Tom of Finland

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— Boa tarde.

— Boa tarde.

— No que posso ajudá-lo, Antônio?

— Eu não acho que você possa me ajudar...

— Então o que te traz aqui?

— Eu vim porque o meu dermatologista, o dr. Maurício Costa, disse que talvez pudesse ser útil me consultar com um profissional de saúde mental... e eu vim mais pra provar pra ele que não, não será útil. É que ele insistiu tanto... mas meu problema é puramente dermatológico. Inclusive, ele ficou de te mandar o meu histórico. Ele chegou a te enviar alguma coisa?

— Não, ele não me enviou nada.

— Eu estou com um problema sério de pele.

— Em que região do corpo?

— Nas nádegas.

— E o que está acontecendo exatamente? O que é que te incomoda?

— As minhas nádegas, dr. Silva, elas... elas são feitas de vidro. É por isso que amarrei essa almofada na minha cintura. Imagina se eu trombo com alguém e caio sentado no chão! Imagina se eu sento de mal jeito! Sei lá... tenho medo da minha bunda quebrar toda.

— Entendi... Antônio, eu vou te fazer umas perguntas, por favor não se ofenda... Acho que sei qual é a causa da sua aflição e tenho uma ideia de como posso fazer com que ela desapareça. Você só vai ter que confiar em mim... vai ter que se abrir, me contar um pouco a respeito de tudo. Eu precisarei te fazer muitas perguntas... então no fim eu te darei o remédio de que você precisa.

— Acha mesmo que existe um remédio? Eu já estou perdendo as esperanças... já briguei com tantos médicos.

— Sim, eu conheço um remédio...

— Já houve outro como eu? Algum outro paciente já teve um problema semelhante? O que um profissional de saúde mental poderia fazer por mim, se meu problema está na carne?

— Não, não conheço caso semelhante ao teu, Antônio, infelizmente. Porém, não me parece algo tão difícil assim de se resolver. O remédio de que você precisa está aqui nesta sala, está à sua vista. E ele também é feito de carne.

— Eu gostaria que você fosse bem claro e objetivo comigo, doutor. Eu tenho pressa, quero me curar logo! Não aguento mais viver assim, sempre preocupado, sempre com medo de uma parte do meu corpo se chocar contra alguma coisa e se partir em pedacinhos. Eu convivo vinte e quatro horas por dia com esse medo: não consigo pensar em mais nada!

— Você vai precisar ter paciência. Vai precisar acreditar no que eu digo. Eu vou te curar e vou te curar hoje, isso é certo. No entanto, eu gostaria de coletar informações a seu respeito para que eu possa entender melhor sua enfermidade, com objetivos de pesquisa médica. Conte-me sobre sua vida e te dou o remédio. Responda minhas perguntas e terá de mim o antídoto que dará fim ao seu tormento...

— Tudo bem, pode ser... eu faço o que o senhor quiser, tanto que eu saia desse consultório hoje curado, tanto que eu tenha essa garantia, aceito qualquer coisa.

— Certo, Antônio, então vamos começar.

O médico perguntou:

— Quem você mais ama?

Antônio respondeu:

— Deus.

— Qual é a sua religião?

— Sou cristão.

— Quando foi que você percebeu que suas nádegas eram feitas de vidro?

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