Paradiso

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Estava tocando Keep on Rising (Ian Carey com participação de Michelle Shellers) na boate Paradiso.

Milena, Luma, Luan, Pedro, Jéssica, Cristiano e Tales atravessaram uma cortina cintilante feita de tiras prateadas. Eles se juntaram à multidão que dançava imersa no crepúsculo purpúreo do outro lado. Uma lâmpada giratória de led disparava caoticamente manchas luminosas pela sala, manchas vermelhas, verdes e amarelas. Peixes brilhavam em cores neon, dourados, ciano, magenta, dentro de um aquário de água cor-de-rosa. Uma garota loira chamada Amanda ria do outro lado do vidro; outra garota loira, chamada Camila, agarrou-a pela cintura. Havia um sofá de veludo azul-safira e sobre esse sofá estavam espalhadas tiras prateadas de uma cortina arrancada. Em meio às tiras da cortina encontrava-se um globo de discoteca, e ao lado dele outro globo, e outro globo, e outro globo. Essa cena se passava numa escuridão também azul, entrecortada por um círculo de luz envolto sucessiva e espaçadamente por outros círculos similares; sucessivamente, eles cresciam e desapareciam ao se tornarem grandes demais; voltavam, então, a se formar no núcleo, num ponto brilhante em meio aos globos, e esses globos atiravam essa luz nuclear para diversas direções dentro daquele cômodo em que tantas pessoas dançavam. Via-se mãos para cima em meio a uma névoa roxa, às vezes alaranjada. As mãos se moviam acompanhando corpos saltitantes. Havia coqueiros numa colina violeta. De trás dessa colina emergia um sol azul-purpúreo, um sol listrado de transparente, porque entre cada trecho de sol em gradiente azul para púrpura era possível enxergar a pirâmide roxa que se erguia atrás dele, contra um céu índigo, e do centro da qual irradiava um brilho lilás — na frente desse cenário estava uma pista de dança tão límpida que parecia um mar escuro, violáceo, refletindo a paisagem luminosa do painel. Júlia, Felipe, João e Fábia dançavam colados nessa pista de dança; acima deles, uma dúzia de globos de discoteca de diferentes tamanhos emitiam reflexos de luz em formato de estrelas de quatro pontas. Laura e Fernando foram fotografados se beijando — ela tinha erguido os dois braços formando um V em direção ao teto, onde o cintilar de um dos muitos globos foi captado pela câmera, e seus dedos indicadores e médios formavam outros dois Vs, evocando duplamente o sinal da paz.

No fumódromo, Hugo se aproximou de Osiris e Pablo e disse:

— Oi, o meu nome é Hugo Hwang e eu sou muito fã do seu trabalho, Osiris. Vocês devem me conhecer. Eu fiz o Ricardo da Malhação. Estão lembrados? Foi o papel principal ano retrasado.

Osiris Kozlowski e Pablo continuaram fumando seus cigarros. Pablo tinha a pele morena e quase dois metros de altura; seus membros musculosos eram cobertos de tatuagens; o pescoço também. Ele estava usando uma camisa metálica verde-turquesa, shorts curtos de um verde bem claro, boné florido com a aba virada para trás, meiões pretos, coturnos. A jaqueta jeans de Osiris era decorada com dezenas de patches e buttons. Ele também usava um boné — virado para frente, lançando sombra sobre os olhos.

Solidão na Floresta, O Silêncio Perfeito de uma Flor, Gosto de Cereja — enumerou Hugo — já assisti a cada um dos seus filmes pelo menos quatro vezes. Eu sou o seu maior fã. Quando soube que você tinha vindo ao Brasil, fiquei maluco. Faz quanto tempo que você não vem aqui, hein? Uns dez anos? Eu tentei falar contigo no aeroporto, no hotel... então um amigo me mandou mensagem, dizendo que te tinha te visto nesta boate. Larguei tudo o que eu estava fazendo e vim na hora! Você não imagina o quanto eu tô emocionado, cara!

Osiris esboçou um sorriso.

— Eu gosto demais de você — Hugo disse. — Meu sonho é participar de um filme seu. Depois de Malhação me ofereceram vários papéis, e muitos deles eu recusei. É difícil quando a gente é um ator e tem bom gosto, entende? Eu não quero participar de qualquer coisa, eu quero fazer filmes grandiosos, quero fazer algo que eu sinta que vá mudar a mente da população. Algo impactante, que faça diferença pra mim. Fazer novela abre portas, sim, e eu sou infinitamente grato por ter tido o privilégio de participar de uma e de ter me tornado tão famoso, só que meu negócio é outro. Eu gosto do cinema de arte. Não quero passar a vida fazendo papéis rasos no horário nobre da Globo. Eu quero estrelar o novo Parasita, sabe?

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