Treze

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Entrei em meu quarto assim que chegamos em casa. Já era 19h, já estava escurecendo. Sem olhar para meus pais, subi correndo para meu quarto com algumas lágrimas. Nunca me senti tão mal como hoje.
Traco a porta, me sento na cama e pego meu celular já ligando para Eren. Não demorou nem três segundos.

"Levi? Você está bem?"

- Estou...

"Meu pai fez alguma coisa com você depois que sai?"

- Não, está tudo bem.... Ou não.

"Como assim?"

- Eu ouvi meu pai dizendo para o seu, que amanhã eles me levaram para o hospital novamente e iram ejectar algo em minha. Algo que causará o aborto.

"O que?! Que desgraçados! Com todo o respeito, seu pai é um filho da puta!"

- De certa forma eu concordo ... - paro de falar por alguns minutos, rastejo da cama para o chão. Apoio meu queixo nos meus joelhos. - O que a gente vai fazer Eren?

"Fugir."

- Fugir? - quase gritei, minha mãe com certeza vai querer saber com quem estou falando, e meu pai vai ficar furioso se souber que tenho contato com Eren. - Fugir para onde? E como? Não temos dinheiro para isso.

"Nós pensamos em dinheiro depois.... Vamos fugir está noite, vamos para a casa do Armin que é mais perto e amanhã saímos da cidade.... Se continuarmos aqui, vão abortar o bebê e iram nos separar."

- Eu sei.... Mas.... Eu.... 

"Eu entendo como você está sentindo. Mas é o melhor para nós dois.... Para nós três." - dou um sorriso de lado ao ouvir a última parte. "Vamos quando for três da manhã, assim temos certeza que ninguém está acordado. Você está dentro?"

- ..... Sim, vamos fugir.... 

"Ótimo, eu preciso desligar. Meus pais chegaram."

- Boa sorte.... - pela ligação consegui ouvir o barulho da porta da sala abrir e fechar com força. - Vou pegar seus curativos preferidos.

"Obrigado, pega os de ursinhos."

- Pode deixar... Eu te amo Eren.

"Eu também te amo." - ele desliga o celular.

Continuo olhando para o chão ainda com o celular no meu ouvido, começo a chorar novamente. Já perdi as contas de quanto chorei somente nos últimos dias. Não sei como ainda tenho água no meu corpo.

Junto as mãos na frente da minha boca, e a única coisa que penso é em Eren. Eu já imagino o que deve estar acontecendo naquela casa. E tudo isso por minha culpa. É sempre a minha culpa.

Eren...

Me senti na cama com cuidado, acabo gemendo de dor quando minhas costas tocam a parede. Na minha mão tem um saco de gelo que levo até meu olho. Não imaginei que o velhote ainda tinha força, nossa, estou todo acabado.

A porta é aberta pela minha mãe, ela entra com os olhos vermelhos. Desde que ela chegou com meu pai, não tem falado nada, somente entrou e ficou me encarando enquanto meu pai me dava sua surra. 

- É mesmo verdade? Seu pai te bateu por você ser viado? - a voz dela está fraca e embrulhada.

- Sim, eu realmente sou gay.

Ela põe a mão na boca começando a chorar, se afasta um pouco olhando para baixo. 

- Eu sou sua mãe, eu te amo desde que eu descobrir estar grávida - ela me olha de cabeça erguida. - Mas também sinto um grande desgosto por você, nada o que você fazer vai tirar esse desgosto de mim.... Estou totalmente despontada com você.

- E eu de vocês - pela primeira vez decidi falar tudo o que sinto. Acho que já não importa mais o que vou falar, amanhã mesmo que já estarei bem longe daqui. - Eu tenho pena de vocês, pena de vocês serem pessoas tão ruins e desgraçadas que não conseguem aceitar um ser humano que é diferente, que sente tesão por homem. 

- Eren...

- É mãe, tesão! - ponho a mão no meu pau e aperto. -  Eu amo um pau, principalmente quando está na minha boca, bem no fundo da minha garganta! Adoro beijar um cara enquanto enfio meu pau bem no fundo do cu dele!

Ela recua assustada e enojada.

- Demônio! - gritou antes de sair do meu quarto batendo a porta com força.

Começo a rir loucamente, igual nos filmes quando o personagem faz alguma maluquice. Ah, mano... eu estou doidão!

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Levi...

Já são duas e meia da manhã, não sai de meu quarto para nada. Minha mãe me trouxe um sanduíche para eu ter o que comer. Ela não falou comigo, só deixou o prato e saiu. 

Pego minha mochila, retiro todos meus materiais dentro e coloco algumas roupas, somente o nescessário, pego também minha caixinha de curativos. Me agasalho com uma roupa bem quente, é uma madrugada bem fria. 

Antes de dar o horário, saio de meu quarto a passos lentos, o corretor está escuro e a porta do quarto dos meus pais está aberta. Saio na maior cautela, fazendo o mínimo de barulho possível. Quando chegamos vi alguns envelopes no chão da entrada, talvez seja alguma resposta para mim.

Desço para o andar de baixo, quando vejo a televisão ligada e meu sentado na poltrona tomando cerveja. Ele estava bastante distraído. Dou uma olhada antes de passar agachado para a entrada. Felizes os envelopes ainda estão no lugar, mexo neles até ver a que mais me importa. O nome da faculdade em azul bem grande.
Respiro fundo antes de abrir e puxar a carta dentro. Mas não precisei puxar tudo, já no início da carta tive minha resposta.

Recusado.

Não me surpreende, e mesmo que eu fosse aceito, não iria poder estudar. 

Retorno para meu quarto rastejando, em pleno silêncio. Entrei em meu quarto, tranco a Porto. Pego minha mochila e me sento na janela.

- Adeus quarto - olho para meu lindo quartinho, foram tantas memórias inesquecíveis aqui, desde os meus cinco anos. Me lembro de todas as vezes que Eren e eu transamos aqui, de todas as vezes que ele invadia meu quarto no meio da noite somente para me ver.

Tac..... Tac..... Tac..... Que barulho irritante! Abro os olhos vendo meu quarto e que ainda está escuro. Olho para o relógio ao lado e são duas da manhã. Tac.... 

- Mas que porra!? - me levanto e vou até a janela, a abro e vejo Eren na árvore enfrente ao meu quarto. - Eren? O que faz aqui?

- Vim te ver ué? - esticando suas pernas, ele se posiciou e acabou pulando para dentro. - Eu senti saudades.

- São duas da manhã, a gente se viu na escola.

- Eu não consigo ficar um minuto longe de você - ele já bem me beijando, segurando minha cintura me puxando para mais perto. - Eu te amo, já te disso isso?

- Todas as vezes que nós vemos.

- Então eu direi novamente... Eu te amo.

- Eu também te amo, idiota.

Sorri lembrando desse dia, havia apenas passado três dias desde que ele me pediu em namoro. 

Três da manhã. 

Me penduro na árvore a frente, felizmente sei como desce-la, já fugi muitas vezes de casa. Desço ela rapidinho e corro para a rua já encontrando Eren pulando a janela dele. 

- Levi.

- Eren - nos abraçamos, sentindo o calor do outro. Mas ele acaba gemendo de dor e se afasta. - Você está bem?

- Estou, não se preocupe.

- Vamos para algum lugar, acho que o posto está aberto. Eu cuido das suas feridas lá.

- Vamos então.

Ele passa o braço em minha cintura e me puxa para andarmos. Não consigo ir sem dar uma última olhada para trás. Adeus velha vida.

Só nósOnde histórias criam vida. Descubra agora