Verde

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           Desde que comecei a escutar música, o caminho pareceu encurtar-se

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           Desde que comecei a escutar música, o caminho pareceu encurtar-se. Outros fatores também ajudaram-me a acalmar o coração. Chegamos na fazenda lá pelas quinze horas, e o sol parecia me punir por tê-lo subestimado mais cedo. Sempre adorei estar em lugares mais naturais, com muitas árvores, grama verde e luz natural. Mas os mosquitos são como as uvas passas num delicioso salpicão.

           Todos nós saímos do ônibus e as professoras que nos acompanhavam foram nos deixando entrar na fazenda um de cada vez, enquanto faziam a chamada. Azura foi uma das primeiras, claro, e quando entrou permaneceu próxima à porta, esperando a mim e a Lilith. Enfim, quando estávamos todas juntas, do lado de dentro da fazenda, Azura aproveitou para me apresentar a uma colega.

           — Eva, essa aqui é Adrielle. Com dois "eles".

           — Oi! — me dirigi à menina de cachos morenos e pele um pouco mais clara que a minha. — Eu sou Eva. Com um é, um vê, e um á.

           — Oi, Eva. — Adrielle me respondeu de maneira curta, e logo se voltou a Lilith. — Amiga, você ainda tem...?

           — Pelo amor, vocês vão acabar com tudo. Peça a Azura.

           — A mim, não. Que hoje estou nervosa e preciso relaxar.

           — Que tal comprar o seu próprio?

           — Aí, que utilidade eu iria aderir a você? Minhas amizades têm que ter propósito!

           As três começaram a rir. Eu sorri para não parecer encucada com alguma coisa, mas ainda estava meio deslocada, e pensando bastante sobre a situação que eu estava testemunhando. Tia Marta, graças aos céus, chamou a atenção de todos os alunos quando terminou de ditar os nomes da chamada, interrompendo aquela pequena confraternização de Lilith e suas amigas. A mulher pediu para a seguirmos, indo em direção a um moço e duas crianças um pouco mais distantes, em frente a uma casa.

           — Hoje nós vamos conhecer a fazenda de cacau do seu Sérgio, um agricultor de 40 anos que desde pequeno aprendeu com seus pais a cultivar esse fruto tão importante para nossa região e... — ...e blá, blá, blá.

           Pois não consegui evitar. Enquanto andávamos na direção que a professora guiava, aproveitei um momento em que Lilith se afastou de Azura e Adrielle para tirar uma dúvida que estava impregnada na minha cabeça.

           — Você virou aviãozinho, agora?

           — O quê? — ela respondeu, com um tom de voz um pouco mais elevado.

           — Eu perguntei se você virou...

           — Eu ouvi. De onde você tirou isso, garota? Pelo amor.

           — Bom, tirei das vezes que você e suas amiguinhas foram nada discretas ao mencionar isso.

           — Não fala delas no diminutivo, isso é ridículo.

           — Tá.

           Por um momento, eu esperei uma complementação à resposta, mas Lilith não falou mais nada. Porém, como aquela ideia estava me incomodando muito, insisti:

           — E?

           — E o quê?

           — Você virou aviãozinho, agora?

           — Cala a boca, Eva. Não. Eu só... Eu só uso. E às vezes elas pegam emprestado. Não é da sua conta.

           — Por que você se submete a esse tipo de coisa, Lilith? Ainda? E se você for pega com isso guardado? Hein? — eu perguntei, sussurrando.

           — Não te interessa.

           — Como não me interessa? Eu... — É. Realmente não era da minha conta. — Eu prezo pelo bem dos meus colegas e...

           — Para de mentir. - Seu tom era raivoso. — Você só não quer que alguém associe a sua imagem perfeita a gente como eu, não é? Por que você está forçando assunto comigo, afinal?

           — O quê? Eu...

           — Eva — graças aos céus, tia Marta me chamou naquele momento, evitando que eu falasse alguma besteira qualquer. O diálogo me fez pensar que deveria parar de me importar com coisas que não têm nada a ver comigo. — O que você acha sobre isso? — É, não dou tantas graças assim. Eu estava tão dispersa em minha discussão com Lilith que nem percebi quando havíamos chegado ao destino e parado de andar.

           — Bem... Não consegui ouvir direito, tia.

           — Percebi. — Certo, que situação terrível. Consegui imaginar alguns décimos indo embora do meu boletim naquele semestre. E ainda notei Lilith sorrindo de lado. — Como eu ia dizendo, enfim...

           Depois do sermão, tia Marta continuou sua explicação normalmente, mas dessa vez eu a ouvia. Sem realmente escutar, no entanto. Pois eu não conseguia tirar o probleminha de Lilith da cabeça, e naquele momento percebi que ainda ficaria bastante tempo inquieta por conta dele.

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