GRACE
(...)
— Eu tenho que ir... Sei que não sou uma bruxa ou nada do gênero, mas quero muito ir e tentarei ao máximo ser útil. Sem contar que é pra isso... Que doarei meu sangue, de bom grado. — Finalizei, olhando diretamente para Chiara, que eu sabia que poderia ser minha aliada.
Houve um erguer de sobrancelhas de Braeden pela menção do sangue. Pois até hoje eu não havia falado sobre isso. Mas como Eric estava se mantendo longe, eu faria isso.
Estávamos na mesa do café da manhã, eu, ela e Braeden tomando nosso chá e comendo pão de aveia com geléia de damascos. Quase não se via Ramona, sei que Braeden preparou uma bandeja para ela, mas a verdade, era que a bruxa-mor, sequer parecia viver ali. Pois estava sempre reclusa além da porta bonita.
Já Damian estava na bancada, e sequer olhou para mim, desde que entrou no recinto, nem mesmo se sentou a mesa, as bruxas não perguntaram nada, mas eu tinha certeza que perceberam a tenção entre nós. Eu o evitava a todo custo, a vergonha e humilhação pareciam penetrar na minha pele sob a presença dele. E a culpa era minha.
Eu queria mesmo não gostar dele. Mas se existe uma verdade cruel, é que sentimentos tem vontades próprias, tem seus caprichos e jamais funcionariam como queremos.
Chiara suspirou.
— Por mim, tudo bem! — Anunciou, me fazendo sorrir.
Olhei pra Braeden. Ela tinha a xícara de chá nos lábios e seus olhos estavam presos em um livro de uma capa vermelha muito vibrante.
Ela ergueu os olhos pra mim, e deu de ombros como se dissesse "vai, faça".
E neste mesmo instante, Damian deixou a cozinha sem dizer nada. Era mais do que óbvio, que ele era totalmente contra.
Provavelmente achava que eu estragaria tudo, caindo e rompendo o baço.
Chiara me instruiu de levar pouco peso, ou seja, uma troca de roupa, itens de higiene pessoal, pois ela levaria uma cesta com comida.
E me deu uma poção de gosto horrível. Era pra conter a menstruação por uma semana. Tanto ela como Braeden também a tomaram. Pois estar menstruada agora não era mesmo boa ideia.
Enquanto os três estavam trancados com Ramona além da porta, eu me guiei para a lado de fora, com uma pequena mochila de couro emprestada por Chiara, em minhas costas.
Estávamos indo em busca das flores do subsolo, que eram muito importantes para as fadas pelo que Braeden havia dito. Mas eram necessárias para a produção dos amuletos, sendo inclusive, o ingrediente principal, junto ao sangue humano e os cristais d'agua que foram dos espíritos de luz que criaram a barreira. Como Ramona os tinha em posse, eu não sabia.
Do lado de fora, pela primeira vez, eu avistei do outro lado do lago duas figuras ruivas, colhendo as ervas plantadas ali. Eram as bruxas que viviam em uma clareira do outro lado da Floresta das Labaredas, que era escuro e luminosidade alguma penetrava. Era sempre noite. Pelo pouco que Chiara disse, elas eram bruxas curandeiras, muito pacíficas mas não se misturavam, preferiam o silêncio soturno, do que o convívio com os outros seres que ali habitam. Então evitei ficar as olhando enquanto faziam seu serviço. Hoje a floresta parecia ter mais vida. O sol raro aparecia apesar da copa das árvores altas fazerem bastante sombra.
Nos galhos altos, corvos, com suas asas que pareciam se desfazer em brasas, cantavam uma melodia angustiante. Me remexi desconfortável, eles tinham uma energia ruim. Braeden disse como se chamavam... Eram corvos-agouros.
Continuei a caminhar, tentando ignorar o canto destes.
Avistei Aurin ali, também esperando. Ele iria conosco.
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O que queima através de nós | LIVRO I
خيال (فانتازيا)No Vale das Cinzas, muito se fala do fogo que tomou em chamas a propriedade dos Kingsley, levando a vida de um casal, pelas mãos do próprio filho, Damian Kingsley. Este, conhecido por sua crueldade, foi exilado, e assim amaldiçoado por forças superi...