Hello, espero que gostem!
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Miami, Flórida – 23h42m
Santana POV
Tempestade. Incríveis e inesperadas gotas gordas e rápidas caíam do céu, que incrivelmente continuava limpo, com as estrelas visíveis e a lua brilhante. A famosa chuva de verão. Por um momento me lembrei das vezes que eu e dona Maribel íamos para a fazenda de meus avós durante as longas temporadas de chuva em Ohio e meu avô, sempre de bem com a vida, puxava-nos para frente da lareira e nos contava uma de suas milhares histórias, como quando conheceu a vovó, ou como quando seu sogro – meu bisavô – quase o expulsou na primeira vez que o conheceu, todo esfarrapado e de chinelos, junto de várias outras histórias que eu já havia escutado mais de trezentas vezes, mas eram sempre engraçadas como na primeira. Eu sentia falta dele em todos os dias de chuva, em todos os dias que me fazia lembra-lo.
Lentamente me aproximei da varanda da sala, que estava com o chão encharcado devido algumas gotas que se atreviam a passar pela grande tela de nylon. Meus pés descalços molharam assim que entrei em contato com o azulejo, mas pouco me importei. Em minhas mãos um porta-retrato antigo, onde minha avó Alma e meu avô Pedro se abraçavam, um com o braço na cintura do outro, minha mãe vestida sempre muito elegante em seu terninho, sorria amplamente para a câmera comigo em seu colo. Eu devia ter por volta dos dois anos e se quer olhava para o provável fotógrafo. Eu estava mais interessada em admirar e mexer na bela gravata borboleta que meu avô usava.
Agarrei a foto contra meu peito e deixei que algumas lágrimas descessem. Fazia bons meses, diria até anos, que eu não chorava. Talvez desde o fatídico dia em que meu avô, com sua caminhonete verde-musgo, um pouco enferrujada e banhada de lama, caiu em uma vala numa estrada qualquer. Então, me permiti derramar todas as lágrimas que não havia derramado em seu funeral, nem depois disso.
Amanhã já era terça-feira, teria que voltar para a pose de sempre, a pose de imponente que eu possuía na empresa, a pose que fazia muitos dos funcionários morrerem de medo. Apesar de eu ter um cargo relevante na empresa, não era como se eu fosse a dona ou qualquer coisa do tipo, dona Maribel ocupava muito competentemente esse cargo e, me surpreendendo as vezes, estava sempre com um sorriso no rosto em qualquer situação, inocente demais, fazia até com que alguns tirassem vantagem disso, e eu estava lá para não deixar com que isso acontecesse, para não deixar que fizessem minha mãe de boba.
A chuva continuava a despencar fortemente, o barulho misturado com a música fúnebre de algum vizinho, deixava minha situação digna de algum filme de drama barato. Snixx deitado na soleira da porta, medroso demais para colocar sua patinha no chão gelado, olhava-me um pouco sonolento por ter sido acordado no meio da noite – quase madrugada –, e se mexia um pouco cada vez que um trovão mais alto soava no céu escuro.
Não sei quanto tempo fiquei deitada na espreguiçadeira de madeira na varanda, mas de dei conta quando fechei os olhos e acabei adormecendo o resto da noite e da madrugada, com algumas gotículas de chuva respingando em meu rosto ao pularem da tela. Sonhei com meu avô, sorrindo feliz ao fritar suas costumeiras batatas "gourmet", como ele sempre dizia.
Acordei assustada com o despertador do meu celular no volume máximo jogado sob uma das almofadas do sofá. Minhas costas doíam devido à posição desconfortável ao qual fiquei durante horas de sono. Obviamente era 07h da manhã, o horário que sempre despertava em dias de trabalho. A tempestade já havia passado, porém ainda era possível ver um chuvisco fraco caindo do céu, o cheiro de terra e grama molhada estava bastante presente. Inspirei profundamente, era com certeza meu cheiro preferido.
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Not Afraid - Brittana
Hayran KurguSerá que todos estamos prontos para amar quando o amor bate a nossa porta? Será que todos querem se permitir sentir o amor? Ou apenas ficamos estagnados quando vemos que a pessoa ao qual bateu na nossa porta não se encaixa nos padrões que nós mesmos...