Capítulo 2

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boa leitura!


O trânsito demorou um pouco para fluir, mas em poucos minutos Kyle conseguiu me deixar em casa, ou quero dizer, mansão. Já que a proporção do lugar era quase de um quarteirão inteiro. Ao chegar na sala, pude confirmar o que o rapaz me contou, o lugar estava caótico. Alguns empregados terminavam de organizar os móveis da sala, tirando até mesmo a poeira que não existia. E assim que entrei, uma das mulheres se ofereceu para levar minha mochila até o quarto. Recusei educadamente, não é como se eu não fosse para o mesmo lugar daqui a alguns segundos, poderia levar a mochila sozinha.

Ouvi a voz autoritária da minha mãe vindo da cozinha, e mesmo que eu a evitasse nesses dias que haveria algo em casa, não poderia negar a sede que sentia. O dia estava quente, e eu ansiava por um copo de água gelada.

Chegando na cozinha, pude me deparar com três pessoas que eu nunca vi antes. Estavam com os braços posicionados para trás, do mesmo jeito que minha mãe sempre exigia aos funcionários quando ficassem de frente com ela.

- Heyoon, ainda não se trocou? - fui tirada dos meus pensamentos quando minha mãe pronunciou meu nome - Os Beauchamp's vão chegar em poucos minutos e você ainda está com esse uniforme de escola!

- Eu acabei de chegar, mãe - me dirigi um pouco envergonhada até o armário de copos, e em seguida para o filtro que ficava acoplado na porta da geladeira - Só vim pegar um copo d'água antes.

- Então se apresse! - minha mãe falou ríspida, passando a mão que possuia seu anel de casamento na testa. Era visível seu estresse, imagino que meu pai avisou sobre a vinda de seus amigos sem a mínima antecedência, e isso deixava minha mãe completamente louca. Já que seu vício por limpeza não permitia que ela recebesse visitas sem que antes limpasse a casa inteira. Literalmente - Quero você aqui embaixo o quanto antes para receber nossos convidados. Já escolhi sua roupa, mandei deixarem em cima da sua cama.

O jeito direto que minha mãe me tratava provavelmente assusta algumas pessoas, já que as desconhecidas com quem ela falava antes me olhavam com os olhos arregalados. Bom, exceto uma das moças. A loira de olhos verdes que se encontrava no meio, trajando uma jardineira de cor bege manteve seu olhar no meu durante alguns segundos. Não sei ao certo o que aquele olhar significava, mas preferi desviar os olhos, tomando o líquido no copo cristalino.

- Voltando o que eu estava dizendo, como são novas aqui, precisam saber das regras - minha mãe disse com a voz firme - Não aceito que mostrem suas opiniões pessoais, crenças ou quaisquer tipo de ideais no horário de trabalho. Peço apenas o lado estritamente profissional de vocês.

Para não me prolongar muito naquele lugar ouvindo minha mãe dizendo as coisas mais absurdas para suas futuras funcionárias. Coloquei o copo na pia e me retirei da cozinha, era estranho, mas tive a sensação de ter sido mais observada que o costume assim que saí.

Dentro dessa casa parece que estamos no século dezoito, meus pais faltam pouco para chamarem os funcionários de servos. Mas é isso que se pode esperar de uma família republicana extremamente conservadora do Texas.

Assim que cheguei no quarto, já pude ver a roupa separada pela minha mãe. Uma saia preta, parecida com a que usávamos para ir à igreja, e uma blusa branca de manga comprida. Acompanhada de uma sapatilha preta simples.


***


Depois de devidamente arrumada, uma das funcionárias, senhora Delphine veio até meu quarto alertar que minha mãe já estava lá embaixo com os convidados. E aproveitou para me dizer que o filho dos Beauchamp's estava mais bonito do que ela se lembrava. Depois de Kyle, ela era minha outra amiga aqui dentro. Era impossível ficar triste tendo a companhia dela. Uma senhora que esbanjava uma energia alegre e contagiante.

Chegando ao primeiro andar novamente, os olhares foram todos direcionados a mim na escada. Minha irmã mais nova, Hina, estava em pé ao lado dos meus pais sentados em um dos sofás. E no outro, um casal de cabelos loiros, com dois garotos de camisa social branca ao lado. Me senti envergonhada com tantos olhares, mas antes que eu simplesmente abaixasse a cabeça, vi o olhar de minha mãe me repreendendo.

- Boa tarde, senhor e senhora Beauchamp - cumprimentei os mais velhos primeiro que sorriram com meu aperto de mãos.

- Heyoon, minha querida - a senhora Beauchamp veio me dar um abraço - Já está tão crescida. Ainda tenho todas as fotos que tiramos quando você e seus pais nos visitaram a alguns anos. Na mesma época que Josh dizia ser apaixonado por você - a mulher deu uma risada divertida, sendo acompanhada dos meus pais. Apenas com tal comentário, já sabia que o dia e provavelmente a semana, se resumiria neles empurrando o garoto loiro para cima de mim a todo custo.

O restante do dia se passou da forma mais entediante possível. Eu só queria deitar no meu quarto e ver um filme ou finalmente finalizar a leitura do meu quinto livro do ano, mas meus pais me fizeram socializar com os convidados o dia inteiro. Não que eu seja uma pessoa má educada, mas os assuntos deles eram extremamente antiquados. Mas obviamente eu não me atreveria a dizer isso em voz alta.

Josh o tempo inteiro era questionado pelo meu pai sobre seus planos para o futuro, e o garoto respondia tudo de uma maneira formal, detalhando seus próximos passos. Isso era algo que fazia meu pai sorrir, provavelmente ele gostava de saber que o rapaz que ele queria que se casasse com sua filha já era bem decidido sobre suas ideias. Mas a cada frase dita pelo garoto de cabelos loiros, sua mãe interrompia, para jogar algum tipo de indireta para mim. Dizendo que o Josh gostaria muito de chegar em casa depois de um dia de trabalho e ter uma esposa linda o esperando. Isso me deixava envergonhada, e eu tinha que ignorar os olhares mortais da minha mãe pedindo para que eu correspondesse aos comentários.


<3

Liberty - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora