Péssima ideia

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           — Meu pé, sua porca! — gritei, ao sentir Lilith se esbarrar em mim pelo caminho

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           — Meu pé, sua porca! — gritei, ao sentir Lilith se esbarrar em mim pelo caminho.

           — Você tá com a boca suja hoje, hein!? — ela reclamou.

           — Mas que ideia absurda. Que mundo absurdo! Olha essa árvore — apontei, me encostando num tronco qualquer. — Ela tá azul. A-ZUL — repeti, com ênfase. — Me lembre de nunca mais aceitar algo de você. Mas que diabos... Não sabia nem que existiam tantas cores assim e... AAAAH!

           Durante meus pensamentos altos, sem olhar para o chão, eu acabei tropeçando e caindo. Com o baque do meu rosto contra a terra, dura, e a dor consequente disso, permaneci deitada por alguns segundos, sem me mover. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo: além do mundo estar completamente virado do avesso (literalmente (pelo menos na minha cabeça (ressaltando mais uma vez que foi uma má ideia ter aceitado a sopa de Lilith (e que as más ideias estavam frequentes (e é justamente sobre isso que eu ia falar agora))))), eu estava a caminho de um plano suicida e tinha essa noção; a influência de Lilith é abrangente. Nem meus pensamentos estavam conseguindo se conter e respeitar os limites físicos da minha cabeça! Até narrar esse evento me deixa louquinha.

           Uma grande revelação se fez, porém, quando eu levantei a cabeça e reparei que havia caído próximo a algumas caixas com uns objetos desgastados — e as alucinações não afetaram a minha capacidade de dedução. Foi nesse momento que, quando abri a boca para comunicar à minha companheira que os caçadores provavelmente estavam por perto, Lilith me puxou, pelo braço mesmo, com eu deitada mesmo, para trás de uma árvore, me calando.

           — Que é isso, mulher? — murmurei, ou pelo menos tentei, quando Lilith me prensou contra a árvore e usou a mão para calar minha boca. A ouvi sussurrar um "xiiiiiiiiii" por entre os dentes, e então parei de me mexer, que era o que eu estava fazendo na tentativa de me livrar da sua mão-censura, para conseguir ouvir o que é que ela escutava.

           Eram os caçadores. Os malditos caçadores que conversavam alto como alunos num ônibus escolar. Encontramos eles rapidamente. Assim que percebi nossa situação e fiquei totalmente quieta, Lilith foi tirando sua mão do meu rosto aos poucos.

           — Eles estão muito perto — ela disse, olhando para o lado, com seriedade. E então um sorriso malicioso surgiu em seu rosto ao se virar para mim. Sua mão direita estava encostada no tronco da árvore, ao lado da minha cabeça, o que desviou minha atenção da situação e me deixou bastante nervosa.

           — Você que tá muito perto — soltei.

           — Quê? — Lilith franziu a testa, e então eu resolvi passar por debaixo do seu braço direito e ir para longe – mas não tão longe –, enquanto ajeitava meus cabelos e tentava esfriar meu rosto vergonhosamente quente.

Eva & LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora