— Eva...
Minha cabeça doía como quando você se joga no sofá e sem perceber se golpeia contra a parede. Só que pior. Porém não me dei conta disso imediatamente, porque meu corpo inteiro doía. Eu sentia minhas veias latejarem e era como se alguma força cruel estivesse apertando meus ossos por dentro. Meus joelhos ardiam, e não pude evitar as lágrimas estimuladas pelo meu tornozelo direito extremamente dolorido. Se estivesse num desenho animado, meu corpo estaria inteiramente sob estrelinhas vermelhas.
— Eva?
A voz de Lilith fez eu respirar com alívio, soltando mais algumas lágrimas que eu estava segurando. Não consegui abrir os olhos logo, mas eu os apertava com força, enquanto arfava em dor. Senti Lilith chegar perto, sentar de pernas cruzadas ao lado da minha cabeça e em seguida puxá-la para seu colo, suavemente. Eu, enfim, consegui abrir os olhos, me deparando com a pele clara da menina manchada pelo marrom da terra, por alguns arranhões e pelo vermelho do pouco sangue que se concentrava em um canto de sua testa.
— Você está bem? — Perguntei, com a voz ofegante e baixa.
— A gente... — ela hesitou um pouco, mas apontou para uma pequena montanha e logo completou: — a gente caiu dali de cima. Não é tão alto, mas não sei é possível subir de volta. Eu acordei um pouco antes de você, não sei há quanto tempo estamos aqui...
— Calma... — eu disse, tentando assimilar as informações.
Meu corpo ainda estava bastante dolorido, mas eu percebi que a dor ia lentamente passando. Menos a do meu tornozelo.
— Meu pé tá doendo muito.
— Acho que você torceu o tornozelo, mas eu consigo consertar isso. Consegue ficar em pé?
— Acho que... sim...? — O meu "sim" soou como uma pergunta, já que eu não sabia se eu realmente conseguia levantar ou não. A dor estava passando, porém devagarinho. Tinha medo de que, se eu levantasse, ela voltasse com tudo novamente, mas aceitei o risco.
Lilith passou seu braço por baixo dos meus ombros, já que eu estava um pouco inclinada por ela ter colocado minha cabeça em seu colo anteriormente. Ela me segurou enquanto descruzava as pernas e levantava, ainda com o tronco inclinado para mim, e tropeçou de leve, pois claramente também estava dolorida. Em seguida, usou sua mão direita para me abraçar de lado, enquanto eu me segurava em seu ombro e tentava me equilibrar na perna esquerda para ficar em pé. Nós duas levantamos por completo e ela me ajudou a andar – pular, na verdade, com uma perna só – até uma rocha alta que estava encostada na parede de terra praticamente reta do pequeno morro. Eu me sentei ali, e Lilith segurou a minha perna direita, a levantando.
Havíamos caído em um lugarzinho com poucas árvores, mas mato alto e várias pedras. Esse lugarzinho, porém, estava cercado por coqueiros e outras plantas, impedindo que nós víssemos uma possível saída dali.
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Eva & Lilith
RomanceJá fazia um tempo que Eva e Lilith não eram mais amigas. A primeira, por ter medo dos próprios sentimentos; a outra, por ser orgulhosa demais. No conforto do ambiente familiar do colégio, elas se davam bem em lidar com a presença uma da outra - mas...