Madu ✨
Fiquei mal real, juro. Sempre foi assim, entende? Maria Eduarda sempre levou a culpa do fim do relacionamento dos pais dela, motivo pra minha mãe sempre pesar na minha mente.
Com muito tempo de terapia, eu entendi que a culpa não era a minha. Mas as vezes, me vem ainda essa questão de culpa, tentando imaginar se eu realmente fiz alguma coisa de errado.
Deco : Não, na real mesmo, vou ficar bolado se você der ideia pras coisas que ela fala. -Ele começou a falar baixo no meu ouvido, quando eu deitei na cama, e ele se ajeitou la também. Tava de costas pra ele, apoiando minha cabeça nas minhas mãos. -Não deixa isso te consumir, olha pras coisas que você conquistou, só com 20 anos nas costas. Sem precisar de pisar em alguém, trabalha, corre atrás do seu, é inteligente, não faz sentido nenhum, tu não consegui perceber que é uma mulher foda pra caralho, Maria Eduarda. Não precisa de da satisfação pra ninguém, eu sei que eu tô com você, pela mulher que você é, entende? Seu pai, sua irmã e seu irmão, se importam com você, agradece por isso, ela, você deixa.
Madu : É complicado, pra mim entender isso. -Virei de frente pra ele, que secou meu rosto com o polegar. -Antes eu não dava ideia, ela falava e eu ignorava, era como se eu não me importasse...
Deco : E por que não continua não se importando? -Perguntou olhando pra mim e eu desviei, olhando pra porta do quarto. Fiquei calada, pensando, em tudo que aconteceu, desde o dia que meu pai descobriu a traição.
Madu : Ela sempre desejou que eu morresse...tentou me abortar, não conseguiu. Ela não deixou eu me mudar, com meu pai, jurando que seria a melhor mãe do mundo...mas na primeira oportunidade que teve, ela influenciou que eu me matasse, falando que era a melhor opção, pra pessoas rejeitadas, como eu. Então ela me disse que a Lorena sempre iria ser a filha favorita, que ela precisava de cuidar dela, e ajudar com o Henrique, mas que pra isso acontecer, eu não poderia estar na vida dela, e ela mesmo não poderia me matar, porque se não ia ser presa. E quando eu tentei, ela me taxou de louca, me internando.
Nunca consegui falar sobre isso, com ninguém, nem mesmo com a minha psiquiatra, não sei, na minha cabeça sempre foi melhor lidar com os meus problemas sozinha, então quando eu me sentia mal, eu só sumia, ficava na minha.
Deco : Olha pra mim. -Ele puxou meu rosto pra cima e eu desabei, chorei pra caralho mesmo, ele me abraçou e eu fiquei quietinha. -Mais um motivo pra você não da ideia, gata, ce é inteligente pra caralho, consegue perceber que culpa de nada disso, é sua. É ela, Maria Eduarda, que tinha que ta internada, esse tempo todo, ela que é louca, não é você. Esse tempo todo, você teve que suportar coisas que nunca precisou, viveu no próprio inferno, e mesmo assim deu a volta por cima, se tornando o que é hoje. Ela não vale, sua lágrima, sua culpa. O que vale seu choro, é sua trajetória, o que te fez passar, pra chegar aqui, sem desistir, entende? -Concordei com a cabeça e ele beijou minha testa, passando a mão no meu cabelo. -Me importo com você, pra caralho, preciso de te vê bem.
Madu : Eu tô. -Falei baixinho. -Obrigada por tudo, ta? -Ele sorriu pra mim e eu apertei ele.
Dormi e acho que acordei uns quarenta minutos depois, Deco voltou pro quarto de outra roupa já, tomado banho, pelo cabelo molhado.
Deco : Ta melhor? -Confirmei com a cabeça e ele passou o perfume dele. -Quer fazer o que agora? Na rua, por favor, vai da um pouco de risada. -Eu ri, ficando sentada na cama.
Madu : Quais as opções? -Perguntei soltando meu cabelo e ele parou pra pensar.
Deco : Minha filha, estando comigo, é felicidade na certa, esquece. -Falou e eu ri, confirmando. -Ou a gente lancha, em algum lugar por aqui ou a gente vai no churrasco do time, lá no Cadu.
Madu : Vamo no churrasco então, ce merece depois do jogo de hoje. -Ele negou com a cabeça rindo e eu levantei. -Tem roupa minha aqui né, espera eu tomar banho, coisa rápida.
Deco : Vai lá, vou comprar cerveja ali, enquanto isso. -Concordei entrando no banheiro e tomei meu banho. Vesti minha roupa e passei o 212 do Deco, penteando meu cabelo logo em seguida.
Eu vi da janela que ele tava na esquina, e desci, trancando a porta com a chave que ele tinha deixado. Me aproximei dele, que subiu na moto e eu peguei a sacola da mão dele, subindo logo em seguida.