Dezessete

93 17 1
                                    

Eren entrega as passagens para o funcionários e conseguimos entrar no trem. Após a besteira do Eren de ter quebrado a máquina de salgadinhos, saímos correndo para bem longe dali e eu fiquei comendo enquanto esperávamos a hora passar. Vou te dizer, eu estava com uma vontade enorme de comer aqui, não sei dizer o por que, só senti. 

Entramos numa cabina vazia, Eren pois nossas mochilas na parte de cima. 

Me sento no banco de couro, sentindo o quão confortável era aqui. Eu poderia dormir por anos aqui, de tão confortável que é. Eren se senta do meu lado ao lado da janela.

- Você ainda não me contou para aonde vamos - falo. 

- Vamos para Shiganshina, pelo que vi no mapa é uma cidade pequena, bem pequena.

- Nunca ouvi falar.... Quanto tempo de viajem?

- Oito horas.

- Oito horas! - na escola temos só cinco horas e já estou quase correndo, imagina por oito horas. - Por que escolheu um lugar tão longe?

- Se fossemos para uma cidade perto, seria lá que nossos pais iriam nos procurar primeiro. 

- Faz sentido.... - olho para meu celular e vejo que são 9h. - Chegaremos lá pra 17h. 

- Bom, pelo menos poderemos dormir bastante - Eren encosta no vidro. - Acordamos muito cedo, estou morto.

- Nem pense em dormir, temos um assunto importante para resolver.

- Temos? - ele olha para mim com uma sombrancelha levanta.

- Nós temos o dinheiro que o Armin nos deu. São 10 mil dólares, não podemos gastar esse dinheiro com qualquer coisa - digo sério e olhando fixamente para ele. - Vamos guardar para uma ocasião importante.... Assim que chegarmos na cidade, teremos que procurar uma casa e um emprego.

- É verdade, temos comida mas.... - ele chama isso que Armin nos deu de comida? - Temos que procurar um lugar para ficar, você não pode dormir embaixo da ponte.

- E nem você! Só porque estou grávido não significa que tenho que ser privilegiado!

- Tudo bem! Nós não podemos dormir embaixo da ponte - bem melhor assim. - Será que tem algum hotel por lá?

- E usarmos o dinheiro do Armin?

- É a nossa única solução, pelo menos por enquanto. No dia seguinte posso procurar um emprego.

- Tem certeza que quer trabalhar sozinho? Eu posso trabalhar também - Eren insiste que ele é quem tem que trabalhar. Mesmo que eu não queira, não posso fazer nada. Eren viveu numa casa aonde ensinavam que é o homem que deve trabalhar e sustentar a família. Tem vezes que Eren age no automático e nem percebe o que está fazendo. Então não tem como eu ir contra ele. 

- Não precisa, eu posso trabalhar para vocês dois - ele sorri e me abraça de lado.

- Vá dormir um pouco, vamos viajar por oito horas.

- Tudo bem, mas vem dormir comigo.

- Sempre...

...

Abro meus olhos sentindo frio. Que estranho, eu estou vestindo uma roupa quente e ainda estou abraçado a Eren. Olho para frente e percebo que não estou mais na cabine do trem. 

Olho em volta e vejo que estou numa rua, mas não uma rua desconhecida. Uma rua muito conhecida. Estou na minha (antiga) rua. Aos meus lados estão as duas casas, a minha e a do Eren. Está de noite e tudo em volta está nublado com a Lua cheia. 

Ouço uma porta ranger e olho para a porta da casa dos Yeagers e vejo a porta se abrindo com o ranger iguai aos de filme de terror. A passos lentos uma criança começa a sair dela com a cabeça baixa. 

- Olá?..... Quem é você? - por que eu falei? Por que perguntei isso? Foi tudo no automático. 

A criança levanta o rosto e ela tem um rosto que me fez gelar, dando passos para trás e caindo com os meus próprios tornozelos. Um sorriso maior que o rosto, os olhos esbugalhados e negros.

- Vem papai - ele disse, a voz grave como de um demônio. - Venha brincar comigo papai.

- Não! Fique longe de mim! Fique longe! 

A criança começou a andar lentamente, dando pequenos passos balançando a cabeça. Consigo me levantar e vou correndo para minha casa, abro a porta e antes que eu percebesse estou caindo numa escuridão. Caio sobre uma grama fofa e estranhamente não sinto dor nenhum.

Me levanto e olho em volta, estou num campo muito verde e com várias flores e árvores. Está de dia com um sol queimando. Minhas pernas começam a se mexer sozinhas, correndo mas devagar. O que está acontecendo? Por que estou correndo? Aonde está aquela criança?

Ouço risadas atrás de mim e olho para trás, vendo Eren e um menino nos ombros correndo atrás de mim enquanto riem. Estamos numa tarde divertida?..... Quem é essa garoto?

De repente tudo muda, não estou mais no campo e sim num quarto de criança. Estou sentado no chão e vejo alguma coisa se mexendo na cama. A coisa se senta e olha para mim no mesmo instante. Ela é diferente da criança que vi mais cedo, ela não tem uma aparência assustadora, é uma aparência normal de criança.

- Por que? - ele pergunta. Eu olho confuso. - Por que não me ama?

- C-como? - como assim? Eu acabei de ver essa criança, como vou ama-lo.

- Eu sou um erro.... Eu não sou normal.... Ninguém me quis, eu devia ter morrido.

- O que está dizendo?

- Vovô tinha razão.... Eu sou um demônio - as paredes mudam de cor, antes ele tinha um azul infantil, mas agora começa a ficar vermelho como.... Sangue.. - Eu não sou amado por ninguém.... Nem você me ama.

- Quem é você? O que está acontecendo? - o chão começa a transportar sangue. Muito sangue. É sangue demais. 

- Eu sou aquilo que você não quer.... Eu sou aquilo que te tirou do amor de seus pais - seu rosto começou a mudar, ficando cada vez parecido com o daquela criança assustadoras. - Eu sou aquilo que destruiu seus sonhos.... Eu sou um erro, ninguém me ama. Nem você... Eu sou um demônio.

O quarto se enche se sangue e eu começo a me afogar naquele mar de sangue, eu tento respirar, mas somente o líquido entra. Fecho os olhos os apertando. Isso é um sonho, é somente um sonho! Eu vou acordar e nada terá acontecido. Abro meus olhos e tomo um susto, vejo a criança com o rosto assustador na minha frente, ela pega meus ombros. Eu tento me soltar dela, mas quanto mais luta mais ele me aperta.

- Acorda papai!

Abro meus olhos assustado, puxando o máximo de ar que consigo. Meu coração está a mil, estou suando muito, minha blusa já está molhada. Olho para o lado e vejo Eren dormir toco jogado, com a cabeça no vidro, as pernas abertas e jogadas, um braço caído e o outro abraçado na minha cintura.

Respira Levi. Foi só um sonho. Calma. Nada de ruim vai acontecer. Calma.

Volto a deitar em Eren, me aconchego em seu peito, sendo abraçado com mais força pelo seu braço. Fecho os olhos respirando fundo, conto até dez para acalmar, sempre me ajuda. 

Droga, foi tudo um sonho.

Abro de novo meus olhos e vejo o garoto em cima de mim com o seu sorriso assustador. 

- Me ama papai! - ele grita antes de pular com uma faca no meu pescoço.

- Não! Não! Não! Me solta! Me solta!

- Levi acorda! Acorda!

Abro meus olhos gritando e chorando, meu corpo está tremendo e meu coração está batendo muito. Sinto uma ânsia subir, não chegaria a tempo no banheiro então abro a janela e vomito ali mesmo. O vento está batendo forte e o vômito sai voando.

- Calma, está tudo bem agora... - Eren me abraça por trás, seus braços envolve minha cintura e sua cabeça no meu pescoço. - Está tudo bem...

Mas que merda foi isso? Por que sonhei com isso? Que horror! Que horror!

Só nósOnde histórias criam vida. Descubra agora