4. | CAPÍTULO 4

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- Entra!

- O que é isso? – ele perguntou, sem entender nada.

Mas antes que ele pudesse terminar, empurrei-o com mais força para dentro e fechei a porta, trancando-a rapidamente. Me encostei na porta, estava com os cabelos bagunçados, o vestido amassado e com a respiração ofegante. Fiquei quieta, paralisada olhando para o chão, ainda assustada assimilando tudo que estava acontecendo.

- O que houve?

Ele estava um pouco menos assustado que eu, sem entender porque eu havia empurrado para dentro banheiro. Não consegui responder. Ele se aproximou de mim e arrumou meu cabelo para trás da minha orelha.

- Am, fala comigo. O que houve com você? - insistiu.

Comecei a chorar feito uma criança. Coloquei as mãos no meu rosto e deixei com que as lágrimas caíssem. Estava com vergonha. Vergonha do garoto, vergonha do Mike me vendo chorar. Vergonha de mim mesma. Queria apenas deitar na minha cama e me esconder do resto do mundo. Só conseguia pensar que o fracasso que não foi na escola, estava sendo na primeira vez que eu resolvi sair para uma festa em Los Angeles.

Mike parou de insistir para que eu falasse e simplesmente me abraçou. Se eu não estivesse tão mexida com tudo que tinha acontecido, teria ficado surpresa com a reação dele. Eu abracei-o de volta e deixei com que meu rosto ficasse em seus ombros, enquanto eu ainda chorava.
Após alguns minutos, finalmente consegui parar de chorar, levantei meu rosto de seu ombro e vi sua camisa toda manchada de rímel.

- Me desculpa, Mike. Acho que sujei você. – Virei-me de frente pro espelho, prendi os cabelos em um coque e comecei a lavar o rosto.

- Tá tudo bem, Am. Agora me explica tudo que aconteceu.

Ele se sentou por cima da tampa da privada e ficou me encarando, esperando que eu falasse. Dessa vez, Mike conseguiu apenas mostrar sua preocupação, deixando de lado aquele Mike galanteador que me intrigava. Me senti segura, precisava mesmo conversar com alguém familiar. Era Mike que estava ali agora. Sentei-me na pia e me dispus a falar.

- Você não vai me julgar por isso?

Eu sabia que Mike ia me achar uma idiota por ter desistido na hora que o cara já estava ali, em cima de mim.

- Prometo. De mindinho. – Ele ofereceu o dedo mindinho e me fez rir. Devolvi o meu para que ele pudesse jurar.

- Eu conheci um garoto aqui. A única coisa que sei dele é que se chama Adam e é amigo de um primo da Hilary. Eu estava e talvez ainda esteja tão bêbada, que nem sei como parei com ele num quarto. Eu estava quase pelada, ele estava quase me chupando e eu sai correndo pra cá. –
Seus olhos se arregalaram de espanto conforme eu falava, mas ele me deixou terminar. – Eu nunca fiz isso, com ninguém. E então eu simplesmente caí na real do que estava acontecendo a hora que me deparo com um desconhecido com a cabeça entre as minhas pernas. 

Ele notou que uma ou duas lágrimas caíram pelo meu rosto enquanto eu terminava, então se levantou, parou em minha frente e secou minhas lágrimas, acariciando meu rosto.

- Ei, Am. Para de chorar. Eu sei que você me acha um escroto, mas eu tenho um coração escondido aqui. – Ele abriu um sorriso sincero. Ficou com os olhos fixos no meu e continuou: - Esse cara vai sair daqui irritado com você, mas amanhã ele já esqueceu, e se ele falar mal de você depois, ignora. Você sabe o que você é. 

Eu fiquei quieta, não soube o que dizer. Jamais imaginei que logo Mike estaria me aconselhando nesse momento e não rindo da minha cara de virgem idiota. Do jeito que ele era, imaginava o que ele teria feito no lugar do garoto com qualquer outra menina. Ia ser a pauta de uma conversa zoando a atitude da garota no outro dia com o grupo de amigos. 

Levantei os olhos para olhá-lo, e ele continuou:

- Você é linda demais para estar chorando por isso. Vem, vamos embora!

- Você não precisa perder sua festa por mim, Mike. – eu respondi de imediato.

- Não esquenta, Am. Tá uma merda mesmo. Vamos embora.

Antes que eu pudesse falar mais, senti sua mão quente puxar a minha e me levar para  fora do banheiro, descemos as escadas e sem nem olhar para trás e logo estávamos dentro no carro. Era quase metade do caminho quando quase gritei, lembrando: - Mike, a Kate!

- Você não falou com ela? – ele perguntou.

- Meu Deus! Não! – Disquei o número e liguei para ela na hora., mas ela não atendeu.

- Acho que ela foi para casa. – ele acrescentou, vendo que ela não atendia minhas ligações.

- Merda! Eu ia dormir lá.

- Você quer que eu te deixe na casa dela? - ele perguntou.

Eu concordei e fomos em silêncio até o resto do caminho. Assim que chegamos, as luzes de toda a casa continuavam  desligadas e eu não tinha nem sinal de Kate. Ela não atendia nenhuma de nossas ligações e eu não ia simplesmente entrar na casa dela enquanto os avós dela dormiam.

- O que você quer fazer? - ele perguntou. - Não é uma boa ideia você ir pra casa nesse estado, dá pra ver no seu rosto que você chorou.

- É, eu também acho. Mas não tem o que fazer.

- Você pode ir pra minha se quiser, eu durmo no sofá.– ele sugeriu.

Não era uma atitude que eu esperava, o que até me deixou surpreendida mais uma vez naquela noite. Mas era a única opção.

- Se não for problema para você.

- Vamos..

Me surpreendi muito com as atitudes do Mike naquela noite, talvez ele não fosse tão idiota ou escroto assim. Essa noite foi completamente diferente de tudo que eu imaginava quando saí de casa. Não sabia como lidar com tanta informação em apenas poucas horas. Um mês antes disso, eu estava em Santa Bárbara, mal havia deixado um menino pegar no meu peito em uma festa, e agora estava vivendo a vida noturna da cidade grande. Pensei na Emma e Kenzie e no quão loucas elas ficariam de saber dessas histórias.

Quando chegamos na casa de Mike, subimos na ponta dos pés para não acordar as pessoas que dormiam. Mike me deu uma camisa e uma bermuda dele para que eu pudesse tomar banho e dormir, saiu do quarto e me deixou à vontade para me arrumar.

- Me manda uma mensagem quando eu puder voltar, estou lá em baixo.

Peguei as mudas de roupa e fui tomar um banho.Deixei a água cair sobre meu corpo por muito tempo, a fim de levar todas as sensações daquele dia embora e sentindo com que a tontura e os pensamentos confusos finalmente fossem embora. Mandei uma mensagem para que Mike voltasse assim que fiquei pronta, sentei na cama e o esperei.

Assim que ele subiu, trouxe um copo de leite e um sanduíche de queijo e presunto.

- Trouxe para você.

- Obrigada.

Parte de mim ficou feliz por ter me aproximado dele. Nem nos meus maiores devaneios imaginei que depois de tudo isso, seria na casa de Mike que eu estaria, com ele me tratando de forma tão carinhosa e de bom coração. A imagem que tinha dele era diferente. Não de uma pessoa ruim, claro. Mas que não se importa com nada, e principalmente, com ninguém.

- Você pode dormir aí. – ele apontou para a cama que eu estava sentada. – Eu vou ficar aqui. – Ele disse enquanto ajeitava a coberta no sofá do outro lado do quarto, eu estava tão cansada e esgotada daquela noite que nem contestei sua escolha. Me deitei sozinha naquela cama grande e confortável e peguei no sono em poucos minutos, finalmente dando um fim para aquele dia.

DE REPENTE LOS ANGELESOnde histórias criam vida. Descubra agora