Apenas uma princesa

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Seu braço doía.
A princesa Mary acordou em um lugar escuro e nem um pouco confortável. Ela olhou em volta e percebeu que era uma cela. Embaixo de si, havia apenas um colchão velho estofado com feno.

Ela tocou em seu braço. A flecha passou de raspão, mas ainda doía, os guardas apenas enrolaram um pedaço de pano para estancar o sangue, mas ainda havia a preocupação da infecção.

Ela não tinha ideia do que havia acontecido depois do seu desmaio, mas Caspian não estava aqui e ela ainda estava viva. Imaginou que talvez ele tenha conseguido escapar e a prenderam para servir de isca para ele. Mas ele não podia voltar, seria suicídio. E ela nunca se perdoaria se algo acontecesse a ele por culpa dela.

Horas depois, um guarda abriu a porta para outros passarem enquanto carregavam outro prisioneiro. Por um segundo seu coração parou pensando ser o Caspian, mas na verdade era o seu tutor.

– Professor?!

O jogaram na cela ao lado da dela e saíram. Eles ainda podiam se ver e se comunicar, pois a cela era feita de barras.

– Minha princesa, o que faz aqui? – ele parecia bem confuso ao vê-la, diferente da expressão despreocupada que tinha no rosto quando chegou.

– O que o senhor faz aqui? – ela devolve a pergunta.

Ele diz que o seu tio, Miraz, o prendeu por recitar lendas antigas, mas eles sabiam que era só uma desculpa. Ele devia desconfiar que o professor os ajudou a escapar. Ela também explica tudo que aconteceu e diz que não sabe onde o Caspian está.

– Agora os telmarinos tem uma vantagem. – ele diz com uma expressão triste.

– Eu sinto muito, foi minha culpa.

– Não, não é sua culpa. Vamos arrumar um jeito de você escapar e impedir que o seu irmão volte. Vocês dois são as coisas mais importantes nesse momento e eu não vou arriscar que se machuquem.

Ele diz isso com firmeza, sempre demonstrou preocupação com os dois. Na verdade, desde que o pai deles, Caspian IX, morreu, o professor era o mais perto que tinham de uma figura paterna. Mas ele estava certo, não era o momento para desistir, não podia deixar o irmão se arriscar, e o conhecendo bem, ele com certeza viria. Era o irmão mais velho, nunca a deixaria para trás.
Ela tinha que pensar em alguma coisa, já leu muitos livros de aventuras e em pelo menos uma dúzia deles havia jeitos de fugir dos castelos. Ela sabia onde ficavam as passagens secretas e sabia passar despercebida, o que ela precisava agora era descobrir como sair da cela.

***

A Mary não comentou com o professor sobre o som que ouviu antes de desmaiar, afinal era muita coisa acontecendo. Mas o que ela não sabia era que a trompa tocada por Caspian era mágica e em algum lugar, bem longe do castelo, passando pela floresta que ficava em volta das ruínas do antigo palácio, chegava à Nárnia a sua salvação.
Os reis e rainhas do passado haviam voltado.

***

O dia seguinte não trouxe nada de novo, mas Mary já tinha planejado algumas coisas para sua fuga. Os guardas não ficavam com a chave o tempo todo, eles deixavam penduradas em outro cômodo, infelizmente longe das celas. Ela pensou que podia fingir estar passando mal por causa do braço ferido e atraindo eles para dentro da cela. Mas se ela tivesse que lutar seria mais complicado.

O professor deu a ideia de que ela tentasse sair no meio da noite na troca de turnos, que ele sabia quais eram, quando ele levava os irmãos para estudar de noite ele acabou gravando os horários. Mas ainda faltava o jeito de abrir a cela.

– Não perca as esperanças, vamos encontrar alguma coisa.

Assim que o professor falou isso a porta anterior se abriu, mas era apenas um guarda trazendo o almoço (ou o que deveria ser um almoço).
Ele deixava os pratos em uma pequena abertura com os talheres enrolados em um arame, para não caírem. Assim que ele foi embora Mary teve uma ideia.

Crônicas de Nárnia: Coração GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora