chapter IX

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Loki está sentado na beirada da cama, olhando fixamente o céu escuro pela janela. É uma noite sem luar, sem estrelas; apenas a iluminação fraca nos deixa cientes de que há, de fato, um astro nos prevenindo de uma escuridão absoluta. Há algo conveniente na rajada fria de vento que vez por outra beija nossos rostos, anulando o calor do ambiente aquecido pela lareira em meu quarto. O vazio lá fora transcreve perfeitamente o silêncio incisivo que há entre o rapaz de cabelos negros e eu, sentado ao seu lado; tão imóvel quanto seu olhar direcionado à noite escura.

“O que ocupa sua mente?”

“Nada importante”, ele diz. Provavelmente tentou disfarçar o receio em sua voz, mas fora inútil. Seus olhos distantes entregam sua angústia.

“Diga o que é”, peço — delicadamente. Pois, caso não seja a hora, tenho de respeitar seu tempo.

Loki me olha de relance, tão rápido que mal percebo suas írises se moverem. “Estou preocupado com você, só isso.”

“Sua preocupação tem algo a ver com minha coroação? Porque se tiver...”

Loki abana a mão desinteressadamente, então me olha sério. “Sua preocupação com a própria vida me comove.”

“Minha própria vida? Loki, eu sou mais do que apenas o futuro rei de Asgard.”

Loki revira os olhos e me sinto ligeiramente ofendido. “Não seja dramático, Thor. Você sabe que está sendo um delinquente.”

“Loki—”

“Um estúpido—”

Loki.”

“Um tolo—”

“Chega!”, brado. Há algo em seus olhos que me faz arrepender-me do ímpeto em meu tom, mas apenas suspiro lentamente e volto a fitar a janela. “Eu posso ser um delinquente, um estúpido, um tolo por toda uma vida se isso me der o direito de estar com você. Já não me importa nada, Loki, contanto que estejamos juntos. Mas infelizmente tenho a impressão de que você não dá tanta importância a nós dois quanto dá ao meu trono”, praticamente sussurro as últimas palavras e Loki me olha incrédulo.

“Nem pense nisso, Thor.”

“Então não me faça”, sussurro novamente — cansado. “Eu amo você como nunca amei ninguém e não vou deixá-lo por um trono ou por que nossos pais não aceitam nosso amor. Não é direito deles nos privar de nossa felicidade.”

Loki sorri com dentes, mas não está feliz. Seus olhos azuis me lembram um oceano em meio a uma tempestade, mas seu olhar é tão vazio quanto as águas paradas no meio do mar. “Não quero causá-lo mais mal do que já o fiz”, ele confessa. Seus olhos vão imediatamente ao chão e eu tomo suas mãos nas minhas; pálidas e geladas.

“Então não me deixe.”

“Nunca”, ele sussurra. Loki aproxima lentamente seu rosto ao meu e olha em meus olhos, clamando em silêncio por um contato do qual necessitamos. “Nunca.”

“Venha aqui”, minhas mãos vão ao seu rosto e acaricio a curva de seu pescoço como uma criança inocente descobrindo um território novo para se aventurar. A dança que meus dedos fazem sobre sua pele macia e pálida causa-lhe pequenas risadas que preenchem meus ouvidos como a mais bela e agradável música.

“Sei que esse não é o momento, mas quero que saiba que nunca quis realmente ferir os humanos”, ele sussurra a um centímetro dos meus lábios. “Aconteceram coisas... Depois que caí da Bifrost, acabei em um lugar terrível. Eu não contralava minha mente ou minhas ações”, seus olhos estão cheios de lágrimas e eu as limpo de suas bochechas agora com um tom levemente rubro. “Eu estava com raiva, é verdade. Mas nunca a ponto de... Ferir outras pessoas — tantas pessoas. Principalmente você. Eu sinto muito”, ele termina sua fala com um soluço silencioso e o tomo em meus braços. “Eu sinto muito”, torna a dizer contra meu corpo, sua voz embargada e os soluços agora uma bagunça.

“Tudo bem. Está tudo bem agora, tudo irá ficar bem”, aperto-o em meus braços. “Você...”

Sou interrompido pela porta abrindo abruptamente. “Então é verdade”, ouço a voz de Odin se aproximando e suspiro, fechando os olhos. “Não acreditei quando Frigga me disse, tive que ver com meus próprios olhos.”

SWEET CREATURE | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora