• d é c i m o p r i m e i r o •

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\Amnesia/

As lágrimas ainda deslizavam pela minha cara quando fui recebida pelo forte abraço da minha mãe assim que saí do táxi. Fui fortemente esmagada contra o seu pescoço e os seus abraços rodearam o meu corpo frágil e cansado.

"Ela magoou-te querida?"

Abanei a cabeça. Não tinha sido a minha avó a magoar-me, mas sim o meu próprio irmão. Todas as promessas, todos os sinais, tudo... Não tinha significado nada. O meu coração estava mais que destroçado.
Não havia ninguém em casa. Não havia sinal de empregadas, de Herrickson, de ninguém.

"Mandei toda a gente para casa fofinha." Explicou-me a minha progenitora, ao perceber os meus olhares de estranheza. Ergui as sobrancelhas; ela estava demasiado querida para mim. E como é que ela sabia o que se passara com a minha avó? Muitas perguntas pairavam na minha mente. "Assim que o Luke me ligou... nem queria acreditar. Aquela mulher consegue ser pior que o teu pai." A minha mãe obrigou-me a sentar no sofá e apressou-se a ir para outra divisão da casa. Quando ela voltou, fui imediatamente tapada com várias mantas e bombardeada de chocolate quente. Que se passava com a minha mãe? De onde tinha vindo aquele carinho todo? "Mas agora já está tudo resolvido e..."

"MÃE!" O berro saiu da minha garganta sem que eu me pudesse controlar. Ela estava a gozar certo? O meu irmão matara a avó e a empregada e ela nem queria saber? "O LUKE ASSASSINOU ALGUÉM, MÃE, E TU ACHAS ISSO NORMAL? 2 PESSOAS MÃE! DUAS!"

Ela olhou-me. Nada além de remorso, dor e cansaço transparecia no seu olhar. Como é que alguém podia achar o gosto especial do meu irmão em matar pessoas normal? Okay. Eu estava a exagerar. Tinham sido 2 pessoas. Não é como se ele fosse um psicopata.
Certo?

"Há algo que precisas de ver, Amnesia. Vem comigo."

A minha mãe levantou-se e saiu mais uma vez da divisão. Estava toda a gente a ficar maluca, só podia. O meu pai morrera, o meu irmão beijara-me, a minha avó tentara matar-me e acabara enterrada no jardim de sua casa completamente queimada...
O que se passava com aquela gente?
Segui a minha mãe, ainda de sobrancelhas erguidas e com todo o corpo a tremer. Onde é que ela me levava?
Subimos as escadas para o piso superior e a temperatura da casa pareceu diminuir quando chegámos ao segundo andar, onde o meu quarto e o de Luke se encontravam.
A meio do corredor, a minha mãe estendeu um braço e carregou num botão escondido. Este era agora bastante óbvio mas, estranhamente, não sabia que ele ali estava. Nunca o tinha visto. De sobrancelhas erguidas, quase fiquei sem conseguir respirar quando uma escada vinda do tecto mecanicamente se desdobrou, caindo a meus pés e convidando-me a subir para uma divisão especial no tecto que eu nem tinha noção que existia.

"Mãe? O que é isto?"

"Antes de subires, quero que me ouças filha." As suas delicadas mãos envolveram-me o rosto. "O Luke não teve culpa de nascer assim. Ninguém teve!"

Afastei-me dela num salto. Que conversa era aquela? "Nascer assim como mãe?! Não estou a perceber!"

Então, a minha mente deu um click.

"Espera... Isto tem algo a ver com o facto de ele ter acabado com a avó e a empregada não tem?"

Um sorriso triste de lado apareceu nos lábios da minha mãe.

"Se subires descobrirás toda a verdade minha querida. Mas isso é algo que terás de fazer sozinha. Qualquer que seja a tua escolha, tens de prometer que te manterás fiel ao que sentes pelo teu irmão neste momento."

Será que ela sabia da minha relação com Luke?? Não. Se ela soubesse não me estaria a tratar tão bem e com tanto respeito. Estaria a espancar-me provavelmente e a enviar-me para um colégio. Ninguém no meu estado normal se apaixona pelo próprio irmão.
Mas eu estava curiosa. Luke magoou-me e o amor que eu sentia não era correspondido, mas era meu irmão. Eu amava-o e iria sempre fazê-lo. Foi por isso que avancei.
Deixei cair a manta pelos meus ombros, ficando caída a meus pés, e pus o pé no primeiro degrau daquela escada. Acima de mim, só havia um tecto e uma divisão nova, escura e pronta a ser descoberta por mim.

"Amnesia..." A minha mãe agarrou-me no pulso. "O teu irmão pediu-me para te entregar isto depois de veres o que tens a ver e antes de o julgares. Devias ler, não interessa o que se tenha passado convosco. Lê isso Amnesia." Entregou-me um pedaço de papel para a mão totalmente amarrotado e um pouco ensanguentado. Torci o nariz. "Ele vai ser sempre o teu irmão que te ama muito, não interessa o que vejas de seguida sim?"

Ela não tinha mesmo noção da dor que aquelas palavras me traziam. Ele era meu irmão, claro. Ele amava-me, claro. Como a sua irmã mais nova.
Mais nada.
Se a minha mãe sonhasse as coisas que nos tínhamos feito... Dois irmãos... Do mesmo sangue... Com origem do mesmo sítio...
Mesmo assim, agarrei na carta e pu-la no bolso traseiro das calças. A curiosidade falava mais alto que a dor.
Subi as escadas a correr e, assim que pousei o pé na nova divisão que me esperava, o alçapão atrás de mim recolheu e fiquei entregue à escuridão e ao desconhecido.

/Herrickson\

"Chefe? Posso entrar?"

A morena que se encontrava em cima de mim assustou-se com o leve bater na porta. Quem seria o incompetente que me estava a incomodar a uma hora daquelas? Grunhi, chateado, e a mulher recolheu as suas roupas do chão e saiu pela outra porta sem mais uma palavra. Boa. Menos um problema para mim.
Kevin, um dos estagiários que trabalhava na esquadra, entrou pelo meu gabinete todo apressado e sem pedir com licença sequer. Puxei o fecho das calças para cima e este olhou-me com cara de nojo.

"O que foi?" Revirei os olhos.

"Foi o miúdo, Chefe. O Luke Hemmings." Este engoliu em seco e evitou olhar para mim. "Matou 2 pessoas e saiu da cidade."

Merda.  Dei um soco na mesa com força, fazendo todo o seu conteúdo saltar.

"Merda. Preciso que o apanhem. Precisamos de culpar alguém pelo assassinato do pai dele."

Andei de um lado para o outro no gabinete. Precisava de uma solução. Rápido. Ninguém podia perceber que quem tinha ceifado a vida ao pai dele tinha sido eu. Ia arruinar todo o meu plano. Merda. Merda. Merda.
Pensa Herrickson, pensa!

"Muito bem." Afirmei finalmente. O meu cérebro nunca me desiludia. "Arranja-me o carro mais veloz que tiveres e dá-me a localização do Hemmings. Vou trazê-lo a rastejar de volta à cidade. Ele não pode fugir do seu próprio instinto."

Mudei a capa, yey. Espero que gostem.

[editing] for the love of my brother ¦ LUKE HEMMINGS ¦Onde histórias criam vida. Descubra agora