Vinte e quatro

46 11 63
                                    

– Hum, hum tá tarde, entra pra dentro Rayssa, não é hora de moça direita ficar se esfregando no muro com o namorado não.
Sinto o sorriso de Apollo em minha boca, nos afastamos e sussurramos um tchau, ele dá um último beijo em meu nariz e sai.
– Tô de oi na sinhora ein Rayssa, depois num diga que num avisei.
Do quarto mainha grita.
 – Deixa nossa fia ômi, quero logo é que ela se acerte com esse moço e me dê uma dúzia de netim de zói amarelo.
– Num era você mainha que dizia que eu tinha que terminar a faculdade antes?
– Oxente, num tô dizendo que é agora.
Painho afasta as cobertas e eu me jogo entre eles.
– Oxe minina tu não tem tua cama não? Vai pra ela visse.
– Eita painho o sinhô tá azedo que nem a mulesta hoje visse.
– Ocê que tá durmino fora demais pro meu gosto.
Mainha faz cafuné no meu cabelo e eu relaxo como um gato recebendo carinho da sua dona.
– Tua mãe tá dando muita liberdade pra tu.
– Para de reclamar véio, senão num vai receber cafuné nem quando nossa fia sair.
– Oxe agora mai essa.
– Óia painho, eu vou passar uns dias fora, mas se o sinhô não se agradar posso achar um lugarzinho pra mim morar.
– Que diacho de cunversa besta é essa Rayssa? Tá ficando abilolada é?
Painho se altera, e se senta na cama, a cama deles é a mais gostosa da casa, é a mais quentinha e mais fofinha, e tem o cheiro da mainha.
– Não quero o sinhô acoitando o Apollo pra comprar coisas pra mim não, viu sinhô meu painho.
– Depois ele fala que é eu que tô acoitando ôceis. – mainha acusa painho.
– Eu só disse que tipo de caranga você aceitaria como presente de namoro ué, oxe se o ômi tem dinheiro e tá querendo gastar a toa quem sou eu pra negar, num tem uma semana que te dei aquele e tu já arregaçou o bichim  tudim.
Fico um tempo conversando com eles, fico besta em como meu véim aceitou rápido meu namorado, ele contou como Apollo apareceu em sua oficina pelo endereço que havia conseguido com mainha, saio do quarto deles e vou para o meu, tenho alguns sonhos agitados com a Patrícia tentando esfaquear mainha, o Apollo, ela esfaqueia todo mundo, acordo desesperada e fico rolando na cama até o cansaço vencer.
Acordo com o celular tocando.
– Alô. – Atendo sonolenta.
– Rayssa, aqui é a Flávia, você tem horário pra amanhã?
– Tenho sim.
– Então pode vir amanhã, só que eu vou precisar que você faça comida pros gêmeos.
– Dona Flávia me desculpa mas a senhora sabe que eu não faço comida.
– Eu sei, mas eu não tenho mais ninguém.
É numa dessas que a gente se ferra, se fizer uma vez quer todas as outras, eu tive dó da patricinha que não tinha mais ninguém e olha no que deu.
– Dona Flávia, infelizmente não vou poder quebrar essa pra senhora.
– Tudo bem, eu encontro outra pessoa que faça.
– Boa... – tu tu tu... Ela desligou.
Me levanto, ainda é cedo, mas mainha já fez café e tapioca, esquentou o leite de garrafa que ela compra do seu Jurandir.
– Bom dia fia.
– Sua bença mainha.
– Deus te abençoa mia fia.
Meu telefone toca de novo e dessa vez é meu nego.
– Bom dia, gostosa.
– Bom dia, meu nego gostoso.
– O Adonias está aí, pegue algumas peças de roupa, ele te trará aqui.
– Aqui onde? E da onde você tirou que manda em mim?
– O assunto é sério Rayssa. – ele fala num tom sério e eu fico preocupada.
– Tá, vou escovar os dentes.
Desligo sem esperar sua resposta e rapidamente me arrumo, pego minha bolsa e coloco tudo que eu acho que vou precisar para um ou dois dias, sem perceber que o celular ficou sobre a mesa da cozinha. Entro no carro, cumprimento o motorista e ele dirige tranquilamente pelas ruas do bairro, até chegar na avenida, alguns minutos depois estávamos passando pela orla da praia e seguindo para o resort, procuro o celular para avisar Apollo que estava chegando quando o motorista recebe uma ligação.
– Mas acabamos de sair daí e estava tudo tranquilo. – Adonias fala e sinto sua tensão.
– O que houve? – pergunto a ele, que encontra meu olhar através do espelho retrovisor e desvia.
– Eu não sei...
– Dê a volta por favor. –  ele para no acostamento, respira fundo.
– Não posso... – Sinto que tem algo de errado.
– Por que não? – minha voz sai fina.
– Dê a volta cabra, senão eu desço desse carro e volto de a pé.
– Vou fazer uma... – fico nervosa.
– Por que está agindo desse jeito, vamos dê a volta. – ele passa a mão no cabelo e resmunga.
– De qualquer forma a senhora vai ficar sabendo.
Ele dá a volta, meu coração acelera apertado no peito, tento me distrair olhando as pessoas na calçada, sinto que seu Adonias está dirigindo muito devagar.
– Quê que tá acontecendo ômi, tira o alface do pé, e acelera essa bagaça.
Ele aumenta a velocidade e a cada minuto que nos aproximamos de casa meu coração diminui, assim que entramos na minha rua de longe vejo uma cortina de fumaça próximo a minha casa e minha ansiedade aumenta, quando me aproximo o desespero toma conta, uma nuvem de fumaça e fogo cobrem minha casa enquanto uma pequena multidão se aglomera, antes que eu perceba.
– Mainha... Não... Não. Maiiinhaaa, vejo Lurdes a vizinha mais tranquila e mais próxima da minha mãe.
– Me diga que mainha não está lá Lurdes, só me diga por favor.  – sem perceber aperto a blusa da minha vizinha que também tem lágrimas nos olhos.
– Eu- eu num sei.
Minhas pernas falham, escuto a sirene dos bombeiros, me levanto e tento entrar em casa porém algumas pessoas me seguram.
– Mainha precisa de mim, tenho que tirar ela de lá.
A multidão se afasta enquanto os bombeiros trabalham para apagar o fogo da minha casa, mainha não está lá, eu não estou preparada para perder, alguém me entrega um copo de água com açúcar, perco minhas forças e me sento na calçada de frente pra minha casa, assisto como se não estivesse alí a movimentação dos bombeiros, os vizinhos ajudando a apagar o fogo, sem acreditar.
A cortina de fumaça vai diminuindo e não tenho forças, fico parada observando a casinha onde eu passei minha infância, adolescência e agora a vida adulta, não a reconheço, algumas cinzas e fuligens agarram minha pele, sou cercada novamente pelas vizinhas que ficam de pé ao meu lado, não escuto o que falam, só fico pensando no cheiro da mainha, ontem quando eu estava em sua cama, até o eu te amo que falei ontem antes de sair do quarto, fantasio que ainda estou lá, consigo até ouvir sua voz.
– Ô meu Deus! Perdi tudo.
Respondo desconsolada.
– Eu perdi tudo mainha, eu perdi a única coisa que realmente importa, eu te perdi.
– Que conversa besta é essa Rayssa, não foi tu que colocou fogo na nossa casa não né Rayssa?
– Ainda consigo ouvir tua voz... Mainha?
Percebo que não estou sonhando.
– Maiiinhaaa a senhora tá...
Levanto num salto e corro para os braços dela que sem esperar cai no chão junto comigo.
– Tá ficando maluca minina.
Não me importo com quem está assistindo, rolo no chão com mainha, rindo e chorando ao mesmo tempo.
– Quer me matar Muié? Pensei que a senhora estava – soluço chorando – pensei.
– Eu sei meu amor, eu também pensaria a mesma coisa se eu não soubesse que você tinha saído pra ver seu namorado.
– Opa falou em namorado?
Estava no chão, suja de lama e sobre a mulher da minha vida quando escutei a voz dele, levantei num salto, feliz abraço meu namorado.
– Ela está viva meu amor. – Saio de cima dela e pulo feliz nos braços do meu homem, sem me importar com a sujeira, ele me recebe com um beijo, as vizinhas cochicham.
– E agora minha fia? O que vamos fazer? Nossas roupas queimaram tudo. Seu material...
– Meu material está na minha bolsa.
– E nossas coisas. – saio do abraço do Apollo e encaro os olhos chorosos da mainha.
– Não me importo com as coisas, tô feliz demais que o mais importante está aqui.
– Munda! Rayssa!
– Painho! Como o sinhô soube?
– O marido da Lurdes me ligou e pediu pra eu vim.
Ele nos abraça forte. – Eu sabia que uma hora desses ceis colocava fogo nessa casa, e agora?
– Agora a gente constrói tudo de novo.
– Rayssa! Quem é Rayssa? – um moto taxista para próximo a nós na calçada.
– Sua amiga Brenda mandou te entregar.
Ele me entrega um envelope, acho estranho, a Brenda nunca mandou me entregar nada, abro o envelope e vejo algumas fotos da casa pegando fogo.
– Que brincadeira é essa?
– O que tá escrito aí minha Ray?
Apollo Pergunta.
– Da próxima vez será com todos dentro.
Uma ânsia de vômito sobe em minha garganta, vomito o almoço enquanto as vizinhas observam de longe.
– Essa não é a letra da Brenda. – consigo falar. – Eu vou matar alguém, me segura Apollo.
Minha garganta trava, mas engulo as lágrimas, com o rosto no peito do meu namorado, e solto um grito de raiva aproveitando a distância dos meus pais.
– Guarde um pouco dessa raiva pra descontar na cama. – Apollo sussurra em meu ouvido.
– Minha boca está amarga.
Apollo fuça os bolsos e tira uma barra de chocolate, o encaro incrédula.
– Digamos que sou um pouco chocólatra.
– É por isso que seu beijo tem gosto de chocolate, por isso que eu ando tão viciada.
– Não vai dar pra dormir aqui hoje.
Só então percebo que está escurecendo.
– E agora? – Sussurro.
– Qual é a dúvida linda?
– Pra onde vamos, perdemos todas as roupas.
– Vamos pra minha casa.
– Eles não vão querer ir.
Apollo se afasta e conversa com dois bombeiros, pouco tempo depois meus veínhos saem da casa que agora parece mal assombrada, minha mãe soluça.
– O que foi mainha? – Pergunto preocupada.
– Os bombeiros falou que não podemos ficar aqui, as parede pode caim em cima de nóis.
– Vocês vão pra minha casa.
– Não vamos não.
– Mas painho, a casa vai cair em cima de mainha e esmagar ela.
– É verdade. – seus ombros caem e ele parece derrotado.
– Não se preocupe, meu apartamento é grande.
– Tá bom, então vamo logo que eu num aguento mais óia pra minha casinha assim.

Aviso: Aproveitem a leitura enquanto o livro está em andamento pois, assim que terminar irei retirar, ainda não tenho previsão para terminar, porém já estou avisando, pois não irei aceitar nenhum pedido para repostar.

Beijos 😘😘😘 muito obrigada minhas leitoras participativas 😍😍😍😍

Nos Braços De Apollo Onde histórias criam vida. Descubra agora