhos brilharam como duas esferas esbranquiçadas, e deixou-se a deliciar o gélido ar da noite. Estendeu um dos braços, que em seu negrume descomunal, dava a impressão de que o membro se descolava do próprio corpo. Estendeu os dedos estranhamente alongados e puxou o pano do capuz para trás. Uns fios ralos e raros numa cabeça ovalada e deformada acompanharam o vento de Ielebre. Ele afrouxou um sorriso.

O sorriso se alargou grotescamente naquele plano obscuro que era seu rosto.

Ele estava satisfeito.

Tudo o que ele, Logh, e os seus outros três irmãos traçavam durante longos anos passava a surtir efeito.

E o efeito era grandioso.

As consequências da traição de Farignion Lionir ao irmão, Irioniar Irandil, assim como a derrubada de Asgalamuth eram no mínimo lindas.

Ele ainda podia se lembrar daquela noite há 252 anos. Era fácil controlar a mente de um mortal. Mas eles jamais haviam tentato com a mente de um ser eterno como era Asgalamuth.

Claro, que nem tudo foi possível de se fazer naquela noite. E o plano se arrastou durante todo aquele tempo.

Naquele momento, eles planejavam dar o próximo passo para que, finalmente, não houvesse mais Asgalamuth e tão pouco flores vermelhas.

Era tudo uma questão de manipulação.

Longe dali, no Leste, sobretudo, o mais jovem dos ialubres, Gondral, estava prestes a conversar com o lorde de Neftim. E Logh estava ansioso para ver a abordagem do irmão. Durante anos intermináveis, eles não manipulavam as pessoas do Leste.

Ele queria saber o que ocorreria.

A distância não era um problema aos ialubres. Embora estivessem em corpos diferentes, os seus pensamentos podiam ser apenas um. Logh fechou os olhos, aguardou um instante. Abriu novamente. E pronto.

Contemplou aos próprios olhos por trás das névoas do Leste a figura de Dorian Ignil olhando para cima. Gondral pousou em seguida ao lado de uma das raízes de Asrin. Os nebrianos a chamavam de Asfur.

O elfo o questionava sobre qualquer coisa e Gondral o respondia prontamente.

Aquilo seria interessante de certo.

Com a ânsia de participar também da coisa toda, Logh falou, sabendo que apenas Gondral o entenderia, pois tudo o que Ignil compreenderia não se passaria de apenas um assobio:

-Irmão, não conte tudo de uma só vez! Ele preci... - E ele parou de falar no mesmo instante em que notou o que ele segurava em uma das mãos. - Oh! Mas vejam só... Se eles não guardaram o osso de dragão...

Gondral continuou interagindo com o outro. Aos olhos do irmão, Logh não conseguia tirar a atenção daquela adaga de corv. Certamente, aquele presente de Gondral a Invarm, há 161 anos, era definitivamente o objeto mais valioso do que todas as riquezas do Leste juntas.

Talvez mais valiosa que até mesmo todos os ouros de todos os quartéis de Nebrin!

Irracionalmente, uma tímida obsessão tomou conta de si. Logh ansiava pelo corv como um faminto ansiava por comida - e ele não sabia de onde vinha o desejo, mas, naquele momento, as mãos foram de encontro à própria nuca.

Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora