XIV

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Enquanto tirava mais algumas fotos e Henry brincava na casinha, escuto passos vindo de dentro de casa. Desvio meu olhar do jardim à porta dos fundos e vejo Sophie nos observando.

- Meninos, o pai de vocês já se arrumou, vamos?

- Tá bom mamãe! - Henry diz, já descendo da casinha e vindo ao seu encontro. Os dois olham em minha direção, esperando me levantar e mostrar animação com a idéia do passeio.

- Tá tá, só vou guardar isso no meu quarto. - falo apontando pra câmera.

- Quando estiver pronto, estaremos te esperando na sala.

- Certo.

Caminho porta a dentro e subo as escadas, indo para meu quarto. Guardo o quê precisava na prateleira e deixo meu casaco sobre a cadeira, porque provavelmente a temperatura vai aumentar e não estou afim de passar calor.

Também aproveito para verificar meu celular, e o mesmo já tinha algumas notificações na tela de bloqueio, a maioria sendo de Don. Mas por rancores passados, decidi não responder agora. Não sei quantas vezes aquele idiota me deu vaco afinal. Volto para o andar de baixo e os vejo conversando sobre alguma coisa, mas não ligo muito.

- Tudo pronto.

- Que bom! O Henry já escolheu a primeira parada do nosso cronograma.

- E qual seria? - pergunto tentando mostrar certo interesse.

- Lanchonete!!! - o pequeno diz, pulando do sofá empolgado.

Olho a sala por completo e vejo meu pai sorrindo com a reação de Henry. Ver ele feliz assim em casa era uma raridade, porém o mesmo sempre tentava me alegrar quando algo de ruim acontecia, acompanhado de seu violão e uma pasta de música recheada de partituras.

- Certo, vamos?

Ele puxa as chaves do bolso e destranca a porta, dando passagem para nós passarmos. Indo em direção ao carro, vejo o mais novo saltitar por empolgação. Não sei se almoçar às 11:25 pode ser considerado algo tão divertido assim, mas não quero estragar a felicidade dele.

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Enquanto eles conversavam sobre possíveis lugares para se visitar, eu lembrei da proposta de Norman sobre o desconto na loja do tio dele. Eu seria muito cara de pau se chegasse lá e dissesse:

- Como vai? Então, suponhamos que seu sobrinho tenha me dado um certo desconto na loja, apenas por um ovo frito. Você acreditaria?

Isso com certeza não daria certo, e também seria muito egoísta da minha parte se usasse esse "possível desconto" a meu favor. É muita desvantagem pra ele, ainda mais por eu ter feito um favor simples. Melhor nem tocar nesse assunto.

Olho pela janela, avisto o outdoor da lanchonete e o reconheço no mesmo instante em que o vejo. Faz um tempo que não venho aqui. Pelo o quê me lembro, a última vez foi aos meus 12 anos, quando tentavam me convencer a morar aqui. A comida era boa, mas nem se comparava a da minha mãe.

Eu sempre tive a mania de comparar tudo e todos, então não venha me chamar de mimado por isso. É apenas um hábito que acabei criando e nunca mais abandonei. Serve, na maioria das vezes, para me comparar com os outros. Por exemplo: "eu poderia ser mais sociável como a Emma, pelo menos iria me ajudar a fazer amigos", ou "preciso urgentemente trabalhar meu raciocínio lógico, se não, não vou conseguir acompanhar o pensamento rápido de Norman". São pequenas comparações que acabam totalmente com a minha autoestima. Mas está tudo bem, já me acostumei.

Mal percebo que já estávamos no estacionamento e que precisava sair do carro, por estarem me esperando do lado de fora. Imediatamente retiro o cinto e abro a porta para sair.

Para o Que Der e Vier (Incompleta)Onde histórias criam vida. Descubra agora