Vinte e cinco

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– Não queremos incomodar. – meus veínhos ainda tentam argumentar.
– Vocês me receberam na casa de vocês na madrugada, dormi, tomei café da manhã, jantei na mesa e fui tratado como se fosse da família, então não estou me sentindo incomodado, de qualquer forma adiantamos as coisas, normalmente os pais da noiva ou namorada vão jantar com a família do pretendente, infelizmente não tenho mais meus pais e minha irmã Manu está nos Estados Unidos, então vai ter que ser só nós mesmo. – Apollo faz seu discurso e eu fico boquiaberta, admirando o homem que dirige ao meu lado, coloco minha mão sobre a sua, agradecida, Apollo é lindo.
– Imagina, você ajudou nossa fia de madrugada, era o mínimo.
– Não fiz nada demais.
– Fez muito, quando é com nossa única filha.

Chegamos ao prédio luxuoso onde Apollo mora, andamos até o elevador, seguro cada mão dos meus dois veínhos, eu os amo e antes que aquela louca faça alguma coisa eu a encontro e mato, ela vai achar uma mais louca que ela.
Entramos no elevador e eles me agarram.
– Essa caixa vai cair com nóis dentro Rayssa. – painho tenta sussurrar, mas mainha escuta.
– Deixa de ser besta, seu abestado que isso aqui num cai não.
Ela fala nervosa, olho para Apollo e ele torce o rosto pra  ninguém ver que está sorrindo.
– Não minha gente, fiquem tranquilos visse, o elevador é seguro.
O elevador para e faz um Piimm, mainha da um salto no lugar e sorri sem graça, e salta pra fora do elevador assim que as portas se abrem, junto com painho.
– Sua casa é bonita, parece de novela.
– Muito obrigada, não é tão aconchegante quanto a de vocês. – Apollo responde.  – Sejam bem vindos e fiquem à vontade. – Apollo já mostrou que não tem frescura, então tento agir naturalmente em sua cobertura.
– Rayssa mostre o quarto dos seus pais, vai precisar de uma limpeza, enquanto isso vou fazer algumas ligações.
Apollo me dá um selinho e sai, me deixando com meus pais.
– Ô minha fia e agora? Não sobrou nada e agora?
– Não tinha roupas no varal mainha?
– Não, peguei tudo antes de sair, eu não sabia se ia chover.
– Não estamos no tempo de chuva.
– Eu sei, mas eu fui na venda e não queria deixar nada fora de casa, queimou tudo nossas coisinhas Ray... – mainha volta a chorar.
– Vamos reconstruir mainha.
– Não vamos mais chorar o leite derramado, vou pedir um aumento pro Geraldo e vamos reconstruir nossa casa.
– Vou procurar um serviço de carteira assinada, tudo vai se resolver a senhora vai ver, vem vamos arrumar o quarto de vocês.
Subo as escadas com eles e abro a porta do quarto que ocupei da outra vez que dormi aqui, está do mesmo jeito que deixei, mostro o banheiro.
– Os sinhores podem tomar banho, nesse armário tem roupões, por enquanto podem usar, ou usem a mesma roupa, vou ver se consigo algumas roupas pra vocês.
– Fia, não quero incomodar seu namorado.
– Apollo não nos convidaria se considerasse incômodo, e é melhor dormir aqui do que depender daquelas fofoqueiras que só prestam pra falar mal, e na hora que querem, quando realmente precisamos não abrem aqueles bicos de galinha velha delas. – respiro fundo contendo a raiva.
– Ninguém viu a senhora saindo, mas quando eu vomitei de nervoso e estresse já estavam dizendo “tadinha perdeu tudo e ainda tá grávida”, só não voei naquele pescoço gordo da Dulce porque eu já estava ruim.
– Deixa pra lá minha fia, não vale a pena.
– Por isso que eu prefiro ficar aqui, até conseguir um emprego fixo e alugar uma casa enquanto painho junta dinheiro pra reconstruir a nossa.
Escutamos uma batida, escancaro a porta.
– Encontrei essas peças, talvez sirva no teu pai, ele é um pouco mais magro, vai ficar grande, mas deve servir.
– Obrigada meu fii. – mainha agradece com lágrimas nos olhos, desvio os meus evitando chorar também.
– Depois arrumo algumas pra senhora dona Raimunda.
– Não precisa não meu fii, o que tu tá fazendo já é muito.
– Imagina. Rayssa, vou precisar de você, pra ir no mercado comigo, aqui é seguro, pode deixar seus pais tranquilo.
– Tá bom, tô indo.
Ele sai e eu falo com mainha.
– Na sala tem uma varanda, se eu não sei se dá pra ver o mar a essa hora, fiquem a vontade.
Saio do quarto e acompanho Apollo que estava me esperando na porta, até o elevador.
– Se eu não me engano... Só tem dois quartos na cobertura.
– Sim... – Falo distraída enquanto Apollo dirige, ele permanece calado.
– Isso quer dizer que...
– Hoje é dia de Pollo fazer festa. – Quê?
– Quem é Pollo. – me faço de desentendida, e o safado sorri de canto e olha para baixo, o acompanho e vejo o volume protuberante em seu short jeans branco, meus olhos crescem com a visão.
– Deixa de taradisse Apollo, estamos entrando no estacionamento do supermercado!
– E daí, será que alguém veria se... – me apavoro com a sugestão.
– Nem pensar, oxente te controla ômi.
– Só um pouquinho vai, ninguém...
– Nem a pau Juvenal, seremos presos por atentado ao pudor, fazer sexo em locais públicos é crime, e não quero voltar na delegacia tão cedo. – falo sem fôlego, sentindo minha calcinha molhada ao descer do carro, junto com os seguranças que agora nos acompanha de longe, eles entram disfarçados, esperamos um pouco e entramos também, o supermercado é grande e tem até seção de roupas.
– Escolhe uma só pra hoje, amanhã a gente compra outras novas e melhores pra ela.
– Pra mim essa é boa. – falo um pouco na defensiva pois uso roupa de feira, me bate uma insegurança, quando percebo que ando muito simples ao lado de um Apollo muito sofisticado.
– Não me leve a mal coração, só quis dizer que amanhã compramos mais, em uma loja de roupas, e você é linda, mesmo se vestisse um saco de batatas.
– Está falando isso porque quer colocar seu Pollo na casinha mais tarde.
– Se não fosse verdade o Pollo não ia querer nem chegar perto da casinha, deixa disso linda, não percebeu que não tenho essas frescuras, sou cabra macho e cabras machos não olha roupa.
Ele me abraça e uma senhora perto da seção de tomates fala alto.
– Ei moça, tudo bem? Quer que eu chame alguém, a polícia?
– Sim, quero que chame a polícia... Pra senhora sua velha intrometida, incarda, incardida, racista do cão. – pego algumas batatas pra tacar nela, porém Apollo segura minha mão, só então percebo que os outros clientes estavam assistindo.
– Não vale a pena, ela é uma velha.
– Por isso mesmo, deve ter anos de atos racistas nas costas por isso anda tão carcunda, essa horrorosa.
– Ei moço se quiser posso depor a seu favor, processa ela. – Um jovem de óculos grita da seção de cebolas.
– Eu sou advogado, se quiser podemos processar ela.
– Ela tá fugindo. – outro grita.
– Foge não sua véia insebada.
– Obrigada pessoal, mas não vale a pena, é um processo longo, e ela já está muito velha pra entender o significado do que é e do que o racismo causa, o dia já foi muito agitado, e só quero ir pra casa curtir minha mulher e meus sogros, mas agradeço a todos.
Uma única palavra martela em minha cabeça, ele disse “Sogros” como é que respira mesmo?!
– Ray larga essa batata minha linda, vamos.
Saímos da seção de verduras e fomos pra seção de carnes, Apollo compra um peixe sem espinhas para fazer com as batatas no forno, já imagino ele brigando com mainha pra ver quem vai cozinhar, aposto que ela ganha, me pego sorrindo com o pensamento.
– Coloque o cinto coração.
Já havia passado pelo caixa, quase bati na atendente com cara de tixé sujo, estou com os nervos em frangalhos.
– Comprei um óleo corporal, não é dos melhores, mas vai me ajudar a fazer você relaxar.
Ele sorri me encarando com seus olhos dourados, o homem é fogo puro, basta um sorriso, um olhar quente e voilà uma Rayssa totalmente em chamas.
– Apollo não faz isso comigo. – não sei se gemo ou mio.
– Fazer o que querida, estou dirigindo...

Sua voz rouca e grave me faz fechar as pernas, enquanto ele estaciona um pouco depois dos seguranças estacionarem, um pouco distante de nós.
– Desce coração, não podemos terminar isso aqui... – ele olha em volta e para onde seus seguranças estão.
– Seu cachorro, fez de propósito né!
Guincho indignada.
– Grrrr – Rosno e saio pisando duro até o elevador, escuto a risadinha.
– Não tenho culpa... – ele para ao ver a aproximação do segurança.
– Senhor, eu levo as sacolas.
Dois armários entram depois do meu namorado e mesmo com eles aqui sinto a temperatura do elevador aumentar, Apollo segura minha mão e faz massagem, e ao invés de alívio eu me sinto em brasas, abro os três botões do vestido justo até a cintura e solto nas pernas.
– Não faz isso, tá piorando... – sussurro porém tenho a sensação que eles escutaram.
– Não vou pedir desculpas. – ele tenta sussurrar mas sua voz grave não permite, meu rosto esquenta, e ele me encara, vejo malícia, e tudo que ele tem vontade de fazer comigo.
– hmmm – tusso pra disfarçar que estava praticamente gemendo e quando as portas do elevador se abrem eu pulo para fora sem esperar os armários saírem, Apollo ri enquanto eu pulo as escadas de dois em dois degraus.
Mainha e painho não estão no quarto, mas também não os procuro, entro com roupa e tudo sob a água fria e fico imaginando o vapor saindo do meu corpo, com um pouco de dificuldade tiro o vestido molhado, sem sutiã, permaneço com a calcinha, pego o sabão e tento ser rápida para não acabar me...
– Ray... Ô querida, deixe pra mais tarde, prometo que valerá a pena. – Apollo abre a porta me causando um pequeno susto.
– Vem resolver agora vem.
– Não, não seus pais estão lá embaixo esperando o jantar, que está no forno.
– Então casca fora daqui. – jogo o sabão nele, que bate em sua testa e cai no chão, ele me olha com uma cara engraçada.
– Isso é agressão.
– Traz de volta pra mim. – tento novamente fazer uma voz sensual.
– Quero ver você pegar amor vêm, de costas pra mim.
Faço o que me pede, querendo receber algo em troca, porém ele bate a porta com força fechando, olho para trás e ele já não está aqui.  “fugiu, covarde” “quieta esse facho Rayssa, não quer que seus pais escute seus gemidos, quer?
Deus me livre!
Termino o banho rapidamente, ligo para Brenda e falo o que aconteceu, deixando de fora a ameaça com seu nome, pedi que justificasse minha falta na faculdade.
Saí do quarto e encontrei meus veínhos na varanda curtindo a lua cheia brilhando sobre o mar, escuto daqui seus suspiros apaixonados.
Sei que estão tristes, porém eles possuem algumas das coisas mais lindas que o ser humano pode ter, esperança, gratidão, fé, e o amor deles que é lindo.

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