Vinte

85 15 4
                                    

E eu tinha razão, eu iria me estressar. 

Dayane nos levou pelo seu carro por um caminho que distanciava da cidade, não era muito distante, mas quando formos a pé demorará no máximo uns vinte minutos. Eu já desconfiava que tinha alguma coisa errada, aquela velha ria sempre que Dayane elogiava a casa. 

Não foi a toa.

- A casa tem vinte anos, ela é uma lindeza né? - Dayane diz assim que descemos do carro.

- Lindeza? Isso é um insulto para essa casa - falo. Já sinto meu sangue esquentar. 

- É, eu sei que ela está muito feia, mas o importante é o que tem dentro - ela entrega uma chave para Eren. - Eu preciso ir, tenho muitos assuntos pra fazer. Boa sorte. Ah! O restaurante Smith's fica pra aquele lado - ela aponta para a direita, e entra no carro. - Eles dão café da manhã, almoço e janta.

- Espera! Espera! - gritou Eren tentando correr até ela, mas Dayane dá a partida no carro e sai dirigindo em alta velocidade. -  Merda.

- Eren....

- Calma Levi, não perca a calma.... Talvez seja só o lado de fora, por dentro deve ser incrível - ele tenta ser otimista, mas eu não consigo, não olhando para isso.
O lado bom é que há um poste de luz na estrada, assim dá pra enxergar tudo.

O telhado está caindo aos pedaços, está faltando até algumas telhas, as grades estão caídas no chão, as janelas da frente estão com os vidros quebrados. O mato está muito alto, pode muito bem ter um animal perigoso escondido ali. 

A que nojo, não quero tocar em nada.

Vou na frente, os três degraus estão velhos, pobres e faltando pedaços. Subo na varanda e a primeira coisa que noto que há uma cadeira sem as pernas. Ah o cheiro é horrível, tampo a minha boca e nariz com mão, meu estômago está revirando.

- Que.... Que cheiro é esse? - Eren também sente e tampa o nariz. - Parece ser.... Bosta de animal.

- Eu não quero ver o que tem ali dentro.

- Vamos, seja um pouco otimista - Eren passa por mim com a chave, ele coloca na fechadura e gira. - Talvez seja bem bo...ni..to...

Ele abre a porta. Tá, agora eu realmente vou vomitar.
Me viro para fora e vou até o mato e começo vomitar. Nem lembro de comer certas coisas, ah que gosto horrível de pimenta. 

- Você está bem? - ouço Eren gritar.

- Estou... - acabo tossindo um pouco. - Estou bem.

- Meu Deus, isso está horrível.... 

Me recomponho e vou até Eren, ah mano da porta da pra ver na nojeira. Dou alguns passos olhando em volta.

Os sofás são àqueles marrons velhos com rasgos, a lareira tem carvão velho e penas de passarinho, teto tá cheio de teias de aranhas. A cozinha é aberta e fica atrás da sala - no lado direito - o fogão tem restos de comida, manchas e panelas pretas, a pia lotada de loça, as frutas na cesta de frutas estão podres, com fungos. As paredes estão com fungos também e mofo. 

- Quem vive num lugar assim? - ouço Eren sussurrar. 
O antigo morador daqui morreu certo? Não fizeram nem questão de arrumar?

- Isso é.... Cocô de rato? - Eren aponta para umas bolinhas que estão em cima da mesa. - Se isso é o estado da sala, não quero nem ver os quartos. E o banheiro, principalmente o banheiro.

- Pra mim chega! - saio daquela casa irritado já, não há condições de morar nisso. Na varanda acabo pisando em um pedaço de madeira podre e meu pé afunda. - AH!

Só nósOnde histórias criam vida. Descubra agora