Vinte e Dois

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No carro a caminho da faculdade me lembro da noite anterior, da cara que Apollo fez quando o pedi para ir embora, mesmo sem querer que ele fosse, de como ele ia saindo e pedi que ficasse, de uma coisa eu tenho certeza, não consigo mais pensar em não vê-lo, anseio pela sua presença, desejo sua pele quente na minha, chego na faculdade e Brenda me espera na entrada, desço do carro e ela me encara de queixo caído.
- Obrigada Adonias.
- Ganhou na mega amiga? Andando de motorista.
- Isso é coisa de Apollo.
- Estou louca pra saber o que aconteceu ontem, fora meu porre. Ela fala envergonhada.
- Eu fui deixar você em casa quando estava voltando um carro bateu em cheio no meu, e tive que pedir ao Apollo pra me resgatar. Lembro da nossa conversa de hoje de manhã e me arrependo um pouco daquele discurso de mulher independente depois de ter precisado dele.
- E você, como está?
- Aliviada, depois de tanto tempo cega parece que uma trava saiu dos meus olhos. - procuro em seu rosto sinais de sofrência, porém não encontro.

Entre uma aula e outra olho o celular e nada do Apollo mandar mensagem, desisto de olhar e me concentro nos estudos, esqueço o mundo, amo o que estou fazendo e as aulas são muito interessantes, principalmente genética.
- Bem pessoal, semana que vem começam as provas, então estudem, estudem muito.
- Boa noite professora!
- Boa noite!
Todos saem enquanto eu arrumo meu material, ando em silêncio lado a lado com minha amiga.
- E aí? Você vai aceitar a proposta dele?
- Estou considerando a segunda.
- Eu aceitaria a primeira.
- Não, essa já foi totalmente descartada.
- Se bem que trabalhar pra ele com o adicional de ser comida todo dia é mais vantajoso.
- Eu tô mais praquele ditado onde se come a carne não se ganha o pão, alguma coisa assim, é complicado Brê, o pior de tudo é que ele me fez perder aquela entrevista hoje.
- O que você vai fazer?
- Amanhã eu tenho uma faxina na Patrícia, os outros dias só Deus sabe.
Já perdi dois dias de serviço essa semana.
Chegamos na entrada e lá está Apollo em seus quase dois metros de pura gostosura, as mulheres passam por ele sorrindo e fazendo charme, o que causa incômodo, e reconheço que tenho um pouco de ciúmes.
- Apollo, essa é Brenda, minha amiga.
- Prazer, Brenda.
- Por enquanto o prazer é meu, faz minha amiga aqui sofrer que que você vai ter o desprazer de me conhecer.
Apollo abre seu sorriso arrasador e minha amiga suspira, sim ele é muito bonito e me quer, não sei até quando, mas me quer.
- O recado está dado, longe de mim querer fazer sua amiga sofrer.
Com seus braços grandes ele me puxa para ele, me presenteando com seu cheiro maravilhoso, não posso negar que estou com os quatro pneus arriados por Apollo e essa é a pior fase, é aquela que a gente enxerga só as qualidades, ignora os defeitos.
- Tchau Ray, me liga depois, quero saber algumas coisinhas.
Ela pisca com cara de safada e vai embora, Apollo segura minha mão e me leva até seu carro, um desses carros importados luxuosos que chama atenção e grita: "Ei olha aqui eu tenho dinheiro, sou gostoso, rico e poderoso". Como um cavalheiro ele abre a porta do carro e da a volta.
- Tenho uma surpresa pra você.
Ele está elétrico, ansioso o sorriso aparece vez ou outra, fico ansiosa, ele é muito intenso e está indo muito rápido, é como se não tivéssemos muito tempo juntos e ele quisesse viver tudo de uma única vez.

Ele estaciona em sua vaga e me pede para esperar, abre a porta do carro e coloca uma venda em meus olhos.
- Não quero que você veja ainda, devagar...
Me ajuda a andar e alguns passos depois ele retira a venda, em minha frente está um carro de modelo simples, novo, com um enorme laço e alguns corações, mas o que me chama a atenção é a frase.
Quer namorar comigo?
- Não prometo ser um namorado perfeito, ninguém é perfeito, mas prometo fazer o possível e o impossível para te ver feliz.
Fico muda com sua atitude, o gesto foi muito bonito, porém tenho um pouco de medo de aceitar, o que painho vai dizer?
- Conversei com o seu pai e ele me ajudou a escolher, ele disse que você ia gostar desse, mas o que eu quero saber não é se você gostou do carro...
- Eu aceito, mas não aceito o carro, quero ser sua namorada porque sinto sua falta quando você está longe e quero ficar contigo, mas um carro não é presente de namoro.
Apollo murcha, mas vejo um brilho de desafio em seus olhos.
Ele me abraça e me beija, eu devolvo o beijo, gostoso, quente, ele segura com as duas mãos em cada perna, enrolo minhas pernas em sua cintura.
- O jantar está pronto, quer tomar banho primeiro?

Ele está sério, o maxilar travado me diz que está contrariado.
- Quero. Falo um pouco arredia com sua mudança de humor.
- Você vai ficar com essa cara a noite toda? Me avisa porque se for eu vou embora.
Ele fica ainda mais sério e sexy, jogo a bolsa no sofá.
- Acabei de aceitar ser sua e você já quer uma DR?
Ele desfaz a cara de chateado e sorri um pouco sem graça.
- Não linda, vem cá.
Me beija, carinhoso e mais rápido do que eu esperava me solta.
- Pode tomar banho, vou preparar a mesa, não precisa se vestir.
Tomo um banho demorado, lavo todos os lugares possíveis, passo um óleo corporal que trouxe de casa e saio de roupão em direção à cozinha, porém da sala escuto Apollo ao telefone.
- Não quero que você me ligue, me erra, já falei que não quero nada com você, mas que porra foi só uma vez, me esquece, ouviu.
Ele está quase gritando.
- Não é não, não, estou namorando então não me liga, vou chamar a polícia pra você.
Ele para de falar então eu entro na cozinha, e o vejo com cara fechada, que sorri assim que me vê.
- Tudo bem? - Pergunto para saber com quem ele estava falando.

- Tudo bem, vem cá.
Ele me puxa pela gola do roupão e me beija faminto, esqueço tudo, como a boba apaixonada que sou.

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Dirijo até o apartamento da Patrícia, sorrindo de orelha a orelha pela forma que Apollo me convenceu a aceitar seu presente de namoro, depois de me fazer implorar, gemer e gritar sim várias vezes, a tortura lenta e calculada que ele usou, minhas pernas doloridas, o sorriso de rachar que eu exibo até para os postes revela o que andei fazendo a noite passada, suspiro, quando o sinal de trânsito abre e a tela do celular acende mostrando uma foto dele, sorrindo daquele jeito que molha minha calcinha.
Entro na rua arborizada no condomínio de apartamentos de classe média alta.
Ao passar pelo porteiro que já me conhece e me cumprimenta simpático como sempre, sinto um arrepio na pele, uma vontade de voltar.
Apollo até tentou me convencer a ficar, mas combinado é combinado e a Patrícia havia cancelado alguns dias atrás, então eu sigo até o apartamento.
- Oi Rayssa, estou de saída, deixa tudo do jeito que você sempre deixa.
- Tenho algumas coisas para resolver e já volto.
Ela fala entrando em meu campo de visão, ela me olha e acho estranho o que vejo em seus olhos, há neles um brilho doentio, um ódio que contrasta com o sorriso nos lábios.
- Daqui a pouco eu trago seu merecido dinheirinho.
É totalmente irônica, ignoro a sensação estranha na nuca, ela sempre me pagou pelo aplicativo então acho estranho querer me pagar em dinheiro, mas ignoro e vou direto para o quarto da limpeza pegar o material.
Algumas horas depois, com a limpeza quase finalizada, o estômago reclama então paro para comer alguma coisa, o telefone toca.
- Oi gostosa.
- Oi gostoso, o que está fazendo?
- Fechando uma parceria com um gringo e você? Você não disse onde ia trabalhar hoje.
- Estou limpando o apartamento da Patrícia, estou terminando. -Olho no relógio - São três da tarde então parei pra comer.
- Almocei ao meio dia.
- Rayssa sua danadinha, está namorando na hora da faxina.
Patrícia chega interrompendo minha conversa.
- Rayssa, quero que você saia daí agora.
- Mas... - tento perguntar o que está acontecendo.
- Saia daí...
Em uma atitude inesperada Patrícia toma o celular da minha mão.
- Você não vai a lugar algum Rayssa.
Patrícia está com uma faca na mão.
- Você vai me contar o que fez pra chamar atenção dele, enquanto eu estou há dias correndo atrás desse homem, o que você fez? Macumba?
Fico calada enquanto a loira perde a cabeça.
- Ele me comeu, você sabia? Ele me pegou gostoso bem naquela cama que você trocou os lençóis.
Sinto o gosto amargo do ciúmes.
- Mas agora acha que pode me descartar, e acha que quer você.
Ela ri desvairada.
- Olha só pra você, uma faxineira de quinta categoria.
- Pode falar o que quiser, mas você sempre gostou do meu trabalho, que além de tudo é digno.
-CALA A BOCA! PIRANHA!
Ela dá o primeiro tapa em meu rosto, com a mão que está sem a faca, aproveito seu vacilo e me jogo sobre ela segurando os braços, sou maior que ela então consigo retirar a faca da sua mão, com isso liberto seus braços e ela usa a outra mão para puxar meus cabelos, fecho minha mão em punho e acerto seu olho, com as mãos fechadas acerto várias vezes seu nariz, ela arranca alguns fios dos meus cabelos, mas os solta para tentar defender o rosto, acerto um tapa em seu maxilar e me arrependo ao sentir o corpo da loira relaxar, seus olhos se fecham.
-Oh meu Deus, vixe e agora?

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