s e g u n d o

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"Assassinado?! Assasinado como assim?" Exclamou Amnesia, afastando-se finalmente de mim e expondo-se de novo e de forma corajosa ao xerife. "A autópsia mostrou que a causa da morte foi um tiro; tiro vindo da arma que ele próprio disparou."

As faces de Herrickson torceram-se em puro gozo. Se eu o matar posso dizer que foi em legítima defesa da minha paciência?

"Deixa de ser tão inocente, Amnesia. O vosso pai era uma pessoa muito importante e, numa cidade como esta, estes acontecimentos são notícia por meses e meses. Acham mesmo que deixaríamos toda a população a pensar que havia um assassino à solta? O vosso pai não se suicidou, miúdos; ele foi assassinado."

Revirei os olhos. Não queria saber se ele tinha sido assassinado ou se tinha decidido rebentar os miolos. O que é que isso contribuía para a minha felicidade? O nosso pai estava morto. Morto, enterrado, tinha ido para debaixo da terra. Para quê desenterrá-lo?

"Isso não faz qualquer tipo de sentido." Contrapôs a minha sempre teimosa irmã. Quase sorri ao ver a sua reação. Quando esta pensava muito ou duvidava de alguma coisa ambas as suas sobrancelhas se levantavam, dando um ar quase cómico às suas faces. "Porque é que alguém iria assassinar o nosso pai em tais circunstâncias?"

"Costumas ver séries policiais, miúda? Por vezes os assassinos deixam marcas que os identificam, identificam a sua identidade e o seu crime, nas suas vítimas. E o vosso pai tem uma dessas marcas no seu corpo."

Eu não acreditava em Herrickson nem nas suas teorias de polícia de meia tijela. Aquilo não era Nova Iorque, nem Londres, nem Itália, nem o México. O nosso pai não pertencia à máfia, o acontecimento que chocara mais a população até aos dias de hoje tinha sido o atropelamento de um pombo na passadeira à frente da escola e não havia por aqui assassinos à solta. Muito menos psicopatas que se divertiam a espalhar o terror pela cidade.

"Isso é tudo muito interessante mas nem eu nem a Amnesia queremos saber. O nosso pai era um homem estranho e podia ter marcas estranhas certo?" Sorri ao xerife da forma mais irónica que consegui, e revirei os olhos de seguida. "Claro que sim. Agora vamos dar o baza."

Peguei na mão da minha irmã e arrastei-a dali, rodeando-lhe depois a cintura com o meu outro braço. Só queria ir para casa ver um filme e deitar-me ao lado dela como sempre fazíamos. Mexer-lhe no cabelo, nas costas, nas pernas e...

Mas Herrickson apertou-me o braço com força impedindo-me de completar o meu raciocínio. Por um lado até lhe agradeci. O que estava prestes a pensar era simplesmente nojento... Mas era tão difícil de evitar pensar. Eu não a via como minha irmã. Ela não podia ser minha irmã. Os meus amigos não pensavam estas coisas das suas irmãs. 

Seria eu doente?

Afastei os pensamentos da minha cabeça com uma rapidez do outro mundo; não havia tempo nem eram as circunstâncias certas para pensar em tais coisas. Sacudi o seu toque com violência e olhei para trás, pronto para lhe cuspir em cheio na cara, mas quando olhei este mexia na arma que se encontrava no seu cinto. Oh, por amor de deus, ele está a ameaçar-me? Ele não ia dar um tiro em mim, muito menos em Amnesia; eu matava-o muito antes de ele conseguir. Ele queria conversar em privado? Então íamos fazê-lo.

"Amnesia, amor..." Passei-lhe o skate para a mão. "Vai andando até à beira da estrada, o mano tem de tratar de umas coisas. Já vou ter contigo sim?" Esta acenou, apesar de me olhar desconfiada, e depositou-me um beijo na bochecha. Fiquei, com um sorriso no rosto a vê-la afastar-se aos poucos, com o cabelo a ondular ao sabor do vento e as suas pequenas e frágeis mãos a agarrar no meu skate.

"É curioso. A tua família tem um poder fantástico para se arruinar sozinha. O teu pai conseguiu ser assassinado, a tua mãe dorme com todos e não é amada por nenhum, e tu e a tua irmã..."

Herrickson estava a abusar. A abusar mesmo.

"O que é que estás a tentar insinuar?"

O riso de Herrickson ouviu-se por toda a clareira. Que vontade de lhe espetar um soco na boca. Mas não queria que ele tivesse mais razões para me odiar e para prejudicar a minha irmã. Já me chegava que ele estivesse envolvido com a minha mãe e agora também estivesse a tentar resolver o caso do suposto assassinato do meu pai.

"Vou direito ao assunto. A tua relação com a tua irmã não me interessa. O que me interessa é que tu, Luke Hemmings, mataste o teu pai. E eu vou conseguir prová-lo."

Olhei para ele surpreendido e quase me engasguei na minha própria saliva. Como é que ele se atrevia?! Eu tinha todas as razões para ter acabado com a vida do meu pai, é verdade, mas não o tinha feito. E o filho da puta queria que eu fosse para dentro das grades por uma coisa que eu nem tinha feito.

"Eu não matei o meu pai! Não te atrevas a acusar-me sem provas!" Berrei-lhe na cara, empurrando-o de seguida e fazendo com que as suas costas embatessem contra uma árvore. Vi algumas pessoas a olhar, mas nem quis saber. "Não tentes sequer pensar em culpar-me de algo que não fiz. E agora não estou com paciência. Não nos voltes a chatear mais." Virei-lhe costas, depois da minha súbita explosão de raiva, e comecei a andar na direção de Amnesia, pronto para ir para casa, mas voltei a ouvir o riso daquele gajo. Ponderei a hipótese de lhe atirar uma pedra e de lhe enfiar os dentes pela boca adentro.

"Eu sei da tua doença Luke, não te esqueças. Vão acreditar no polícia respeitável e dedicado ou no psicopata tresloucado, rebelde e apaixonado pela própria irmã mais nova?"

Eu nem queria acreditar. Claro que ele tinha ido buscar a minha doença, mas a minha irmã?! Não, ele não tinha o direito de o fazer. Eu queria matá-lo, naquele preciso segundo, mas em vez disso virei-me para trás e ergui o meu dedo do meio na direção da sua cara.

"Eu estou curado!" O meu grito voltou a ouvir-se por toda a clareira e algumas pessoas voltaram a olhar.

"Os psicopatas não têm cura!" Berrou-me este de volta. "És um perigo para todos à toda volta, incluindo para a Amnesia. E eu juro Luke Hemmings, que vou fazer o psicopata que vive aí dentro saltar para fora!"

[editing] for the love of my brother ¦ LUKE HEMMINGS ¦Onde histórias criam vida. Descubra agora