1.4 A Guerra Traja Dourado

17 2 0
                                    

O capitão Frausvel Conel caminhava pacientemente entre as casas e campos abandonados do condado de Piuron.

Conel gostava de sentir a brisa da noite lhe tocar o rosto quando estava prestes a entrar em uma batalha. Por isso, seu elmo ia com sua escudeira, e braço direito para absolutamente todas as ocasiões, não muito distante de si.

Ele sempre foi um elfo valente de espírito vitorioso. Mesmo entre seus seis irmãos, Frausvel certamente era o mais forte e habilidoso em combate. No entanto, nos últimos tempos, o formidável capitão passava a sentir o princípio de uma cruel dúvida: ele passava a pensar em qual poderia ser sua última batalha.

Um dia havia sido um enérgico elfo do sul de Nebrin, mas a idade chegava e ele sentia cada vez mais o peso da armadura e da espada.

Por isso, a mínima sensação que poderia ter antes de um confronto, ele faria questão de ter.

Se tinha algo de que o capitão do batalhão especial de Osrin detestava era a ideia de morrer em uma das coisas em que mais dominava: guerras.

Sua mente ainda estava um pouco abalada desde a sua última batalha e o que havia ocorrido por lá. E ele sabia que aqueles acontecimentos afetavam até mesmo o seu batalhão. Enquanto venciam a imperiosa Suff, passo após passo, as roxas areias do deserto de Baangree não lhe saíam da mente.

Naquela noite, há 49 dias, tudo havia acontecido muito rápido. A ideia de controlar um motim era basicamente uma das mais corriqueiras tarefas de seu batalhão especial. E a estratégia estava prontamente formulada. Ele sabia que os revoltados eram apenas escravos fracos, fadigados e esfomeados, que trabalhavam em Kangri'gur, um lugar que era capaz de reduzir o mais forte dos homens a um simples vazio existencial. Por isso, a rebelião seria simplesmente vencida pela força bruta.

Já havia lidado com muita gente assim, em muitos lugares da capital. Estava acostumado com as revoltas. Mas, naquela noite, naquela noite de lua clara, muito semelhante aquela em que estavam, algo estranho pairava no ar.

E quando os berros do massacre se confundiram com os rugidos do gigantesco maquinário de metal, e Kangri'gur vomitara suas terríveis baforadas de chamas e fuligem, Frausvel se sentiu quase tão fraco e imponente quanto os próprios escravos.

Ele sabia mil e uma táticas para esquivar daquele desajeitado golpe de espada que um elfo havia investido. Poderia simplesmente pular ao lado. Poderia simplesmente recuar. Poderia simplesmente se defender com um contra-golpe decisivo.

Mas ele não conseguiu. E quando se lembrou da espada lhe cortando o peito e dividindo a árvore simbólica de sua armadura, ele mesmo colocou as mãos ali.

Ainda doía.

Afinal, nem cinquenta dias haviam se passado desde a primeira vez em que fora ferido em batalha. E, embora a rebelião tivesse sido contida, não havia orgulho algum.

Nquele momento, tudo o que Frausvel desejava era resolver todos os problemas do Norte de Docast naquela mesma noite. Em simplesmente em uma única noite. Aquela seria a sua redenção.

A mata fechada já não mais os importunavam tanto. O cenário que se desenhava ao seu redor era de extrema desolação. Frausvel sabia bem, quando olhava para aquelas casas vazias e aqueles equipamentos do campo abandonados, que tudo fora deixado às pressas, talvez, até mesmo, há poucas horas.

E quando o som de água corrente se misturou ao rosnado dos insaciáveis iungh's, ele sabia que deveria dar a ordem de caça. Se houvesse realmente fugitivos recentes e se eles chegassem às margens de Duroth, Conel amargaria em saber que suas montarias não seriam capazes de pegá-los. Duroth era o mais furioso rio de toda Asfaron, a potência de suas águas poderia ser mortal a nado, mas definitivamente era um ótimo ponto de fuga.

Flores Vermelhas - Sob as asas da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora