GRACE
(...)
— Eu... Eu vou resolver isso! — Anunciei a Damian, depois de constatar o óbvio.
As chamas em torno de nós pareciam crepitar cada vez mais fortes.
Só havia uma forma de tentar salvar Eric.
Um Damian tenso, estreitou os olhos em minha direção.
— Como?
— Vou atrás de Ian agora mesmo! — Decretei. — Eu... Eu preciso tentar, por que Eric assim como vocês me ajudou, e eu tenho que ajudar ele também! — Falei dando meia volta, caminhando de volta em direção a barreira.
— Grace isso não vai funcionar! Vocês dois serão postos como traidores! — Damian disse rapidamente chegando ao meu lado.
Parei, para o encarar.
— E se o Eric morrer? — Indaguei em prontidão, ele engoliu em seco.
— Mas você se por em risco, não garante nada. Pois podem ser dois mortos, mesmo que Ian seja seu cunhado. — Ele disse, desaprovando totalmente minha ideia.
— Não tem outro jeito. — Falei. — Ian não vai mandar me enforcar. O meu pai faria isso com muito mais gosto, sabe disso? — Soltei nervosa.
— E você quer que eu te deixe ir sozinha atrás dele? — Inqueriu então, chegando mais perto.
Respirei fundo.
— Não existe deixar ou não, Damian. E eu... Eu vou! — Anunciei começando a marchar de novo em direção a barreira.
— Grace! Volte aqui! — O ouvi me chamar, mas ele parecia não ter saido do lugar. Ainda.
No instante seguinte, labaredas de fogo gigantescas se fizeram a minha frente para impedir que eu prosseguisse. As ignorei passando dentre elas, pois se Damian quisesse me tostar inteira, já teria o feito.
Eu só me adiantei, e atravessei a barreira. Olhei pra trás vendo Damian há alguns metros de mim.
— Você tem duas horas para voltar. — Ele disse, muito sério.
— E se eu não voltar? — Quis saber, não havia formas dele fazer nada.
— Eu atravesso essa barreira e encontro você e Eric, de uma forma de outra. — Deixou muito claro.
— Não há formas. — Falei rapidamente. Ele não podia.
— Eu vou encontrar uma forma. — Disse mais profundo do que jamais ouvi. E isso aqueceu meu coração pois pareceu que ele realmente se importava. Comigo. Se importava comigo.
— Não faça nada que te ponha em risco. — Me referi a barreira, movendo os dedos pra cima e pra baixo a mostrando. Ela poderia o matar. E isso... Eu não queria isso nunca.
— Então não se mate. — Disse dando um sorrisinho, acho que ele estava falando do meu azar. Eu ri também dando alguns passos pra trás, olhando em seus olhos. Olhando pra ele.
Eu esperava voltar... Esperava mesmo.
Então, apenas dei meia volta sentindo o olhar de Damian nas minhas costas, e me coloquei a correr, correr o máximo que podia.
Mesmo correndo não sabia se podia apanhar Eric e Ian. A delegacia ficava no Intermediário, então quando entrei no vilarejo, cortei vielas mais longas evitando passar longe da minha casa e da taberna, pois a última pessoa que queria ver, era meu pai.
Mas isso não me poupou dos maus olhares, pois eu já não conseguia mais correr, ao andar ofegante e vermelha, sentindo o clima frio que na floresta era mais brando, me cortando.
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O que queima através de nós | LIVRO I
FantasiaNo Vale das Cinzas, muito se fala do fogo que tomou em chamas a propriedade dos Kingsley, levando a vida de um casal, pelas mãos do próprio filho, Damian Kingsley. Este, conhecido por sua crueldade, foi exilado, e assim amaldiçoado por forças superi...