Lótus Hage

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Lótus On

— “Lótus acorde!”. A voz ríspida feminina me faz levantar rapidamente do pequeno colchão surrado.

— “O que ouve?”. Pergunto a minha mãe com uma expressão confusa.

— “Precisamos ir embora daqui agora, vamos!”. Sou puxada rapidamente pelo pulso até a pequena cozinha do local.

— “Mamãe porque vamos embora?”. Não entendia o que estava acontecendo.

— “Alguém quer nos pegar por eu estar devendo uma porcaria dinheiro”. Ela diz expelindo a fumaça de seu cigarro pelo nariz.

Eu odiava aquele fedor, jamais me acostumei, mesmo após anos. Eu sabia que minha mãe não era como as outras mães, e aprendi um pouco mais tarde o que ela era, uma pessoa “dependente química”, em palavras mais bruscas “drogada” era o termo, mas o que uma garota de 9 anos podia fazer? Nada.

Descíamos pelas escadas sujas do prédio com rapidez. Minha mãe olhava para todos os lados como se esperasse que alguém fosse aparecer ou indagar-nos a qualquer momento.

Após fugirmos de lá, ficamos na rua. Minhas roupas eram sujas e fedidas, meus cabelos estavam em nós, e ver os restaurantes cheios, com o cheiro de comida quentinha se esvaindo, era uma tortura para alguém como eu, que não se atrevia a pedir por medo de me enxotarem como da última vez.

Minhas mãe? Bom, ela parecia em uma espécie de transe nos dois primeiro dias, e logo após transtornada por não ter nada para fumar. Enquanto eu morria de fome ficando cada vez mais fraca, ela estava perdida em sua abstinência por drogas.

A noite estava fria ao ponto de doer os ossos. O pequeno lençol não era suficiente, o som de vozes me acordou, era minha mãe conversando com uma mulher. A mulher tinha cabelos negros e um olhar suave, os lábios cheios pintados em vermelho. Segurava uma bolsa cor-de-rosa repleta de correntinhas prateadas. Não estava atenta ao que conversavam, mas logo a mulher tratou de olhar para mim, e em seguida voltou o olhar a minha mãe.

— “E então vai aceitar minha ajuda?”. Sua voz era calma.

— “Não! Só a leve, por favor”. Minha mãe disse sem me olhar. Eu não conseguia compreender, de quem estavam falando?.

A mulher então se aproximou de mim, com uma expressão maternal.

— “Olá meu bem, você está com fome?”. Acenei levemente e em seguida olhei para minha mãe, a mesma não me olhava um segundo sequer. — “Então que tal irmos para minha casa? Lá terá muitas coisas gostosas para você comer”. Ela disse enquanto eu acenava levemente, louca por uma refeição.

Naquela noite pedi que minha mãe fosse comigo, mas ela disse não, falou que não me queria, que nunca me quis, que eu era um erro, e então pediu que a mulher me levasse. Nem ao menos se despediu de mim, só se virou dando-me as costas. Naquela noite, perdi uma mãe e ganhei outra.

Elisa Hage, a mulher que me adotou, e me criou com todo amor e carinho, junto aseu marido, Terry Hage. Os dois viraram minha família, meus novos pais. Depois de anos, tentei procurar minha mãe biológica, mas sem sucesso. Ninguém conhecia nenhuma Amanda Taylor.

******

Retiro outra fatia de pizza da caixa enquanto observo as luzes cintilantes da cidade. Levo aos lábios o vinho delicioso comprado na esquina próxima a minha casa. Minha vida não tinha sido fácil, mas eu tive sorte de Elisa e Terry aparecerem na minha vida. Mas a ferida da criança rejeitada por sua mãe, continuava firme em mim, se tornando o meu maior pesadelo. A rejeição

Delivery ManOnde histórias criam vida. Descubra agora