Meu eu em você

Capítulo 08

A caneta girou habilidosa entre os dedos com o caderninho na sua frente sobre a mesa. Anotara várias palavras desconexas, apenas tentando esvaziar a mente porque estava muito irritado, havia tido um dia de merda. A cabeça estava fora de sintonia com o corpo e isso prejudicara abertamente suas vendas do dia, fora a primeira vez desde que começara a trabalhar com vendas que não atingiria a meta mínima do dia. Não estava tendo saco para os costumeiros flertes ou para os papos idiotas porque ele era imbecil o bastante para não conseguir tirar da cabeça a garota de cabelos negros com o playboy que vira na noite anterior.

– E aí?

A voz de Kuririn o despertou dos pensamentos de ódio que ele tinha. Havia recebido os amigos aquela noite em casa porque os mesmos não o deixavam quieto desde que, no ensaio deles, Yajirobe recebera a ligação de uma das casas de show, querendo fechar com eles. Era um bom espaço, muito badalado, e a produção queria fechar um calendário inteiro. O cachê era muito bom, aliás, ajudaria bastante no orçamento mensal como extra. Mas existia um porém: o agente queria fechar com todos, e "todos" incluía Chichi e a amiga dela. Ele queria uma banda e não só o trio. Tudo acontecera porque um dos promoters estava na apresentação que eles haviam feito juntos e filmara, levando para os produtores.

Era ótimo, não? Afinal, era de certa forma um reconhecimento bom. Mas não era, porque ele estava frustrado pelo que entendia da garota e pela implicância que estava criando, pelo ego e orgulho ferido, ou porque ele simplesmente não conseguia assimilar ainda o que estava acontecendo consigo.

Como aquilo poderia ser bom se desde que a garota cruzara o seu caminho tudo desandara?

– Vai por mim, ela não vai querer isso. Ela é do tipo que faz isso sei lá porque. – Goku respondeu, irritado.

– Escuta aqui idiota! eu agora tô flertando com uma gata, sabe o que é isso para um cara como eu? Eu preciso de dinheiro, muito, ela é cara, acredite! – Yajirobe adiantou-se.

– É verdade Goku, é uma grana boa, e fora que tocamos mais. É egoísmo da sua parte não ir atrás dela pelo grupo, por nós, só porque ela te chutou. – disse Kuririn e a face de pura raiva e consternação de Goku surgiu.

– Ela não me chutou! que fique claro! eu peguei sim! Só vi o tipo dela e não gosto de proximidade.

– Fala como se ela fosse uma das loucas pulando no seu pescoço e te perseguindo – falou Kuririn com certo deboche – eu nem vi nada disso.

– Ela tá te perseguindo? porque se for, pelo menos sabemos que ela topa.

Goku respirou praticamente bufando de raiva.

– Porque não achamos outras? – sugeriu – alguma garota que toque guitarra e um baterista qualquer, na verdade nem precisa ser garota e...

Kuririn suspirou.

– Ele é um babaca – Yajirobe disse – vai fazer a gente perder essa chance tudo porque não consegue separar as coisas com uma mulherzinha.

– Hei! mulher nenhuma me prende, já disse.

– É mesmo? então porque tá escrevendo o nome dela sem parar? – perguntou Kuririn apontando para o caderno e Goku olhou para a pagina e rosnou, rasgando a folha e amassando.

– É porque vocês não me deixam em paz!

– Liga pro pai dele! – disse Yajirobe.

– Não coloca o velhote no meio disso! – disse Goku e levantou-se – Quer saber, se vocês querem tanto assim porque não falam com ela?

– Bom, você que ficou com ela, tem o telefone dela, ou, sabe...

– Eu não tenho o telefone dela! – ele bradou e então franziu o cenho. Baixou o tom e suspirou, passando os dedos pelos cabelos – ok, eu vou falar com ela, mas não vou me humilhar por garota alguma!