Capítulo 10

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Logo após o jantar, me enfiei dentro do meu quarto, estava desde aquela hora sentada no chão, com as costas encostadas na cama, abraçada aos meus joelhos. Era uma sensação sufocante estar sempre tendo meu pai ditando todos os meus passos. Desde de criança.

Era ainda mais sufocante saber que eu dificilmente sairia daquela casa tão facilmente. Mas, pensando nisso, me lembrei de uma coisa que planejei durante os últimos meses, quando em uma das discussões que ouvi do meu pai, pude ouvir ele se referir a mim e a Hina como seus objetos. Eu já sabia que ele nos via de tal maneira, mas ouvir aquelas palavras era ainda pior.

Decidi descer até o jardim, o quarto parecia estar ficando sem ar, e eu precisava urgentemente do aroma leve do meu pessegueiro. Estava frio, mas dessa vez nem um casaco me lembrei de trazer, estava apenas com minha calça, as pantufas e uma blusa branca de tecido fino. Assim que pude encostar as costas no tronco da árvore, meus olhos mais uma vez se encheram d'água, e dessa vez me permiti chorar, voltando a ficar abraçada as minhas pernas.

Um cheiro forte se fez presente nos meus sentidos, e automaticamente já sabia que era Sina. Ela não fumava todos os dias, percebi que ela fazia isso apenas quando não conseguia dormir, ou quando estava pensativa demais sobre algo. Assim que limpei meus olhos com o dorso das mãos, vi a loira se aproximar de mim com um semblante preocupado.

- Ouvi você chorando - ela disse se sentando ao meu lado na grama - O que foi?

- Eu to cansada - deitei minha cabeça em seu ombro, logo recebendo seu braço em volta das minhas costas. As lágrimas voltaram - Não consigo mais ficar nessa casa, Sina.

- Pode me contar o que aconteceu - a voz dela soava calma, e o cheiro de seu cigarro de certo modo estava me acalmando também, não era muito forte.

- Meu pai… - tentei dizer, mas o nó que se formou em minha garganta me impediu de continuar. Sina apenas me apertou um pouco mais ao seu lado, deixando que seus dedos fizessem um carinho leve em meu braço - Ele falou com Josh, e mandou eu aceitar o pedido de namoro que ele ira me fazer daqui a alguns dias. Isso tudo porque meu pai precisa que o senhor Beauchamp aceite ser sócio dele.

- Pensei que gostasse do Josh - Sina disse - Você me falou bem dele.

- Josh é meu amigo, apenas isso - falei, passando a mão pelas minhas bochechas mais uma vez para secar um pouco as lágrimas que já estava cessando - O jeito que meu pai me enxerga como objeto, isso que me entristece tanto. Ele me empurraria para qualquer garoto que o pai tivesse interesse na empresa dele.

- Talvez já esteja na hora de você fazer aquilo que já te falei - Sina disse, tirando seu braço que ainda me envolvia, e virou sua atenção para mim - Conversar com eles sobre você arrumar um emprego e começar a caminhar sozinha.

- Isso não daria certo - respondi, vendo seus olhos verdes analisarem minuciosamente meu rosto que provavelmente estava vermelho - Ele só me deixaria trabalhar se fosse na empresa dele.

Sina continuava me olhando, e como todas as outras vezes, ela mordeu seu lábio inferior, que só agora pude perceber o quão chamativo ele era. Não tinha o que comentar sobre essa situação toda, eu não tinha controle sobre nada. Mas eu ainda possuia controle sobre os meus pensamentos, e foram eles que me incentivaram a montar um plano nos últimos meses.

- Eu já tenho um jeito para resolver isso tudo! - comentei, e a loira me olhava esperando que eu continuasse - Eu vou sair daqui, para o mais longe possível.

- E como pretende fazer isso? - ela me perguntou com um sorriso nos lábios. Provavelmente achou que eu estaria brincando ou algo do tipo.

- Eu estou falando sério, Sina - minha voz saiu firme - Eu vou acabar adoecendo se continuar aqui dentro por mais um dia. Eu já tenho um plano, e já tenho idade o suficiente para me virar lá fora.

- Então você vai fugir? - ela perguntou. O sorriso certinho que ela tem não estava mais presente, seu mesmo olhar quando me viu aqui chorando a poucos minutos se fez presente.

- Não tem outro jeito - conclui, e a loira que ainda me olhava, virou sua atenção para a grama, enquanto sua mão brincava com um pedaço de capim.

- Acho que você podia pensar mais sobre isso, Yoon - ela disse, usando o apelido que me deu a pouco tempo.

Eu sabia dos riscos que corria fazendo isso, mas já estava tudo planejado. Não importava se eu passasse apenas dois dias longe daqui até me encontrarem, eu só queria ficar longe por um tempo. Era só isso que eu desejava.

- Acho melhor você ir dormir - falei para a loira que voltou seus olhos em minha direção - Você me disse que teria que ir no mecânico logo cedo para buscar seu carro.

- Nossa, já estava me esquecendo disso - Sina disse, se levantando e esticando os braços para cima para se espreguiçar - Obrigada por me lembrar. Eu já vou indo, não fica muito tempo acordada, ok? - ela disse, e eu assenti, vendo ela se virar para ir embora.

Falando sobre seu carro, acabei me lembrando sobre o que ouvi meu pai dizer a ela mais cedo. Eu não queria dizer que estava escutando, mas aquela atitude dele realmente me fez mal.

- Sina! - chamei a mulher, que a passos lentos, se aproximou novamente de mim - Eu queria te pedir desculpas - antes que ela questionasse, continuei - Pelo o que meu pai te disse hoje no escritório.

- Você ouviu? - ela perguntou, cruzando os braços. Eu assenti, e vi a mesma soltar todo ar de seus pulmões pela boca.

- Eu sinto muito por aquelas palavras - falei, vendo a loira negar com a cabeça.

- Não precisa se desculpar por isso - ela disse.

- Eu fiquei envergonhada por essa atitude ridícula dele, por isso não voltei pra te ajudar com as plantas medicinais - admiti, e a loira se abaixou, ficando com a altura parecida com a minha.

- Não precisa disso, Yoon - Sina falou, me olhando diretamente nos olhos - Queria que você me prometesse não se envergonhar mais por esse tipo de atitude dele. Vocês tem o mesmo sangue, mas são pessoas diferentes - ela estendeu a mão para mim, e trocamos um toque de mãos - Ficamos combinadas assim então?

Assenti, e a loira me deixou ver seu sorriso uma última vez, antes de se virar e caminhar de volta para a casa dos funcionários. Vou sentir saudades desse sorriso, mesmo ela dizendo que eu deveria pensar melhor sobre o assunto de fugir, eu já estava destinada a fazer isso.


<3

Liberty - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora