Capítulo 5

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O passeio até foi divertido. Nossos pais realmente sumiram de vista quando Josh e eu ficamos entretidos em uma conversa sobre os instrumentos musicais de uma loja que passamos na frente. Josh agia como um verdadeiro cavalheiro comigo o tempo inteiro. Até acabamos cruzando com algumas meninas da minha escola, e como disse antes, a beleza do loiro era algo que chamava a atenção das garotas. E de certo modo, até mesmo de alguns garotos.

O restante do dia foi animado, no jantar, meu pai disse que faria sua famosa carne assada, e isso era algo divertido de se ver. Pois seu perfil 24 horas por dia era de um empresário sério, mas bastava ele colocar um avental dentro da cozinha, que sua versão mais divertida começava a florescer. Algo raro de se ver aqui.

À noite, exatamente a uma hora da manhã, do mesmo jeito que nos outros dias, todos já estavam em suas camas, descansando pelo dia de passeio que tivemos. Mas algo não me deixava descansar as pálpebras e dormir. Um tipo de ansiedade estava me fazendo ficar acordada, era estranho, pois eu estava cansada, mas meu corpo não demonstrava isso.

Decidi descer até o jardim, desta vez, acompanhada de um moletom de tecido grosso. Não passaria frio de novo. Havia apenas uma funcionária terminando de limpar a cozinha, a cumprimentei gentilmente, recebendo seu sorriso cansado como resposta. Acho que ela dormiria na casa dos funcionários hoje.

A sensação de ansiedade parece ter aumentado assim que coloquei os pés nas pedras que faziam o caminho no jardim, e mais uma vez meu corpo estava reagindo por impulso, fazendo com que meus olhos vasculhassem o local em busca de algo. Mas estava vazio.

Andei até meu pessegueiro e me sentei ali novamente, sem um livro desta vez, meus pensamentos acabaram se perdendo no dia de hoje. Principalmente no passeio com Josh, que se mostrava interessado em tudo que eu comentava. Até me ofereceu um livro novo de presente, já que provavelmente não poderia comparecer ao meu aniversário daqui a alguns meses. Pois seu pai já tinha agendado um milhão de coisas para o garoto na data.

- Você já terminou outro livro? - uma voz se fez presente no lugar, me tirando dos meus pensamentos. Assim que me virei, vi Sina, que tinha seu cabelo dividido em duas tranças boxeadoras, e do mesmo jeito que ontem, usava sua jardineira da cor bege. A mulher sorria desacreditada para mim, o que acabou me deixando um pouco envergonhada.

- Ainda não - respondi sincera, abraçando minhas pernas contra meu tronco - Demora um pouco mais para deixar a mente livre para começar um novo.

- Então suponho que seja algo rotineiro - ela disse, cruzando os braços embaixo dos seios - Suas visitas ao jardim de madrugada.

- É um lugar bom pra pensar, a qualquer momento - falei, arrumando meus cabelos que acabaram se bagunçando pelo vento - Apenas fiquei sem sono hoje. Mas e você, o que faz aqui a essa hora?

- Bom, não compartilho da mesma resposta que você, pois cansaço e sono é o que não me faltam hoje - ela deu uma risada, negando com a cabeça - Mas queria ver as damas da noite abrirem.

Acho que foi difícil esconder meu olhar de pura confusão com sua fala. E a loira não demorou para perceber isso.

- Pensei que era a senhorita que conhecia todas as plantas desse jardim - ela me desafiou, e começou a se afastar, fazendo um gesto com a mão para que eu a seguisse.

Me levantei e andei atrás da mulher que parou próxima a um arbusto cheio, onde várias flores brancas se destacavam com a luz da lua. A loira ao meu lado tinha um sorriso no rosto, e logo virou sua atenção em mim. As palavras travaram no final da minha garganta, e isso resultou em alguns segundos em que eu apenas encarava suas orbes verdes que de certo modo, conseguiram me transmitir uma onda de calmaria, que até senti meus ombros relaxarem.

- Então - ela interrompeu o silêncio - Essas são as damas da noite. Que só se mostram assim a luz da lua. Imagino que frequente mais o jardim de manhã, e nesse horário elas se fecham.

- Eu tenho que admitir que nunca reparei nelas antes - falei baixo, e logo ouvi sua risada, enquanto passava as mãos calmamente pelas folhas verdes do arbusto - Você parece que sabe até o que as plantas estão pensando - brinquei, e logo vi a mesma tentando esconder sua risada colocando uma mão sobre a boca.

- Depois de um tempo você acaba aprendendo a língua das plantas, e descobre todos os segredos delas - ela riu, mordendo o lábio inferior antes de prosseguir - Aqui tem muitas coisas interessantes, se vier aqui todos os horários do dia, aprenderá bastante coisa - ela comentou, colocando as mãos nos bolsos laterais da jardineira - Então, já tem alguma ideia de qual será sua próxima leitura? - ela puxou assunto, já caminhando novamente para o pessegueiro onde acabamos nos encontrando.

- Ainda não sei, acho que é a primeira vez que nem ao menos tenho uma ideia sobre o que ler - acompanhei ela em seus passos lentos - Mas não quero ficar aqui ocupando seu tempo. Você disse que está cansada, pode ir se deitar - disse sem graça, abaixando a cabeça. Ouvi o suspirar pesado da loira, e logo ela se sentou na grama ao meu lado.

- Posso lhe fazer companhia aqui, se isso não for um problema - ela me encarava, eu nem ao menos soube o que responder. E por uma falta de afirmação, ela continuou - Pode me contar o que mais pensou sobre o livro. Talvez assim sua mente consiga abrir espaço para novos universos literários - seu sorriso se mostrava extremamente acolhedor.

Era impressionante como meu cérebro se lembrou tão rapidamente sobre todos os tópicos que mais me deixaram interessada no livro que terminei. Ali eu teria a chance de conversar com alguém que até o momento, parecia não se cansar dos meus assuntos, e demonstrava um interesse completamente genuíno com os mesmos.

Me sentei ao seu lado na grama, e logo seus olhos foram de encontro aos meus, me incentivando a começar.

- Qual sua opinião sobre as atitudes que o Heathcliff toma, logo depois que Catherine morre? - perguntei, e a vi arquear as sobrancelhas, deixando seu olhar se perder por alguns míseros segundos em seus pés que estavam cobertos por um coturno.

- Posso saber primeiro qual sua idade? - ela perguntou, já se explicando logo em seguida - Só pra me certificar que não falarei nada de errado na frente de uma menor de idade.

- Eu tenho dezoito - respondi - Para ficarmos iguais, posso saber a sua?

- Mesmo não parecendo, já que com certeza eu ainda pareço ter quinze anos - ela brincou, arrancando uma risada minha - Tenho vinte e quatro - respondeu. Me surpreendi um pouco com a resposta, eu não esperava que ela tivesse mais de vinte anos. Realmente sua aparência juvenil enganava quem visse. Talvez isso explicasse um pouco sua beleza - Tudo bem, acho que posso te contar o que penso sobre Heathcliff. Estou curiosa para saber se concorda comigo em alguns pontos.

A madrugada seguiu assim, em meio a uma conversa mostrando o ponto de vista de cada uma sobre a leitura. Admito que nunca me senti tão à vontade expondo minha opinião para alguém que não fosse Hina ou Delphine, a funcionária mais antiga da casa. Sina conseguia demonstrar seu ponto de vista de uma maneira incrivelmente detalhada, e sempre bem humorada. Acabei indo para a cama com as bochechas doendo, de tantas risadas que a conversa com a loira me tirou.


<3

Liberty - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora