extra // aquele nanico enlatado...

1.8K 256 29
                                    

Thor”, Loki diz em seu costumeiro tom reprovador.

Eu o fito de soslaio, mas ignoro seu alerta. Olho para as milhares de caixas no meio da sala e meneio a cabeça, decidindo por empilhá-las uma em cima da outra. “Nós precisamos de espaço, Loki, onde vão botar os móveis com todas essas tralhas espalhadas pela casa?”

Loki abre a boca, ofendido. “Essas tralhas são minhas coisas, seu ogro. Ei, cuidado com isso!”, diz enquanto puxa uma caixa de minhas mãos, onde havia alguns livros velhos e empoeirados que pareciam ter milênios de existência. Ele pousa o objeto em um canto mais afastado, ainda com uma carranca. “Não sei por que temos de nos mudar com tanta frequência, não é como se Odin ainda estivesse nos procurando a essa altura.”

“Não é essa a questão, querido”, suspiro, indo ao seu encontro para abraçá-lo de lado. Loki cerra os olhos em suspeição, irredutível. “Estamos nos mudando porque descobriram quem eu sou no nosso antigo prédio, simples”, explico pela centésima vez.

Ele revira os olhos, saindo de meus braços. “Vai me dizer que você é algum tipo de celebridade nesse lugar imundo?”

“Um herói”, corrijo, voltando à minha tarefa de empilhar as caixas de papelão. Loki continua me observando com a mesma expressão séria, então abro um sorriso convencido. “Sei que você tem ciúmes...”

“Oh, por favor”, ele balbucia desdenhoso e checa as horas no seu celular, ainda visivelmente cismado com as tecnologias midgardianas mesmo depois de tantos anos. “Ande logo com isso, restam algumas coisas para empacotar.”

“Se eu soubesse que seria tão materialista no futuro nunca teria me casado com você”, murmuro risonho.

Ele dá de ombros, fingindo não ter se afetado com minhas palavras. “Você sempre tem a opção de me entregar a Odin, continuo sendo um prisioneiro, afinal.”

É minha vez revirar os olhos. “E ainda tem a audácia de me chamar de dramático.”

“Calado”, ordena enquanto atende uma ligação. “Alô? O quê? Não, eu não—Stark, se você fizer isso...” Franzo o cenho ouvindo a conversa, então me aproximo novamente. Ele me lança um olhar pontuado ainda discutindo no telefone. “Eu absolutamente repudio quaisquer fraternizações que vocês humanos organizam e... Stark? Stark!” Loki me encara indignado.“Ele desligou na minha cara! Aquele nanico enlatado—”

Limito-me a rir das suas reclamações. “O que ele queria, afinal?”

“Disse que vai nos fazer uma festa de boas vindas à vizinhança”, ele responde miseravelmente, parecendo exausto do tal evento somente em imaginá-lo. “Thor, diga a ele que não queremos. Eu detesto esse tipo de coisa e você sabe.”

Lanço-o um olhar ponderativo, então junto as sobrancelhas em uma expressão suplicante. “Ah, Loki. Por favor, vai ser divertido!”

Ele me olha como se houvesse sido traído brutalmente. “Você não pode estar falando sério.”

“Vamos apenas tentar, tudo bem? Se você realmente não gostar, digo a Tony para nunca mais fazer nada parecido.”

Trocamos um olhar demorado, até que Loki solta um longo suspiro e revira os olhos impaciente. “Certo. Mas se alguém amanhecer debaixo de Mjonir novamente e você estiver muito ocupado roncando como um porco em outro coma alcoólico, não irei mover um dedo para ajudá-los!”

Apenas sorrio com suas palavras, lhe dando um rápido selinho. “Fechado.”

>>><<<

Se há algo que meu amigo Tony Stark sabe fazer são festas. E embora o desfecho desta em específico não tenha sido lá dos melhores, ainda assim valeu a pena! Tenho vontade de dizer isso ao meu esposo, porém receio que ele simplesmente use sua magia para me fazer calar a boca de vez. Sua ira é quase que palpável enquanto cuida dos meus ferimentos.

Não culpo Stark por ter achado uma boa ideia trazer uma das criaturas de Asgard à Terra como uma forma de nos lembrar de casa. Ele não está familiarizado com as peculiaridades de nossos lobos, afinal; como iria saber que eles têm um carinho especial por Loki e que, por conta desse carinho, destruiriam tudo e todos pela frente tentando conseguir a cabeça do mesmo como um troféu?

Mas felizmente, depois da confusão que se instalou, ninguém saiu ferido. Além de mim, claro. Como Loki havia previsto, no momento da batalha Mjonir estava sendo utilizado para outros fins sob a custódia de um Clint bêbado e um Sam travesso. Por esse motivo precisei batalhar com minhas próprias mãos, sem arma alguma para me defender. Agora aqui estou eu, com meu esposo há mais de dez minutos tentando conter o sangramento em meu tórax.

“Você é um tolo”, Loki murmura mais uma vez, porque nunca é demais fazer aquela observação. Solto um pequeno suspiro de dor quando a magia entra em contato com meu ferimento no estômago e ele me lança um olhar preocupado. “Shh, já está passando...”, adiciona em um tom mais doce, afagando meu braço no processo.

Dou um meio sorriso com o gesto. “Você tinha razão, dessa vez Tony foi longe demais”, comento um pouco baixo, esperando pela remarca convencida de sempre.

Eu não estava errado. “Oh, que novidade”, há ironia em sua voz aveludada, mas também certo divertimento. Ele finaliza o encanto e analisa o próprio trabalho, assentindo satisfeito para meu abdômen. “Está novinho em folha novamente, pronto para mais um round contra Fenrir.”

Franzo o cenho descontente ao me lembrar do acontecido. “Eu passo, mas obrigado pela oferta.”

Loki meneia a cabeça enquanto arruma meus travesseiros. “Na próxima vez que quiser dar uma de herói, ao menos se certifique de que Mjonir está por perto.”

“Você quase foi devorado por Fenrir, Loki. Como poderia apenas sentar e assistir em silêncio?”

Ele suspira. “Não foi isso que quis dizer e você sabe.”

“Sei que se preocupa”, começo, pegando suas mãos nas minhas. Fito seus olhos e por um momento esqueço de tudo que ocorreu àquela noite, perdido na beleza de suas írises. “Mas sempre fui um guerreiro, afinal. Aqui ou em Asgard, nada mudou.”

“E eu achando que viveríamos uma vida chata e comum longe da cidade dourada”, Loki resmunga, encarando o céu pela janela.

“Com você nada poderia ser chato, meu amor”, abro um sorriso galanteador e beijo suas mãos, o puxando para mais perto até que seu corpo esteja sobre o meu na cama.

“Se acha que vai me ganhar com seus cortejos baratos...”, tenta protestar, porém calo suas reclamações com um beijo profundo e molhado.

Loki ofega em meus braços e aperto sua cintura contra a minha, bagunçando seus fios negros inconscientemente. Sorrio contra seus lábios, deixando ali vários selinhos. “Você dizia...?”

Ele revira os olhos, mas também está sorrindo. É a visão mais linda que já tive. “Calado.”

n/a:

não sei deu vontade

SWEET CREATURE | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora