d é c i m o q u i n t o

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Flashback on
"Porque é que a Amnesia tem uma nódoa negra no braço, filho da puta?!"

Entrei pelo escritório do meu pai adentro, quase arrancando a porta das dobradiças, e avancei para ele, que se encontrava a digitar qualquer coisa no seu computador portátil. O guarda costas dele, Steven, estava lá presente, e agarrou-me imediatamente, impedindo-me de lhe dar um soco na hora. Partir-lhe o maxilar parecia-me perfeito. O meu pai suspirou, e baixou a tampa do portátil.

"Caiu e aleijou-se. Satisfeito?" Respondeu ele, naquele seu tom rude e autoritário que me dava, honestamente, nojo e uma vontade gigante de lhe arrancar os ouvidos.

"Aposto que sim." ri-me sarcasticamente. "Vamos ver se quando eu te foder a cara também vais dizer que a tua cara caiu e sê aleijou!" Berrei, e voltei a avançar para ele. Steven caminhou para mim e tirou algo do bolso, mas o meu pai fez-lhe sinal. Eu não queria lutar com Steven, queria lutar com o meu pai! "Estou só a avisar-te. Voltas a tocar na minha irmã mais uma vez e eu enfio-te debaixo da terra."

Ia a sair, mas depois ouvi a sua voz atrás de mim.

"Voltas a matar alguém e ponho-te num hospital psiquiátrico."

A vontade de lhe atirar com um cinzeiro à boca foi gigante. E foi exatamente isso que fiz. Gritei, revoltado, e já só ouvi o cinzeiro a bater na parede, a poucos centímetros dele. Merda. Não lhe acertei.
Saí, batendo com a porta.
Flashback off

O céu estava nublado e havia vento, mas não era por isso que a praia deixava de ser linda e de me transmitir uma sensação fantástica. Senti a areia debaixo dos pés assim que caminhei na direção da minha irmã, que já se encontrava a molhar os pés, coberta por uma manta.
Abracei-a por trás e pousei a cabeça no seu ombro.

"Já tinha saudades da praia sabes?"

Amnesia sorriu em direção ao mar. Sabia que ela adorava aquilo. Desde pequena. O cabelo esvoaçava-lhe, e ela estava tão bonita que parecia tirada de um filme.

"E deste cheiro a maresia também."

Abanei a cabeça e apertei-a mais contra mim, rindo de seguida.

"Amor, não há propriamente um cheiro a maresia. O cheiro característico que pensamos ser o do mar é apenas um gás que é libertado d-"

Não tive tempo de acabar a frase. No momento seguinte, a minha irmã já tinha feito os nossos lábios colidir, calando-me com a sua língua. Calei-me com todo o gosto, puxando-a ainda mais contra mim e pousando as minhas mãos na suas ancas. Esta suspirou contra a minha boca.

"Às vezes precisas de ser calado, Luke."

Tentei responder, mas só consegui rir e abraçá-la. Estava feliz. Finalmente feliz. Já não pensava em matar ninguém ou no desejo insaciável que tinha em fazer alguém sofrer. Só pensava na Amnesia. A minha Amnesia.

[...]

"E se fôssemos jantar fora hoje? Já tenho saudades de ir à vila." Estava a chover lá fora e o mar estava um pouco agitado, portanto estávamos dentro de casa. Aquela casa era a nossa única memória boa dos tempos de infância. As paredes estavam cobertas por conchas que eu e a minha irmã encontrávamos espalhadas na areia, e também de desenhos que fazíamos nos dias de chuva em que não podíamos sair. Havia um espanta espíritos pendurado à janela, várias conchas e pedrinhas nos parapeitos e vários vasos com flores cobriam as escadas. O vento urrava lá fora e Amnesia estava entretida a ler um livro no sofá da pequena sala.

"Oh, sim. Lembras-te da Mrs. Tifanny? Podíamos lá ir comer. Não lá vamos há tanto tempo."

Tifanny, ou Mrs. Tifanny, como lhe costumávamos chamar, era dona de um restaurante perto da nossa casa. Era algo muito rústico, aconchegante e agradável. O ambiente era fantástico e desde crianças que íamos lá; ela dava-nos sempre doces e outras coisas que nós adorávamos.
Amnesia lançou-me um sorriso rasgado e voltou a concentrar-se no livro pouco depois. Sorri também. E, por momentos, achei que ia ficar tudo bem. Mas lá no fundo sabia. Sabia que, para a minha doença, não havia finais felizes. Só um grande e triste buraco vazio, só uma infinita tristeza e uma cela numa prisão ou num hospital psiquiátrico. A minha doença acabava sempre, sempre, sempre em dor.
E a triste parte é que eu não a conseguia controlar.
Mal sabia Luke que, naquele dia, talvez tivesse adivinhado o seu futuro.

O próximo vai ser muito melhor que este. Preparem-se.

[editing] for the love of my brother ¦ LUKE HEMMINGS ¦Onde histórias criam vida. Descubra agora