Overdose

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não sei quanto tempo estou sem ela, na verdade não sei quanto tempo estou aqui dentro desse quarto. estou fedendo e minha bexiga está estourando mas eu não vou me mover. minha vida tem sido isso, eu me arrasto até o banheiro, faço xixi e volto para o quarto. só como salgadinhos o dia inteiro e chuto que minha perspectiva de vida dever ser o que? três dias? diria até que isso é muito

eu vejo o sol se pondo e repondo aqui da minha cama, as vezes minha vem conferir como estou e quando ela tanta arrumar meu quarto entramos em uma longa discussão sobre privacidade mas na verdade eu só peço pra que ela não mude as coisas da última vez que ela esteve aqui. sim, ela. eu não falo mais seu nome, como se fosse um fantasma ela vive em minha cabeça e sonhos mas eu reprimo qualquer memória feliz que tivemos

quando se tem depressão você entra em um universo paralelo dentro de sua cabeça que você nem sabe ao certo se um dia foi feliz ou até mesmo triste, é só um grande e profundo vazio. você chora de noite e as vezes nem lembra o motivo mas você tá lá chorando. eu evito tocar naquele maldito gravador ou nas nossas roupas sujas e molhadas que agora já se secaram e fedem

não sei que horas, na verdade eu nunca sei que horas são porque sinceramente eu não me importo mais. eu só vejo a escuridão invadido meu quarto ou um raio de luz e vejo as nuvens chegando trazendo ou chuva ou só mudando o clima. eu não troco de roupa a tanto tempo que me sinto nua e agora estou com um notebook em cima da minha barriga que minha mãe trouxe pra me entreter vendo alguma série idiota olhando pra tela enquanto entra um pouco de luz pelo quarto

Vitão, Elana, Thay e Jão as vezes vem me visitar como se eu estivesse internada em um hospital e por alguns segundos eu consigo tirar ela da minha cabeça enquanto estou com eles mas já faz algum tempo que ninguém vem. comecei a me drogar com frequência e virou um certo vicio esmagar algum remédio e cheirar ou algum pra ficar dopada a noite, isso é o que me mantém por mais deplorável que seja

escuto algumas batidas na porta e nem me dou o trabalho de responder, pego o notebook e coloco ao lado da cama, me viro e me cubro até os ombros ficando de lado quando minha mãe abre a porta colocando só a cabeça pra dentro olhando todo quarto

-você tem visita

-É Vião?

-Não

-Elana?

-Não

-Thay?

-Não

-Arthur?

-Dayane!

-Então não quero saber

minha mãe bufou e fechou a porta, meu celular começou a tocar e já faz um bom tempo que eu não pego ele. fiquei ali parada olhando pra parede quando a porta é aberta novamente de torta brusca e é fechada forte

-Mãe eu já fal-

-Não é sua mãe

me destapei e me sentei na cama encostando as costas na cabeceira encarando um pouco sem graça a menina na minha frente por conta do estado do meu quarto

-O que tá fazendo aqui?

ela caminhou em passos lentos até minha cama olhando todo meu quarto e quando se aproximou cheirou o ar e falou com o rosto torto

-Esse fedor é você?

-Você veio aqui pra me chamar de fedida? É melhor ir embora

-Day olha... eu só vim fazer uma proposta

era Okuno pra não matar vocês de curiosidade, minha vontade era de empurrar ela da minha cama e arrastar ela pra fora do meu quarto mas eu estava sem forças então só respirei fundo e falei

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