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Luiza 🦋

Entrei na salinha do Deco e sentei no sofá, respirando fundo por estar cansada. Ele me olhou rindo e eu peguei um copo de água.

Luiza : Tu tinha que colocar um elevador nesse morro, não tenho perna pra subir isso não. -Resmunguei tentando fugir de qualquer assunto relacionado ao estrupo.

Ele se culpa, eu percebo isso, entende? Da pra perceber, mas ele não entende, que eu sei que a culpa disso tudo não é dele.

Deco : Segunda-feira tu volta pra terapia, ta? -Olhei pra ele e concordei sem falar nada. -Tu acha que ta preparada, pra voltar pra faculdade?

Luiza : Meu amor, Luiza já nasceu preparada. -Falei brincando e ele continuou me encarando. -Tô falando sério, Luan, eu tô bem pra ir.

Mentira, tô bem nada!

Luiza : Só queria que você mudasse meu segurança, pra uma mulher, não sei se é possível, mas...

Deco : Pô, tem a Andressa. -Olhei pra ele, que tava tentando desviar. -Vou falar com ela.

Luiza : Se só tiver ela, não tem problema...

Ele negou com a cabeça e eu fiquei preocupada. Ano passado, ele se envolveu com a Andressa, ela trabalhava aqui, ia em campo mesmo.

Melhor que muito soldado, e ela era a única mulher, e forte pra caralho. Geral respeitava. Ai nessa, o Deco gamou.

Os dois ficaram juntos uns sete, oito meses, não lembro muito bem. Madu nem tava aqui mais, já tinha sido internada.

So sei que deu maior rolo, porque ela começou a ter muito ciúmes, ia pra cima mesmo. Ninguém podia respirar, do lado dele, que ela virava a onça.

Ai ele terminou e mandou ela pro Morro da Fé, não sei, se ela ainda mexe com ele, não queria vê ele mal, e na época, dava pra vê que ele queria ela por perto.

Deco : Fica sussa, Luiza, não grila com isso. -Ele passou a mão no rosto e levantou da cadeira dele. -Eu vou descer, tu vai?

Luiza : De moto eu vou, andando não, sem condi. -Levantei do sofá e sai andando atrás dele, que foi no banheiro e eu sentei na cadeira ali, reparando o movimento la fora.

Cadu entrou na boca e na hora eu virei meu rosto pro outro lado, evitando qualquer tipo de contato direto com ele.

Estalei meus dedos e enguli em seco, olhando pra outro lado, torcendo pro Deco voltar rápido.

Cadu : Boa tarde, Luiza. -Ele falou e eu olhei pra ele, dando um sorriso forçado.

Levantei da cadeira e sai rápido da boca, segurando pra não chorar. Não é como se eu quisesse, entende? É que é complicado, o Th fechava comigo pra tudo, e fez o que fez.

Os de fora não vão fazer?

Encostei na parede, e o Deco saiu, me olhando com a testa franzida. Respirei fundo e voltei pro lado dele.

Deco : Tava pensando, vamo pra Angra, esse fim de semana. -Me entregou o capacete e eu peguei, indicando não ser uma boa ideia. -Sem estresse, Lu, pra aproveitar.

Luiza : Se a Madu for, eu vou. -Ele concordou e eu subi na moto, apertando a travinha do capacete.

Segurei no suporte de apoio e ele desceu o morro, dei dois tapinhas nas costas dele, que me olhou pelo retrovisor, indicando pra ele parar.

Luiza : Vou ficar aqui, com a Madu. -Ele concordou e estacionou, e eu sai da moto.

Deco : Luiza. -Olhou pros lados, e eu olhei pra ele. -Para de fingir que ta bem, tu não sabe o tanto que eu fico mal por isso.

Luiza : Luan, eu não tô bem, é óbvio, mas eu não quero ficar me vitimizando. Do que adianta, se nada vai voltar atrás? Aconteceu, e é isso. Assim como você fica triste, me vendo, eu também fico, percebendo que você se culpa todos os dias, por algo que não é culpa sua. Não foi você, caralho, não faz isso, comigo, muito menos com você. Eu sei o tanto que você me ama, e eu te amo também, mas cara, não fica assim por mim. É em relação a mim, não em relação a você.

Sai e entrei no studio da Madu, limpando uma lágrima. Eu morro por dentro todos os dias, quando eu lembro o que aconteceu, mas enxergar uma expressão de pena, no rosto das pessoas, me deixa pior ainda.

Madu : E ai gata. -Falou e eu dei um sorriso de lado pra ela. -Ta bem?

Luiza : Vou ficar se você prometer pra mim, que vai descer pra Angra comigo esse fim de semana. -Ela me olhou rindo e eu fui explicar ela, já que tinha um tempinho que eu e o Deco estávamos conversando sobre isso.

Madu : Eu animo. -Respondeu rindo. -Mas eu vou mesmo, se você deixar eu treinar uma tatto em você.

Gargalhei da cara de cínica dela e fiz cara de medo, na zueira, mas concordei.

Madu : É uma borboletinha, ó, igual a minha. Simboliza liberdade e determinação.

Deixei ela fazer no meu pulso e fiquei conversando com ela. Acho incrível o jeito que ela me faz bem.

Ela luta todos os dias contra a depressão, mas eu percebo, que ela luta por mim também, e isso me faz querer ficar do lado dela todos os dias da minha vida.

(…)

Recomeçar [M] Onde histórias criam vida. Descubra agora