Nos Braços De Apollo

Quatorze

Após andar pelas ruas do bairro com meu  "novo" carro, painho precisou trocar alguns parafusos da porta, e o vidro da janela do motorista estava emperrado, deixei ele fuçando no carro e entrei em casa, precisava de um banho, jantar e estudar, estudar muito.

Peguei meu material e comecei a estudar, pego a matéria que eu acho mais complicada e que eu mais gosto, anatomia, sistema musculoesquelético, e no meio do texto começo a imaginar os músculos de Apollo, a forma como seus músculos se contraíam e relaxavam enquanto ele arremetia cada vez mais fundo em mim, a forma como seu abdômen se movimenta, de repente o quarto fica muito quente, a roupa mesmo sendo a mais confortável que tenho, pinica na pele, fecho as pernas, mas a sensação não passa, tento pensar em outras coisas, mas imagens dele sem roupa, me beijando, tocando e me chupando preenchem minha mente, e quando percebo já estou com a mão sobre meu sexo fazendo pressão, tentando não enfiar a mão dentro do short de dormir.
Meu telefone vibra e desbloqueio a tela, uma mensagem de um número desconhecido, porém quando abro o aplicativo a primeira coisa que vejo é um sorriso safado e muito branco, a segunda coisa que vejo é uma foto de um abdômen sarado, e puta que pariu, minha imaginação nunca foi tão boa.

“iaí linda😍, o que está fazendo agora?”
Logo  uma imagem chega ele totalmente comível sem blusa e com o abdômen de fora, e eu perco a cabeça com o que ele fala.

“–Estou de pau duro, pensando em você e nessa sua bocetinha gostosa, se quiser te mando a prova”

“Ô minha nossa senhora das cabritas desgarradas, me ajude a resistir”
“ Cria vergonha nessa sua cara, bicha isibida e vai estudar.
– Estudar como? se eu só consigo lembrar daquele pau gostoso, entrando e saindo...
Falo em pensamento, e já sinto minha respiração falhar.
– Acorda Ray! Você acha que aquele homem vai te sustentar a vida inteira? Ele pode até pensar em algum compromisso com você, mas e você? Quer ficar dependente de macho? E você acha que ele, como empresário rico que é vai querer uma desocupada?”
A razão vem com tudo e ainda por cima com um balde de água fria sobre minha cabeça, que chega a pegar fogo.

“ – Boa noite gato garoto😻, não me tente, também estava pensando nessa sua pica gostosa, mas eu tenho que estudar.”
Logo outra mensagem aparece.
“– Vem pra cá, eu te ajudo a estudar, principalmente o corpo humano, te mostro o quão duro um músculo pode ficar...”
Mordo forte os lábios.
“ – Não me endoida omi...
PS: Estou falando sério, preciso estudar.
Ele digita...
“– Então boa noite gata garota, tente não lembrar das minhas partes duras 😘😘”
“– Boa noite, tentarei😘”

Ele não visualiza, eu tento esquecer, fico imaginando coisas broxantes, tipo a dona Jerusa da casa 25 que sai pra qualquer lugar de camisola e bobes no cabelo, ela enche o cabelo de gordura de porco frita, e só assim consigo esfriar o corpo e voltar a estudar, dessa vez se mais distrações, escuto a chinela da andando pela casa, já havia ajudado a arrumar tudo, porém ela não sabe ficar quieta, eles não me perturbam, temos uma relação muito boa, talvez por ser filha única tentam me mimar como podem, e sou grata a tudo que fazem por mim, o que pra muitos seria motivo de vergonha pra mim é motivo de orgulho, um exemplo é meu carro, a mochila de pano com djeans, e quem quer que me pergunte eu sempre falo que foi painho ou mainha que me deram, ou fizeram, a única retribuição que me pedem é os estudos.
Domingo é dia de feira, então acordamos cedo, hoje o dia amanheceu mais animado, vamos para a feira do bairro, não é tão grande quanto a feira principal,  onde se encontra tudo, mas essa que vamos tem tudo que precisamos, não curto muito a feira da capital, é muito movimentada e cheia de turistas, gosto daqui porque já conheço os donos de quase todas as barracas pelo nome, o domingo passa lento, painho e mainha vão para a igreja de nossa senhora de Fátima, recebo uma mensagem de Marcela, pedindo pra eu ir amanhã, estranho a mudança pois ela havia falado que passaria o mês fora, porém não e da minha conta então, melhor pra mim.

Chego cedo, arrastando minha bolsa pesada, coloco no quarto menor da cobertura, começo a lavar a louça suja, parece que a patroa fez festinha no AP ontem, após organizar a cozinha passo para a sala, que está um pouco bagunçada, vinho derramado no carpete caro, limpo tudo, tiro a poeira, quando ouço a campainha e os passos de Manuela na escada.
–Ray abra a porta por favor.
Ando até a porta e dou de cara com olhos dourados e sou transportada para um quarto, a cama e tudo que fizemos dentro e fora dela, seu olhar varre meu corpo, minha blusa de botões, enquanto eu fico igual uma besta, olhando para ele que sorri de canto, perco o ar com sua beleza, Apollo mexe comigo de uma forma diferente, ele se aproxima e eu me afasto, posso sentir mesmo se estivesse a um quilômetro de distância, o tesão, sua vontade se iguala à minha, chego a sentir seu toque, nítido na minha lembrança de sexta-feira e sábado passado, e é como se fosse agora, o beijo que ficou gravado.
– Oi... – sua voz soa rouca, aveludada e convidativa.
– Oi... – a minha sai trêmula e tímida.
– Maninho, tão cedo? Veio buscar fogo?
A voz fria da Manuela quebra nossa conexão, percebendo a presença da irmã ele desvia de mim, e fico sem saber o que sentir, não sei se fico aliviada ou chateada com sua indiferença, talvez eu quisesse que ele me agarrasse, pegasse no colo e entrasse em um quarto qualquer, fico aérea por alguns minutos olhando para fora do apartamento enquanto eles se cumprimentam.
– Ray... Ray, Rayssa você está me ouvindo?
Me assusto e bato a porta com força.
– Desculpa, foi sem querer.
Acho que estou corando, pois sinto meu rosto esquentar.
– Pois não, dona Manuela?
– Prepare nosso café.
Ela me olha esquisito, e olha para o irmão, entendendo e sentindo nossa tensão, mesmo sem olhar para ele, sinto seus olhos em mim, minha pele arrepia, então levanto os olhos e vejo duas expressões diferentes nos olhares da mesma cor.
Um olhar me queima, revelando o desejo de me beijar aqui e agora, o outro é mais sério, como se percebesse tudo e não aceitasse, e é por causa desse último que corro para a cozinha, com a respiração acelerada, coloco a mão no peito para aquietar meu coração.
“–Não deveria ter vindo hoje”
“–Que vergonha, acho que vou ficar aqui até ele ir embora.”

Nervosa vou pegando as panelas para preparar um crepe e o café, salada de frutas, e tudo que é necessário para um café reforçado, escuto o baque dos saltos e me encolho por dentro sem saber o que esperar, ela vai até a geladeira e pega uma garrafa de água, coloca sobre a bancada, de costas tensa vejo pelo canto do olho ela pegar dois copos.
– Rayssa sente-se aqui comigo.
Faço o que me pede secando as mãos no pano de prato.
– Percebi que se envolveu com Apollo, a química entre vocês é visível e inegável, pelo tempo que te conheço, sei que é uma mulher batalhadora, bonita, que está correndo atrás de um futuro melhor, e também sei que meu irmão é uma pessoa maravilhosa e com um coração enorme, mas ele não está aqui pra ficar, e faz muito tempo que ele não se envolve emocionalmente com ninguém.
– Mas... – ela me corta não permitindo que eu me defenda.
– A não ser que você seja mais ambiciosa do que pensei, e está atrás de um homem rico, já aconteceu isso antes... Mas o que eu quero deixar claro é, meu irmão não vai ficar com você, mesmo que engravide, já tentaram esse golpe antes, descobrimos a tempo que o filho não era dele, enfim, hoje ele está aqui, amanhã do outro lado do mundo, não desista do seu objetivo por causa de uma atração boba que você venha sentir, encontre alguém que tenha uma vida parecida com a sua, objetivos parecidos.

– Manu! Vamos?
Ele grita do outro cômodo.
– Ah... e desistimos do café, pense no que  te disse, seu pagamento vai estar na conta até o final do dia.
Ela sai sem permitir que eu fale nada, falar o que? com a bola de fubá seco entalado na garganta? Escuto algo que me faz encolher ainda mais humilhada.
– Você acredita que tem uma caranga enferrujada estacionada na minha vaga.
As lágrimas brotam e tento engolir o choro, não tive sequer direito a uma resposta, fiquei sem reação.

Quem aí sentiu vontade de por Rayssa num potinho?