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Flashback
12 anos antes do acontecimento

"A patologia do Luke é algo muito... especial." O médico suspirou, coçando a testa e pressionando a cana do nariz com ambos os dedos. Remexia nos papéis sem parar e nervosamente, enquanto o pequeno Luke brincava com Amnesia que se encontrava num carrinho de bebé recentemente adquirido pela família. A mãe, sentada, suspirou fundo e deixou cair uma lágrima. O pai ergueu uma sobrancelha.

"Patologia especial? Que tipo de patologia?" Perguntou o homem.

"O Luke está a desenvolver comportamentos bastante... Peculiares. Já o sigo há relativamente bastante tempo e o diagnóstico aponta para uma melhoria nos problemas do Luke com a asma. Porém, há algo de errado no cérebro daquela criança... Algo... Fora de controlo."

Amnesia deixou cair a sua boneca do carrinho e não foi, obviamente, capaz de a apanhar. O choro imediatamente irrompeu pela sua boca. A mãe apressou-se a levantar-se para a calar, mas não foi a tempo. Luke já lá estava, abraçando a irmã e devolvendo-lhe a boneca, fazendo-a parar de chorar.

"Quer dizer que..." uma lágrima escorreu pela cara da mãe. "O nosso filho vai matar pessoas se não o impedirmos?"

O médico mordeu o lábio.

"Gosto de pensar que o Luke nunca cederá aos seus verdadeiros instintos... Será medicado, acompanhado por um psiquiatra e deverá ser vigiado a vida toda. Só isso ditará o seu futuro. Porém, vai haver uma altura em que a doença ficará fora do controlo... Ele será um perigo para todos."

"Está a querer dizer que o nosso filho terá de ser parado numa altura da sua vida?" Perguntou a voz do pai das crianças, implacável e sem qualquer compaixão na voz.

"É precisamente isso que estou a dizer."


"Luke!" As lágrimas caíam aos molhos pela cara da irmã. "O que vamos fazer Luke? Vão descobrir que a matámos!"

Luke pousou o extintor no chão depois de apagar o fogo do corpo esturricado da avó, impedindo assim que este pegasse fogo ao resto do quarto e os matasse aos 2. Trancara-se com a irmã na casa de banho já que esta não aguentara a visão nem o cheiro do corpo da avó completamente carbonizado.

"Amnesia, vais ouvir-me com muita atenção." Os irmãos fitaram-se e Luke acariciou a bochecha da irmã. "Eu vou resolver o meu problema à minha maneira. A única coisa que quero é que vás para o teu quarto, te tranques lá e só saias quando eu pedir sim?"

"Mas Luke..." As lágrimas começaram a cair pelo rosto da irmã, mas foram imediatamente cessadas pelos beijos do irmão.
"Eu prometo que resolvo isto meu amor. Só te peço que vás para o teu quarto."

Selaram os lábios.

O corpo da avó era mais pesado do que ele achara, mas quando se tratava do corpo da avó e de mais uma empregada chata que ele nunca vira na vida era ainda pior de aguentar. Não podiam existir testemunhas do crime que Luke cometera. Tivera de matar a empregada. Sabia que ela era uma velha sem família ou alguém que se interessasse por ela, portanto não havia problema. Mas o que faria com a sua avó?
Os vizinhos da velha viviam a bastantes metros de distância, portanto cavar dois buracos bem fundos na traseira do jardim foi fácil. Lembrou-se do sentimento ao matar a empregada: os gritos da vítima, a vítima a tentar debater-se mas sem conseguir evitar as investidas da faca de cozinha que Luke lhe enterrava no pescoço enquanto se ria. A adrenalina correu-lhe nas veias, sentiu-se completo, feliz. Como se estivesse a fazer algo muito certo. Como se todo o vazio dentro de si desaparecesse conforme o sangue corria.
Os dois corpos foram depositados nos buracos profundos anteriormente cavados e Luke sentou-se à frente destes. O pôr do sol já se via lá ao fundo e tornava aquela cena inevitavelmente mais dramática do que Luke a sentia. Só queria livrar a irmã de problemas. Não queria que os afastassem, mas também não queria que esta crescesse no ambiente de dor e de loucura. A doença de Luke era complicada e funcionava de uma maneira que nem a sua irmã entendia.
Mas isso significava que não podiam ficar juntos...
Significava que ela teria de namorar com outra pessoa, dormir com outra pessoa, casar-se com outro... Ter filhos com outro. Nunca. Nunca o permitiria. Mataria todos os que se aproximassem dela. Todos os que ousassem tocar-lhe. Só ele o podia fazer.
Mas isso não seria uma maneira terrível de pensar? A irmã teria de abdicar da sua felicidade em prol da de Luke.
Era isso que ele queria?
Talvez...

[editing] for the love of my brother ¦ LUKE HEMMINGS ¦Onde histórias criam vida. Descubra agora