— Ai, velho, não acredito que estamos correndo de novo! — Lilith disse, enquanto não necessariamente corríamos – estávamos apenas andando um pouco mais rápido, enquanto desviávamos das árvores e de algumas raízes claustrofóbicas.
— Não brinca, Lilith. E de quem é a culpa, hein?
— De quem é o quê?
— A culpa.
— Quê?
— Entrou uma mosca na sua orelha? — Me irritei, virando-me para trás. — Sai de cima de mim! — dei um empurrão ao perceber que minha companheira estava demasiado próxima.
Mas estranhei quando não senti minhas mãos tocarem nada. A cabeça de Lilith estava quase no meu rosto, era como se preenchesse todo meu campo de visão, mas ela não conseguia me escutar e nem eu conseguia empurrá-la. Do nada, a minha vista começou a ficar distorcida, e aquele sentimento começou a me dar ânsia.
— Cadê você? — Ouvi sua voz perguntar.
— Que raios...
Eu esqueci completamente de Lilith quando olhei à minha volta e vi um mundo absolutamente diferente do qual eu estava acostumada. Era como se a natureza estivesse brincando com os filtros da galeria de um celular; uma explosão de novas cores e novos formatos. As árvores pareciam muito mais altas e possuíam copas vermelhas, azuis, amarelas, cinzas... Seus troncos, então, não se diferenciavam na quebra de expectativas. As nuvens que naturalmente pousavam no formato de outros seres passaram a também incorporá-los, quase que interagindo comigo. O chão parecia tremer. Eu não sabia o que estava acontecendo e não sentia que em algum momento iria sequer chegar a saber. Os sons da mata se amplificaram, mas voltei a experienciar um pouquinho da realidade quando Lilith conseguiu segurar em meu braço.
— Que onda é essa? — Perguntei, ainda boquiaberta com o que estava presenciando.
— Eu acho que os cogumelos não foram uma boa ideia.
Normalmente, pensando agora, eu teria entrado no modo raivosa e reclamado com Lilith, dizer que avisei etc. etc. Mas, naquele momento, ver Lilith arrependida enquanto o mundo parecia ter virado de cabeça para baixo só conseguiu me dar vontade de... de rir. E eu ri, como se nunca houvera escutado melhor piada em toda a minha vida. Eu não só ri; eu gargalhei, alto. Minha barriga chega doeu e minha respiração até foi afetada. Ri mais ainda quando percebi Lilith se juntar a mim, não tão agitada quanto eu. Que caralhos estava acontecendo?
— A gente... — Lilith começou a dizer, ainda sorrindo, enquanto se recuperava das risadas. — A gente tem que correr... — Sua fala, no entanto, fez com que nós duas caíssemos na gargalhada novamente. — É sério... — ela voltou a dizer, ainda rindo.
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Eva & Lilith
RomanceJá fazia um tempo que Eva e Lilith não eram mais amigas. A primeira, por ter medo dos próprios sentimentos; a outra, por ser orgulhosa demais. No conforto do ambiente familiar do colégio, elas se davam bem em lidar com a presença uma da outra - mas...