Prólogo

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Olho pelo vidro da janela do 5° andar, a imensidão azul me faz suspirar, daqui as pessoas passeando pela areia parecem formiguinhas, então começo a sonhar:

Eu sou uma turista milionária sob um guarda sol enorme deitada sobre uma espreguiçadeira confortável enquanto tomo uma água de coco, então uma bola cai próximo a mim e sei lá de onde mas aparece um moreno bronze com sorriso de pasta de dente e diz:  como tu é bonita, te quero pra mim, e me tasca um beijo daqueles dignos de cinema, suspiro sonhadora.
- Acorda Rayssa que seu príncipe moreno encantado é esse cabo de vassoura, tá lesa é?
Chamo a minha própria atenção e continuo a limpeza do apartamento luxuoso deixando tudo limpinho e brilhando, vou eliminando área por área, até chegar na piscina, gente rica e suas manias de grandeza, onde que eu ia querer tomar banho de piscina com um mar desses ao lado de casa? Mas vai entender né, terminando aqui eu vou para o quartinho onde eu troco de roupa e coloco meu material da faculdade numa mochila que já está um pouco surrada mas não a largo nem que a vaca tussa, olho a hora no celular e vejo que se eu não correr perderei o ônibus, eu realmente tenho que correr pois a parada é muito longe e a faculdade é mais longe ainda, faço fisioterapia e estou no primeiro semestre.
Passo pela recepção do instituto de ensino público, aqui não é como na escola que tem populares e nerds, mas como em todo lugar existe gente arrogante que vira a cara quando vêem que tem uma condição um pouquinho melhor que a sua e se o pai for o dono de um butiquin que seja, aí passa por cima de ti sem olhar, mas também existem muita gente legal, Brenda é uma delas e já chega colocando os bofes  pra fora e aperriada.
- Ray Ray, você viu o professor de anatomia?
- Te aquiete mulher eu mal cheguei. Respondo colocando minha mochila de tecido jeans feita pela minha mãe, uma artesã de mão cheia, que fez essa mochila quando eu estava no penúltimo ano do ensino médio_ a bixinha tá um pouquinho velha mas dá de usar ( a bolsa no caso) , minha nova amiga faz um movimento no nariz, coça e fareja igual cachorro, me encolho, enquanto os outros alunos vão entrando ela praticamente grita.
- Oxente que inhaca da mulesta é essa?
Todos nos encaram, prendo a respiração por uns instantes, solto e finjo que procuro o tal fedor, mas eu sei que é o meu suor misturado com o desodorante quase vencido que coloquei pela manhã, é nisso que dá comprar as coisas no mercadinho da esquina sem olhar a validade, coloco a culpa mentalmente no meu desodorante e não na falta de banho, todo mundo também procura enquanto a porta se abre e o professor entra, o homem é alto, bronzeado, musculoso e tudo que mainha poderia querer como genro, as maçãs do rosto proeminentes também bronzeadas, fazendo um conjunto perfeito com seus olhos castanho escuros e cabelos também escuros e  cacheados, todas as mulheres suspiram, inclusive eu, pisco algumas vezes pra ver se é de verdade e chego a uma conclusão: _ Tô lascada.
Sua voz forte retumba na pequena sala, e sei que excita as mulheres e alguns boysinhos também, quase cochilo  mas acordo com seu grito.
-... Metatarso são ossos longos que tem a função de ligar os ossos do tarso à falange…- No meio da explicação mesmo com a curiosidade o cansaço bate forte e me belisco com força para acordar, essa é se não a mais importante está entre, as mais do meu curso então não posso nem devo pensar em cochilar, me concentro novamente e não perco o foco até o sinal do intervalo soar, praticamente vôo até a lanchonete e já peço um café, não posso comer nada pois esse mês vou ter que apertar o cinto, Manuela minha patroa de uma das diárias vai viajar para fora do país na próxima semana, então com uma diária a menos não posso me dar ao luxo de sair comendo tudo que tenho vontade.
- Mulher você saiu tão rápido da sala, que avexame é esse doidia.
- Não viste que eu quase ronquei durante a aula, precisava tomar minha dose. Levanto meu copo com o líquido preto como explicação.
- Mai tu é uma abestaiada mermo né, como é que tu cochila numa aula com um prof daqueles?  Ô homi. Ela se abana como quem sente pegando fogo e eu rio da cara dela.
- Eu tava muito cansada amiga, ralei mais que uma escrava hoje e estou preocupada que amanhã eu não vou faxinar a casa da Manuela.
- Eu não pisquei a aula todinha, quer dizer, não pisquei os olhos por que a… ah deixa pra lá.
Eu ouvi Brenda falar do professor o intervalo inteiro, ela assim como eu é bolsista e trabalha em uma loja de materiais de construção, não ganha o suficiente para pagar a faculdade e os gastos com materiais e lanches e entre as apostilas e o lanche ficamos com as apostilas, às vezes eu não tenho condições de pagar a impressão então ela paga e eu tiro apenas a xerox e vice versa, voltamos à aula de psicologia que passa voando, a professora de fisiologia do exercício, já entra gritando, é a aula mais agitada até agora, a professora Sirley é uma mulher baixinha, levemente acima do peso e a pele morena levemente escura perfeita, os cabelos lisos e ondulados joga a turma pra cima com seu jeito engraçado.
Assim a aula termina e todos saem comentando a matéria de fisiologia, todos até esqueceram o professor bonitão da primeira aula, na parada pego o ônibus para casa e me abandono em uma cadeira agradecendo a Deus por haver uma disponível, luto contra o sono e o cansaço mas chega um momento que os meus dois adversários ganham mas o toque do meu telefone me desperta.
-Alô!
-Ray, aqui é a Manuela, tudo bem?
-Oi dona Manuela, tudo bem e a senhora ?
- Não me chame de dona ou senhora Rayssa assim eu pareço uma velha, e sou só cinco anos mais velha que você, enfim, eu estou ligando porque meu irmão chega de viagem depois de amanhã e eu não vou poder recebê-lo, será que você poderia ir em sua cobertura amanhã e deixar tudo cheirosinho do jeito que você deixa o meu apartamento? Pode dormir lá se preferir, lá está há muito tempo sem ninguém mas esse mês já foi uma equipe de limpeza lá e fez a limpeza mais pesada, são apenas alguns detalhes,  e se puder dormir lá e deixar o café da manhã pronto eu te agradeço e pago o dobro.
-Vou sim…
- Aah obrigada, deixarei sua entrada livre amanhã pela manhã e a chave de acesso.
- Ok, obrigada.
-Imagina você que está me salvando, surgiu essa viagem de última hora pra Maceió e eu não vou poder receber o Apollo, estou curiosa pois ele disse que tinha uma surpresa, mas eu não posso adiar a viagem.
-Qualquer coisa eu te adianto o que é e você só faz cara de surpresa.
- Você é terrível. Ela gargalha. - Tenho que ir Ray, boa noite e até breve.
- Boa noite, até!

Uma hora depois puxo a cordinha para pedir parada, desço do ônibus e vejo meu pai no ponto me esperando, ele pega minha bolsa que está um pouco pesada com meus materiais e tudo que eu preciso para sobreviver durante o dia e sigo as ruas perigosas da vila Santa Rosa que é exatremamente perigosa a essa hora da noite.

Aviso: Aproveitem a leitura enquanto o livro está em andamento pois, assim que terminar irei retirar, ainda não tenho previsão para terminar.

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