33 | mar revolto

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GRACE

Depois de jantarmos, Eric e eu ficamos ambos em um silêncio confortável na cabine, ele estudava um pouco com a ajuda de um lamparina, e eu acabei me sentando ao seu lado, ele me emprestou um de seus livros de leitura, este era de um autor, Sir Arthur Conan Doyle. Ele era oftalmologista de formação, mas seu livro era sobre um detetive, Sherlock Holmes. E mesmo com a luz parca, eu não conseguia deixar a leitura.

Eu até queria ler o livro de Astrid Alcaan, mas algo me dizia para fazer isso quando chegasse a Paris.

Algum tempo depois minhas vistas se cansaram, mas marquei o lugar onde parei o livro para continuar amanhã. Eric também parou.

— Acho que vou me deitar. — Disse se referindo a rede. Nós já tínhamos dividido os cobertores.

Eu também já estava cansada, foi um longo dia. Fui a casinha, fiz minhas necessidades e tirei a parte pesada do vestido, deixando apenas a parte inferior, que era como uma camisola longa, levinha, e em seguida, me preparei para dormir, vendo que Eric fazia o mesmo. Ele deixou a lamparina acesa no meio do quarto para que não ficassemos no completo breu, e depois se deitou na rede.

Me embrulhei nos cobertores, minha mente estava cansada, e tudo o que eu precisava era dormir, enquanto Eric se ajeitava fui pegando no sono, lentamente. Mas acabei sendo desperta pouco tempo depois, com o chacoalhar do navio, aparentemente estávamos em lugar de mar agitado.

Eric saiu da rede, e foi até a janela.

— Tudo bem? — Perguntei a ele.

— Balançando dessa forma, não dá pra ficar na rede, vou esperar o mar ficar menos revolto. Não terei estômago para ficar deitado nela. — Comentou, mas isso era injusto. Ele pagou pela cabine, ele deveria ficar com a cama.

— Deite se aqui, há espaço para nós dois. Você tem que descansar. — Falei por fim.

— Tem certeza? — Perguntou me olhando de esguelha.

Voltei a concordar. Ele respirou fundo, então pegou seu travesseiro e cobertor e trouxe para cama, se deitando e se cobrindo em seguida. A cama não era muito grande, porém estávamos separados pelas cobertas, mas era a primeira vez que eu dividia a cama com um homem, e isso me deixou estranhamente desconfortável. Eric pareceu notar, então se virou de costas para mim como se dissesse "tenha privacidade".

— Boa noite, Grace. — O ouvi dizer, enquanto sentia o ondular do casco do navio.

— Boa noite, Eric. — Respondi, fechando meus olhos, e por obra da exaustão, alguns poucos minutos depois, eu já estava dormindo.

No dia seguinte, antes mesmo do café, Eric e eu já estávamos de pé, e vestidos. Chiara tinha colocado três vestidos na mochila, pois era o que cabia, e eram muito bonitos. Eu tinha no total, quatro trocas de roupa, o que claramente queria dizer que eu não deveria perder tempo algum quando chegar a Paris em minha busca por emprego.

Eu entreguei minhas pérolas a Eric que disse que subiria ao convés agora cedo, quando os mercadores circulavam tentando vender uma coisas ou outra, para tentar vende-las para mim, pois ouviu falar que havia um joalheiro a bordo. Eu não sabia quanto elas valiam, mas algumas moedas de ouro, me seriam muito úteis.

Peguei o livro de Sir Conan Doyle para continuar lendo, e cerca de quase uma hora depois, Eric apareceu, entrou pela porta do quarto e a fechou em seguida. Quase saltei da cama.

— E então?

— Parece, que por um milagre, você está com sorte. —Ele disse, abrindo um sorriso, e tirando de trás do corpo um saquinho de moedas.

O que queima através de nós | LIVRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora