GRACE
A viagem se seguiu por todo aquele dia, até atracarmos no porto, em uma cidade pequena do sul Francês. Eric e eu tivemos que alugar um cabriolé para nos levar até a estação, para pegarmos o trem até Paris. Onde a viagem se seguiria por mais de um dia.
Longa e cansativa, a viagem foi dura. Acabei pegando no sono no meio do caminho, usando o ombro de Eric como travesseiro, mas quando acordei, ele não pareceu se importar. Na manhã seguinte, chegavamos a capital francesa, exaustos e famintos, apenas saímos juntos da estação lotada.
Saímos juntos, eu jamais tinha visto nada como aquilo, tantas pessoas, tanto barulho. E também não parecia a Paris que me contavam, onde estávamos era sujo e as ruas fediam a esgoto. Mesmo assim compramos duas tortinhas para comer, ou não ficariamos de pé.
— Vamos pegar um carro para nos levar ao hotel. — Eric disse, mas eu não podia pagar. E eu também tinha que procurar onde ficar.
— Eric não posso pagar, e tenho que procurar uma estalagem. — Falei.
— Eu tive uma ideia. Te conto no caminho. — Disse acenando com a mão para o carro que vinha em nossa direção. — Confie em mim. — Pediu. Então, assenti. Em minha situação, não se podia negar boas idéias.
Entramos no carro, Eric pagou então se colocou a falar.
— Tenho uma solução momentânea, para te ajudar. — Disse. —Continuarmos a farsa.
— O que? Como assim? Continuarmos casados? Mas...
— Pense comigo. — Fez uma pausa. — Você não tem muito dinheiro, é uma mulher sozinha em uma cidade desconhecida, terá que procurar uma estalagem ruim, em um bairro que não sabemos como é. E vou me preocupar com você. Eu vou me hospedar no hotel, com ajuda de um fundo estudantil, não me custará muito e meu estágio tem remuneração. Podemos continuar com a farsa de sermos casados até você ter um emprego e se estabelecer, para que não haja fofocas sobre você ser minha amante. Eu vou passar muito pouco tempo no hotel, terei plantões e terei que estudar. Pra mim não é problema algum. E com isso poupa o que tem. — Completou, me deixando emocionada, pois, era muita generosidade, me fazendo abraça-lo desajeitamente pelo lugar onde estávamos.
— Eric isso é muito. Agradeço tanto. Mas não posso aceitar, não tenho nada para lhe dar em troca.
— Ora Grace! É minha amiga... — Disse como se fosse óbvio. — E eu também acho bom ter alguém que conheço na cidade. É reconfortante. — Confidenciou.
— E pode contar sempre comigo. — Deixei claro.
— Então, você aceita?
— Aceito. Mas é por pouco tempo, amanhã de manhã, já estarei em uma agência de empregos. — Deixei claro. Pois não queria nunca abusar de sua bondade.
Quando chegamos ao hotel, nos registramos, e aparentemente, já sabiam que Eric se hospedaria, e ele teve que tratar com o gerente sobre o fundo estudantil. Eu esperei que pedissem nossa certidão de casamento, mas por um milagre compraram a história dos recém casados. Eric teve criatividade para montar uma história de que casamos e fugimos juntos sem tempo de pegar a certidão matrimonial.
Agora eu era Grace Vallahar, que fugiu para se casar...
Logo pudemos subir ao quarto, o tamanho era médio, simples, mas confortável.
Eric foi se banhar, e eu fiz o mesmo quando ele saiu, escovei os dentes e me enfiei na roupa mais confortável que tinha, e quando saí notei que Eric não só tinha se deitado, como já tinha dormido. Verdade seja dita, a viagem nos quebrou. E eu fiz o mesmo que ele, me deitei do outro lado da cama, me cobri e pouco depois já havia apagado.
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O que queima através de nós | LIVRO I
FantasíaNo Vale das Cinzas, muito se fala do fogo que tomou em chamas a propriedade dos Kingsley, levando a vida de um casal, pelas mãos do próprio filho, Damian Kingsley. Este, conhecido por sua crueldade, foi exilado, e assim amaldiçoado por forças superi...