cap.4

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Corro o mais rápido que eu posso, minhas lagrimas ainda estão contidas, correr e encher meus pulmões de ar me acalma por alguns segundos, até eu parar em uma parte isolada do castelo que fica exposta ao vento, por ter uma sacada virada para a floresta, sinto meu estômago pesar e minha visão turva, vou até a beira e vomito todo meu desjejum, me sinto cansada, aliviada, estressada e apavorada, tudo no mesmo minuto

Até ouvir soluços que não eram os meus...

- Simas? está tudo bem? - solto minha adaga em um canto escuro para que ele não a veja, ele balança a cabeça em negação - quer conversar? - questiono baixo sem olhar nos olhos dele para não o constranger

Simas estava sentado no chão em uma canto escuro, tão abalado quanto eu

Ouvir era o melhor jeito de me acalmar, afinal o que poderia me dar mais paz do que ajudar? já que eu não tenho ajuda ou solução, só me resta ajudar os outros

- p-porque está aq-aqui? - ele pergunta baixo e limpando as lágrimas, nós dois pareciamos estar paralisados pelo medo, sem conseguir pensar ou dizer, apenas existindo

- posso te perguntar o mesmo... - digo tentando respirar fundo para tirar a sensação da angustia dentro do meu peito

- eu estraguei tudo - ele diz abraçando os próprios joelhos e chorando baixo, todos estavam acabados por dentro, destruídos e desgastados, me dói pensar que todos nós escolheriamos a morte ao invés da vida

Susurro um 'eu também' fraco tentando ainda conter minhas lagrimas, farpas e arames em volta da minha garganta, sufocada com ar de sobra

- eu tentei... uma co-coisa - ele diz envergonhado enquanto eu fico atenta ao que ele vai dizer - não sou como você... ou melhor... sou como você - ele se corrige e me deixa mais confusa do que já estava, minha cabeça ja estava girando, ele precisaria ser mais específico

- como assim? - digo me sentando mais perto dele e coloco a minha mão em cima do joelho dele em uma esperança de conforta-lo a dizer

- eu gosto d... - ele para e levanta a cabeça e olha para mim que tentava compreender sem ele dizer - do D-Dino - ele diz hesitante e envergonhado, ficando em silêncio esperando uma reação minha

Parei para raciocinar, e que loucura, nos últimos 15 minutos, eu violei toda minha dignidade, e agora estou ouvindo um garoto que mal conheço se declarar por outro garoto que apenas vi, o que me trás confiança de que algo tem que ter um fim, abri várias janelas da minha vida, e não fechei nenhuma, sem contar que não posso dormir e relaxar pois tenho que estar as duas da manhã na torre do relógio

- você disse a ele? - questiono e volto ao momento tenso em que eu me encontrava, agora que eu perguntei, terei de ouvir

- disse... e ele está me evitando - ele diz controlando as lágrimas e o inchaço dos olhos, ele segurou esse fato por muito tempo, e agora quando ele tomou uma dose de coragem, não deu em uma das melhores situações

As vezes esquecemos que quando falamos "é tudo ou nada" pode dar tudo errado, afinal a vida não é um filme onde o bem sempre vence, e como temos certeza de qual lado é o bem ou o mal? definir um lado luz ou trevas só mostra o quão fantasioso é essa ideia

- não posso te ajudar... eu sinto muito, ele era seu melhor amigo? - pergunto e ele parece soltar um riso nasalado lembrando de algo engraçado

- sim... ele era - ficamos em um silêncio súbito, até que ele começa a me contar sobre o Dino, que pelas palavras de Simas era um garoto incrível, por alguns minutos nós dois esquecemos dos nossos problemas e contamos sobre nós mesmos, Simas era um cara legal, bastante alegre, mas não o vi em um dos seus melhores momentos

Incapaz - Tom RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora