GRACEEle estava me abraçando...
Fechei meus olhos. Em casa. Parecia outro tipo de liberdade.
Mas no segundo seguinte a mágica se desfez, ele pareceu se dar conta do que fazia e se afastou. E eu senti falta do contato e do calor que emanava dele. Este, soltou um pigarro, estreitando os olhos, como se não soubesse reagir a pequena demonstração de afeto que tivemos.
Eu também não sabia. Para ser sincera. Eu me perdia um pouco na forma que deveria agir com ele. Como uma tola!
- Você está bem? Victor... A machucou? - Perguntou me analisando, parecia ligeiramente preocupado. Parecia estar ainda, pensando no que dizer. Voltando a sua postura firme e levemente carrancuda. Eu quase sorri por isso.
- Estou bem. - Falei, olhando pra baixo, pensando que apesar de tudo, estava bem.
- Mesmo? - Voltou a perguntar, para se certificar.
- Sim, Kingsley. - Garanti, erguento meu olhar para ele, para lhe dar certeza. Que estar ali, me fazia estar melhor.
Ele apenas assentiu, seus olhos ainda estavam sobre mim.
- Vamos sair daqui, conversaremos em casa. - Se prontificou em dizer.
Mas a forma aconchegante como ele disse "em casa", como se aquela também fosse minha casa, me balançou. Me fez imaginar que... Deixa pra lá, se eu tinha um futuro... Era em Paris. Muito longe daqui.
Fui tirada de meus devaneios, quando Damian deu um curto sorriso como se contasse pra si uma piada interna. - Se importa em ser carregada? - Perguntou, enfim.Dei de ombros. Neste momento não.
Neguei com a cabeça.
E segundos depois eu estava em seus braços... Ele já se era feito em chamas...
E fazíamos o caminho de volta.
Quando ele me soltou em frente ao salgueiro, a floresta parecia estranhamente silenciosa. A água do lago ondulava, sempre fazendo um som reconfortante. Olhei a minha volta procurando por Aurin. Ele não estava ali, mas eu podia ver o longe um outro abernate dormindo encostado em uma árvore, com alguns pequeninos duentes também dormindo sobre sua proeminente barriga.
Coisas que só poderiam ser vistas aqui.
- Onde está Aurin? - Perguntei a Damian, que já estava novamente em sua forma humana.
- Provavelmente pela floresta. Ele gosta de ficar do outro lado... Tem muitas frutas. - Respondeu, me deixando com uma dúvida.
- Ele não come... Animais? Carne? Pessoas? - Tive que perguntar.
E para minha surpresa, eu arranquei uma gargalhada de Damian. Era um som tão bom de se ouvir. E tão raro. Ele fechava os olhos e se sacodia um pouco, mantendo os braços em torno da barriga. E eu me peguei rindo também.
- Se surpreenderia o saber o quão vegetarianos os abernates são. - Disse por fim, ficando mais sério.
- O que? - Soltei sem acreditar. - Mas... Mas... E os humanos mortos na floresta? - Indaguei, cruzando os braços na frente do corpo.
Meu Deus...
VEGETARIANOS!
- Uma coisa é matar quem está invadindo sua casa. Despedaçar. Outra é fazer dos humanos uma refeição. Pobres abernates... - Ele comentou fingindo desdém.
- Que bom! - Foi a única coisa que pensei. Não pelos que foram mortos claro... Mas eu tinha certeza que apesar de poder ser morta e despedaçada, não seria alimento.
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O que queima através de nós | LIVRO I
FantasiNo Vale das Cinzas, muito se fala do fogo que tomou em chamas a propriedade dos Kingsley, levando a vida de um casal, pelas mãos do próprio filho, Damian Kingsley. Este, conhecido por sua crueldade, foi exilado, e assim amaldiçoado por forças superi...