48 | um saque e nada mais

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Atualmente no Vale das Cinzas...

LYRA CASTELLAR

(...)

— (...) tenho pena do sobre Solomon. Só Grazielle lhe deu orgulho. A outra, Geise, não é? Quem diria que aquela menina toda encolhidinha ia ser o perigo!

— É Grace, Magnolia. Dizem que viram ela e o doutorzinho Vallahar entrando no navio um mês antes... — Respondeu a outra senhora.

— Aquele menino? Eu sempre ouvi falar coisas dele... Umas coisas horríveis. Mas também, ele sempre ficava grudado no Espírito de Fogo. Deve ter sido ele que levou a filha do Solomon pra floresta. Eu nem sei mais se eles são humanos! — Disse a feirante, Magnolia, fazendo um sinal da cruz nervoso.

— E o pior é que ninguém tem certeza de nada. Será que esses monstros atravessaram mesmo? Por que se eles conseguiram, todos nós estamos em perigo!

— O seu Mateo garantiu que era o monstro filho dos Kingsley com duas bruxas cruzando as florestas baixas, fora da barreira. Ele estava caçando, não viram ele. Logo no dia que o navio vai pra França.

— Devem ter ido encontrar a Grace e o doutorzinho em Paris. Seres pérfidos, que fiquem longe! Muito longe de nós! Pior que o prefeito não quer fazer nada! Não vejo a hora que Victor assuma o lugar dele, este sim é um homem de pulso!

Como eram podres! Podres! Podres!

Segurei minha língua dentro da boca, enquanto arrancava bananas da penca na feira, ouvindo essa conversa odiosa das comerciantes. Na verdade, por onde se andava havia um burburinho, só havia esse único assunto em todo o Vale das Cinzas.

Mas creio que eu puxei as bananas com força demais, pois o cacho que era pendurado na barraca por um arame, se soltou, fazendo ele cair e toda a atenção ser chamada para mim.

E foi assim que voltei para casa com cesto vazio. Só não me cobraram o cacho por "Por sua perda, vamos entender seu rompante. Pobre de sua finada mãe."

E me calei, não podia me dar ao luxo de perder minhas poucas moedas.

Enxuguei as lágrimas enquanto voltava para casa. Se fazia exatas três semanas que minha mãe havia ido dormir, e nunca mais acordou. E então... Havia o maior vazio do mundo dentro de mim. Nenhuma dor era comparada a essa... Mas ainda sim, eu tinha que continuar... Não sei como e nem de que forma. Mas tinha.

Me restava apenas meu irmão, Linx.

E ele havia colocado na cabeça que iria trabalhar nos portos. Pois ganharia mais do que como lenhador e poderia me enviar algum dinheiro... Eu não gostava nada da idéia. Nada mesmo.

Eu não queria ficar sozinha no Vale das Cinzas. Esse não é um bom lugar para mulheres sozinhas.

Sempre ajudei mamãe com as marmitas, vendíamos para alguns trabalhadores do Intermediário e Alpes. Eu preferia entregar, na verdade...
Mas... Com o falecimento dela, as vendas caíram mais da metade. Por que senhora Dalva, estava vendendo também, e confiavam mais nas marmitas de uma senhora casada do que de uma moça solteira...

Era injusto, ouvi de senhora Gia, a primeira dama. Ela vinha comprando marmitas por toda essa semana para os funcionários da prefeitura. Eu sabia que era para me ajudar... E eu não podia estar mais grata.

Não era um mundo justo. Nunca foi.

Apesar de não ter problema em cozinhar, caminhar por aí parecia melhor pra mim. Eu gostava de conversar e rir... E também gostava de voltar pelo bosque, ou passar na Livraria das Páginas Flamejantes. Antes sempre pagava livros para mim e Grace lermos escondidos do pai dela.

O que queima através de nós | LIVRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora