Drama

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Perto do final da primeira taça de vinho eles começaram.

— Deixa eu ver... — disse Oliver. — Uma coisa que você tem medo?

— Desse diretor, acho que ele é bem maluco.

— Isso tá na cara.

— E você?

— Não sei... Acho que medo da morte.

— Ah é?

Renato deu mais uma golada e voltou a encher a taça.

— Se bem que talvez não faça sentido, né?

— Ah, faz sim.

— Porque das duas uma: ou sua consciência se apaga de vez e nada mais importa ou você acorda em outro plano de existência e sente um alívio pelas coisas todas terem algum significado. Não há alternativa ruim.

— É. Pensando assim...

— Você tem filho? — perguntou Oliver, emergindo de repente do estado contemplativo em que se encontrava.

— Tenho um menino de um ano.

— Oh.

— E você?

— Não tenho nem corro risco de ter.

— Quer que eu encha a sua? — perguntou Renato quando o outro sorveu o que lhe havia restado na taça.

— Por favor.

Voltou a pegar a garrafa sobre a mesinha de vidro ao lado do sofá. Ouviram um som distante de um carro passando na rua. Estava tudo muito quieto.

— Eu sou homossexual — explicou Oliver. — E não pretendo adotar, então...

— Por que não?

— Eu não sei.

Oliver bebeu mais um pouco, apoiava o cotovelo nas costas do sofá e a cabeça na palma da mão, a leve embriaguez fazendo com que ele parecesse sempre distraído.

Renato quis saber se ele namorava. Ele fez que sim, acrescentando:

— A gente não se vê tem tempo. Ele tá fazendo intercâmbio.

— Ah...

— Tá na Irlanda.

— Desde quando?

— Vai fazer dois anos. Ele volta ano que vem.

— E vocês se viram depois que ele foi pra lá?

— Sim. Duas vezes. Numa eu passei quinze dias lá com ele. Noutra ele veio e ficou uma semana. Já tem uns meses. Uns seis ou sete, a última vez.

— Deve ser muito difícil, né?

— É... é difícil, mas não pelos motivos que as pessoas imaginam. Tipo, minha dor não vem da saudade e sim do fato de que parece que a gente vai se acostumando a ficar sem aquela pessoa, entende? Por mais que ela faça falta, você se acostuma, e após um tempo vai se questionando se vale ou não a pena continuar insistindo na relação...

Por um momento eles só beberam.

Renato perguntou:

— Você já foi infiel?

— Nunca.

— Jura?

— Juro, juro. Eu seria incapaz, incapaz mesmo.

— Então você deve ser uma pessoa bem carente.

Oliver sorriu.

— Às vezes...

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