Jack Trevoso - Trauma do Passado

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Jack On

A noite estava mais fria que o normal, corri até a casa de ferramentas no quintal pedindo mentalmente que ele não me alcançasse.

Minhas pernas era curtas demais para chegar mais rápido até a casinha de madeira velha. A neve quase me fazia cair, mas eu não podia, ele ia me pegar!

Respirei forte com meus pulmões latejando, ouvi uma porta dos fundos sendo fechada com força. Me apressei. Eu consegui ouvir a voz falha de Bob. Me joguei contra a porta de madeira velha adentrando o pequeno local. Fechei rapidamente tratando de trancar todos os ferrolhos. Procurei algo pesado para impedir a porta de abrir se as trancas não fossem suficientes.
Empurrei a poltrona velha, meus braços doíam e meu corpo parecia querer virar pó.

Ouvi passos pesados se atrapalhando na neve. Me sentei no cantinho da parede olhando para o lado de fora pela fresta da madeira.

— "ONDE ESTÁ VOCÊ SEU MOLEQUE MALDITO?! EU VOU MATAR VOCÊ!". Bob tinha a voz rouca de uma maneira arrepiante.

Meu corpo começou a tremer e as lágrimas a cair. O homem que devia me tratar como filho estava lá fora dizendo que iria me matar. Mas ele não era meu pai biológico e sempre deixou claro, apesar de minha mãe dizer que era da boca pra fora. Eu pedi mil vezes para irmos embora, para saímos dessa casa, mas ela sempre tinha a mesma desculpa. "Ele vai mudar".

Aquele maldito nunca mudou. A imagem do corpo dela se contorcendo no chão com a boca ensaguentada vinha como fleches seguidos em minha mente. O baque alto na porta de madeira me fez tremer mais ainda.

— "EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ SEU MALDITO PIRRALHO! VOCÊ VAI SE ARREPENDER DE SE METER COMIGO!". Outro baque forte soou. Acho que as trancas e a poltrona não serão suficientes para impedi-lo de entrar.

O frio estava cada vez mais forte. Meus olhos ardiam. Será se ela está bem? Será se já levantou do chão?. Eu só pedia que ela estivesse bem.

Quando vi Bob desferindo um tapa forte em minha mãe, fazendo com que ela caísse no chão, não pensei racionalmente, só peguei a primeira coisa que vi. Uma garrafa de cerveja. E joguei na cabeça do mesmo. A garrafa pegou em cheio, mas não o suficiente para mata-lo. Erro fatal, ele veio atrás de mim para me punir pelo ato.

A sensação de claustrofobia nasceu. Meus pulmões não funcionavam. Não consegui respirar.

As batidas na porta ficaram cada vez mais fortes. Coloquei as mãos no pescoço. O ar não entrava e nem saía. Tentei me forçar a respirar, mas não adiantou.

A porta quebrou com um baque, observei a poltrona sendo afastada aos poucos para fora do caminho. Botas sujas de sangue surgiram. Olhei para cima. Bob tinha sangue no rosto e na camisa amarela surrada. O sangramento em sua cabeça ainda não tinha parado. As gotinhas do líquido carmesim caiam sobre o chão.

— "Eu te encontrei seu peste… ". O sorriso psicótico no rosto de Bob fez meu corpo voltar a funcionar. Era o meu fim. Ele levantou a garrafa quebrada que escondia atrás de suas costas.

— "Não! Por favor!". As lágrimas saíram com força de meus olhos. Pensa!.

Observei a chave de fenda ao meu lado. Peguei rapidamente e joguei em direção a Bob. Ele desviou pondo os braços na frente. Levantei rápido passando por entre suas pernas e correndo para fora.

— "VOLTA AQUI MOLEQUE MALDITO! EU VOU ESTRAÇALHAR SUA CARA". A neve dificultou mais ainda minha corrida. Olhei para trás vendo Bob me seguir. Virei a esquina para a frente da casa batendo em algo sólido. Minha cabeça doeu enquanto caí de bunda no chão.

Olhei para cima vendo o homem fardado com um olhar contido. Bob apareceu logo depois.

— "ACHEI VOCÊ!". Bob de repente ficou pálido. E eu sabia o porquê. Minha mãe saiu de dentro de casa devagar. Seu rosto estava machucado com um filete de sangue saindo de sua boca. Seus olhos foram para Bob.

— "É ele! Por favor, policial tire esse monstro daqui!". Minha mãe falou e em seguida correu para mim. Seu corpo estava tão frio quanto o meu.

Outros dois policiais apareceram saindo de dentro da casa e trataram de correr até Bob o imobilizando.

— "Me perdoe querido, perdão". Minha mãe disse ainda me abraçando, sua voz falha revelava que estava chorando.

A sensação de pânico aos poucos foi diminuindo, mas aquele incidente seria impossível de esquecer. Depois daquele dia, nunca mais vimos Bob.

Nós mudamos para uma nova casa, e começamos uma vida "nova". Mas eu ainda tinha pesadelos. Eles não foram embora.

******

Observei o sol nascer por entre os prédios enquanto tragava levemente um cigarro. Eu não costumo fumar, mas hoje... Bom foi um dia ruim, ainda bem que tem a noite pra amenizar, o delivery é o meu refúgio...

___(´⊙ω⊙')___

Ois mores, trouxe um pouquinho da infância complicada do Jack pra vocês. Ando com um pouco de bloqueio, Sorry.
Mas estou me esforçando pra dar o meu melhor na hora de escrever os capítulos.

Bjsss, Wine.

Delivery ManOnde histórias criam vida. Descubra agora