Primeira Vista

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Ludmilla POV

Observei a vista privilegiada pelo quarto em meu apartamento e sorri ao olhar Cabo Frio tão iluminada. Lembro dos poucos momentos que passei com meu pai, independente de ele ter sido um advogado de grande renome, ele nunca colocou a família em segundo lugar.

Ele se foi quando eu tinha dez anos, foi complicado e doloroso demais. Minha mãe fazia de tudo para ser presente na minha vida, ela teve que comandar a empresa e ainda cuidar de mim.

Eu sou muito grata à ela e pela força que ela me ensinou a ter.

Nasci intersexual, por alguns anos, todos acreditavam que eu era menino, inclusive fui tratado como um. Até que as mudanças apareceram sutilmente e meus pais me levaram ao médico. Passei por diversos exames até descobrirem a minha condição, eles decidiram não fazer a cirurgia, deixaram que eu teria que escolher quando eu completasse 18 anos.

Por anos convivi com isso, de toda as formas eu tentava mostrar para mim mesma que eu era uma garota apesar da condição, demorou muito para eu poder me aceitar do jeito que era e me amar independente do que os outros iriam falar.

"Espero que venha me visitar, filha."

Mamãe.

Sorri ao ver a mensagem, eu estava com muitas saudades da minha mãe e com toda a certeza iria visitá-la.

(...)

8:35 a.m

Eu já estava arrumada, minha mãe tinha me ligado algumas vezes animada pedindo para que eu fosse bem cedo.

E já estava a caminho.

Desci as escadas e observei Jorge me esperar paciente, pedi desculpas pela demora e logo fomos em direção ao elevador.

Meus pais sempre me ensinaram que nenhum dinheiro ou status nos dá o direito de desrespeitar alguém. Não éramos superiores e nem inferiores, então deveríamos respeitar e tratar todos bem. E começo pelas pessoas que trabalham comigo, sempre tento saber se há algum problema e fico feliz por saber que eles ficam confortáveis o suficiente para me contar algum problema.

Suspirei ao olhar o meu reflexo pelo espelho do elevador e não demorou muito para chegarmos no estacionamento.

– Sra. Oliveira? – Escutei Jorge e olhei para ele. – Ainda tenho que buscá-la naquele endereço?

– Ah, por favor Jorge. Mas irei conversar com Brunna para saber se está disponível, qualquer coisa aviso você, tudo bem? – Assentiu e abriu a porta para mim, agradeci e entrei.

Não demorou muito para sairmos dali, durante o caminho verifiquei alguns e-mails e mensagens.

Brunna: "Bom dia, Ludmilla. Tudo bem?"

Sorri ao ler a mensagem e apenas respondi.

Você: "Bom dia, baby. Estou bem e você?"

Voltei a olhar a paisagem enquanto esperava a sua mensagem, mas infelizmente não recebi nada. Guardei o meu celular e sorri ao ver de longe a casa que por tanto tempo havia sido minha, mas agora apenas minha mãe vivia ali.

O carro foi estacionado e eu prontamente saí, não demorou muito para a minha mãe aparecer e eu correr até ela me recebendo com um abraço.

— Que saudades, mãe! — Sorri enquanto sentia os seus beijos pela minha bochecha.

— Se eu não te mando mensagem, Ludmilla, você não vem me visitar, filha. — Disse enquanto batia em minha cabeça.

— Desculpa, mãe, as coisas estavam complicadas com a empresa em Niterói, mas agora tudo está correndo bem — Entrelaçamos os nossos braços e caminhamos em direção à cozinha.

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