// quinto

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/Amnesia\

O toque do telemóvel soava estranhamente irritante naquela manhã.Grunhi de frustração, percebendo que o ia ter de acabar por atender. Queria ter a oportunidade de dormir mais um pouco. Os acontecimentos da noite passada tinham-me posto nervosa e confusa e preferia nem sequer pensar neles. Os lábios de Luke nos meus, o frio que sentira na barriga, o desejo que sentira por ele, o quão queria que ele não fosse meu irmão... Estaria eu doente, ou seria só pelo facto de sermos tão próximos? Todas as minhas amigas que tinham irmãos odiavam os seus irmãos e não eram nada próximos. Será que estava a confundir tudo por sermos demasiado próximos?

Talvez.

Talvez fosse só confusão da minha cabeça.

Tentei adormecer de novo, evitando pensar no que se estava a passar na minha cabeça. Infelizmente o telemóvel não parou de tocar e eu não consegui adormecer. Bufando, virei-me na cama, trazendo os lençóis atrás de mim e atendi o telemóvel, sem sequer ver quem me estava a ligar.

"Sim?"

"Amnesia? É o xerife Herrickson."

Okay. O Luke ia-se passar quando soubesse disto. Ou talvez, depois do que aconteceu ontem, fosse melhor o Luke não saber de nada sequer. Ele já odiava Herrickson, mas saber que ele tinha o meu número de telemóvel e me ligava... Bom, isso ia ser um bocadinho de mais para os nervos dele. E ele devia estar muito enervado e chateado pelo nosso beijo ontem à noite. Seria melhor não piorar a situação.

"Estou ocupada." Não gostava de Herrickson. Não confiava nele, não gostava dele e não gostava do facto de ele se tentar intrometer nos assuntos da minha família. A forma como ele olhava para mim e a forma como falava para o meu irmão ainda me davam menos vontade de lidar com ele. E lidar com eles a um Domingo de manhã a meio das férias não estava definitivamete nos meus planos. Além do mais, depois da situação de ontem, a minha vontade de falar com qualquer pessoa era nula. "A minha mãe também não está em casa."

"Não é com a tua mãe que quero falar Amnesia, mas sim contigo. E se viesses ter comigo à estação da polícia?"

"Já lhe disse que estou ocupada. Na realidade, tenho de ir mesmo agora."

Porque é que ele insistia? Ainda não tinha percebido que eu o odiava e que Luke lhe destruíria a estação inteira da polícia se soubesse que eu tinha tido qualquer tipo de contacto com ele?

  "Não queres saber quem assassinou o teu pai, Amnesia?"  

A pergunta apanhou-me de surpresa, mas por outro lado também não fiquei surpreendida. Claro que ele ia fazer jogo sujo. Era típico dele, usar joguinhos psicológicos para eu me ficar a sentir culpada por não ser a filha perfeita ou por não me dar muito bem com a minha mãe. Ele fazia sempre aquilo. Mas não conseguia deixar de ter curiosidade em saber mesmo que alguém tinha assassinado o meu pai. E se fosse verdade? E se o assassino do meu pai quisesse ajustar contas comigo e com Luke? Estariam as nossas vidas em perigo?

"Eu não tenho muito tempo, Herrickson. Apareço aí se tiver tempo."

Por mais que o meu cérebro me dissesse para eu ficar em casa, não ir ter com Herrickson e esperar por Luke, não foi isso que fiz.

********

"Fico contente por teres vindo, Amnesia! Tenho a certeza que serás uma peça essencial neste puzzle sobre a morte do teu pai." Os meus olhos reviraram-se, mas Herrickson pareceu não dar muita importância a isso. Já estava habituado a que eu o odiasse e não parecia muito importado com isso. Naquele momento parecia mais importado com as minhas pernas, o que me fez abraçar o meu corpo. Nenhuma mulher se devia sentir assim, com medo e vulnerável, à frente de um homem. Só porque estava a vestir roupas mais curtas não queria dizer que ele podia olhar-me daquela maneira perversa e nojenta. Luke ia ficar muito chateado.

"A única razão pela qual vim foi para pedir-lhe que acabe com esses rumores de que o meu pai foi assassinado, Herrickson." Mantive a postura. Eu sabia falar com as pessoas, era boa naquilo. Ele era só o xerife e o amante da minha mãe, mais nada, e não me ia fazer mal nenhum. "Isso não é bom nem para mim nem para a minha família."

Desta vez, não se riu ironicamente como esperava que se risse. Na realidade, ficou a analisar-me por uns segundos até decidir finalmente falar.

"Podes acreditar no que quiseres, Amnesia, mas estás mesmo disposta a arriscar a tua segurança? A segurança de Luke? Sem querer alarmar-te, há fortes indícios que apontam para que o Luke possa ser a próxima vítima. Afinal, ele é o herdeiro da herança do teu pai..."

Bluff. Ele estava a fazer bluff.

"O que o leva a crer que vou confiar em si ou acreditar na história que me conta?" Atirei.

"A coisa mais importante da tua vida é o teu irmão, não é? Tu estás sempre por casa, Amnesia. Ouves e vês coisas em que os outros não reparam. E tudo pode ser essencial na investigação. Só quero ajudar a tua família, Amnesia."

Não conseguia acreditar nele. Mas Herrickson continuou o seu discurso, e eu deixei. Deixei pelo seu tom extremamente sério e profissional. Um tom que nunca vira nele.

"Não gosto do Luke, não simpatizo contigo, mas gosto da tua mãe e sei que ela ficaria desvastada se acontecesse algo à sua família. Por isso, Amnesia, diz-me, pelo bem do Luke: há alguma coisa que tenhas visto que me queiras contar? Esquece que sou o Herrickson que anda com a tua mãe e que o teu irmão odeia. Pensa em mim como o Xerife da cidade a tentar fazer o seu trabalho."

Pus as mãos nos bolsos do casaco que vestira por cima do vestido à pressa, tentando encontrar algum conforto no meio daquela confusão toda de pensamentos. Sem querer, apalpei o papel ensanguentado que encontrara há uns tempos no quarto de Luke. Seria aquilo uma pista que o meu irmão estava em perigo? Deveria dizer alguma coisa?

Aquilo não era nenhuma prova contra Luke. Mesmo que o sangue não fosse dele, podia ser uma prova que ajudaria a protegê-lo. Não o iria prejudicar.

Herrickson continuou a pressionar.

"Aconteceu alguma coisa de estranho? Encontraste alguma coisa de estranho? Qualquer coisa serve, Amnesia... Tudo para ajudar e salvar a tua família!"

O meu irmão beijou-me e eu gostei, se isso contar como estranho...

"Bom..." Era uma decisão difícil. Não confiava nele, não gostava dele, mas e se ele tivesse razão? Ele não mentiria, não arriscaria o seu trabalho tão respeitado como xerife só para irritar Luke. Talvez ele tivesse mesmo razão e o meu pai tivesse sido assassinado e houvesse alguém atrás de Luke. Talvez o papel fosse uma prova crucial. Com as mãos a tremer, estendi-lhe o papel ensanguentado. "Encontrei isto ontem..."

O papel foi-me arrancado das mãos com uma safanão, e Herrickson olhou-me mais surpreendido do que alguma vez o vi.

"Onde é que encontraste isto, Amnesia?" 

"Oh. Nas traseiras. Nada de especial." Menti. Eu podia entregar o papel, mas nunca incriminaria o meu irmão. Apesar de ele não ser capaz de matar o meu pai, sabia que o homem à minha frente faria de tudo para o incriminar e o culpar.

"Muito bem, querida..." Ele não pareceu muito convencido. "Podes ir, vou mandar isto para análise e depois informo-te. Obrigada pela ajuda."

Quando me ia a levantar da cadeira e a sair, este voltou a chamar-me:

"Ah, e Amnesia, o Luke está no hospital. Devias ir vê-lo."

O QUÊ?!


[editing] for the love of my brother ¦ LUKE HEMMINGS ¦Onde histórias criam vida. Descubra agora